A Falar de São João Baptista

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Ter, 21/06/2005 - 16:22


Este é o santo mais notável do antigo testamento e foram seus progenitores, Santa Isabel e Zacarias e era irmão do apóstolo Tiago.

Ainda muito novo iniciou uma vida de austeridade e penitência, isolando-se, para o efeito, no deserto da Judeia. Após esta purificação, espalhou a sua doutrina junto às margens do rio Jordão, exortando as multidões a fazerem uma vida recta e anunciando, simultaneamente, a vinda próxima do Messias. Por isso, lhe chamaram o precursor de Jesus Cristo. A todos aqueles que mostravam sinais de profundo arrependimento, baptizava-os nas águas do referido rio. Como é sabido, o próprio Jesus Cristo foi baptizado por ele e nesse local, antes de ter iniciado a sua actividade messiânica e redentora.
Ó que lindo baptizado
se fez no rio Jordão,
São João baptiza Cristo
e Cristo Baptiza João.

São João era um homem justo e um profeta persuasivo e a sua fama fez com que o rei Herodes o chamasse para o seu palácio, na condição de colaborador activo. Como homem de carácter, honesto e de sentimentos puros, não aceitou trabalhar com um indivíduo que vivia numa situação incestuosa com Herodíades, tendo denunciado vigorosa e publicamente a situação. Esta atitude valeu-lhe a prisão e, posteriormente, a decapitação, a pedido da rainha Salomé, filha de Herodíades.
Pois bem, contrariando todas estas características, o povo português engendrou em redor de São João Baptista uma auréola de santo brejeiro, reinadio, folgazão, casamenteiro e simultaneamente, namorador, factores que o tornaram um santo muito popular, amado e querido.
O povo dedica-lhe, igualmente, muitas e variadas canções, de acordo com as músicas locais e tradicionais.
São João mandou fazer
uma fontinha de prata,
as moças já lá não vão,
São João todo se mata.

São João chora, chora,
lágrimas de prata fina,
por lhe fugir uma ovelha,
por aquela serra acima.

À tua porta menina
está um laço de algodão,
que foi lá colocado
pelo santo, S. João.

É celebrado, efusivamente, em inúmeras localidades, sendo de destacar a cidade do Porto.
No nosso distrito e que eu saiba, é feriado municipal em Miranda do Douro.
Em Vinhais também se celebrava no largo do Arrabalde, com muita animação. Fazia-se a cascata junto à “Fonte do Cano”, organizava-se a quermesse e o bailarico e lançavam-se os balões. Depois, saboreava-se a sardinhada e o caldo verde, tendo uma grande fogueira como pano de fundo, para os mais ousados e atrevidos executarem os afamados saltos e outras excitantes piruetas!
Durante a noite, os mais foliões, depois de bem comidos e “regados”, apanhavam as orvalhadas e durante a rusga roubavam os vasos de flores que os mais incautos deixavam nas escadas, ou em outros lugares acessíveis. Reapareciam no dia seguinte, a cem, duzentos, quinhentos metros e às vezes a quilómetros de distância.
Donde vindes São João
de manhã tão molhadinho?
Venho de saltar fogueiras
e de apanhar o orvalhinho.

Esta manifestação é uma adaptação cristã do ancestral culto do fogo com que os povos primitivos acompanhavam e celebravam a evolução solar, ao longo do ano. Neste caso, as enormes fogueiras eram feitas para assinalar a passagem do solstício do verão, onde o sol atinge o zénite, o seu máximo brilho e esplendor.

António Afonso