Qua, 03/01/2007 - 10:18
A sobrinha do indivíduo, natural de Picões (Ferradosa), concelho de Alfândega da Fé, assistiu à abertura das portas da ambulância, mas quando olhou para o homem terá exclamado “Este não é o meu tio!”
Trata-se de uma situação embaraçosa para os familiares, dado que tudo aponta para uma troca de identidades das vítimas do acidente de viação, que ocorreu em Novembro do ano passado, em Espanha. Afinal, o homem que chegou ao Hospital de Bragança era Manuel Fernando Santos, de 56 anos, residente numa freguesia do concelho de Gondomar.
Tudo isto poderia ser um procedimento normal, caso este indivíduo não tivesse sido “sepultado”, há duas semanas atrás, na sua terra natal.
O alerta da troca de identidades foi dado pela sobrinha de Altino Gama, o que levou o hospital a contactar a família de Manuel Fernando Santos, que supostamente estava morto, para identificarem o corpo do familiar, que, afinal, está vivo.
A revolta e angústia são os sentimentos dominantes entre entes queridos de Altino Gama, que, agora, têm que esperar pelo desenlace da investigação do Ministério Público (MP) para saberem se o seu familiar está vivo ou morto.
Familiares de Altino Gama aguardam o desenlace da investigação do Ministério Público para saberem se o seu ente querido está vivo ou morto
“Nós já fizemos vários contactos, através dos quais soubemos que o Bilhete de Identidade de Altino está no hospital de Burgos. Mas nos três hospitais espanhóis onde ainda se encontram feridos desse acidente, nenhum deles garantiu que o meu cunhado está lá internado”, lamenta Leopoldino Branco.
A suspeita da troca de identidades entre Manuel Fernando Santos e Altino Gama levaram os familiares deste emigrante transmontano a deslocarem-se a Gondomar, para tentarem desvendar este mistério.
“Apresentámos queixa no MP, onde nos aconselharam a esperar e também nos informaram que é um processo que vai levar algum tempo a investigar, dada a sua complexidade. Mas a nossa suspeita é que os corpos tenham sido trocados”, acrescenta Leopoldino Branco.
Perante a incapacidade de descobrirem onde é que está Altino Gama, os familiares aguardam o desenrolar desta história com ansiedade, mas também com alguma esperança. “Há sempre a hipótese de ele estar vivo”, realça o cunhado.
Mesmo assim, a tristeza é o sentimento que invade a alma de Carminda Gama, irmã de Altino. “É uma situação muito complicada. O meu irmão era solteiro e aqui governava-se bem. Nunca devia ter deixado a terra onde sempre viveu”, afirma a familiar.
Segundo Carminda Gama esta era a segunda vez que Altino ia trabalhar para as obras, para Espanha. “As pessoas da aldeia dizem que o meu irmão foi contrariado. Ele já lá tinha estado uma vez e veio embora porque não gostou de lá estar”, acrescenta a irmã da vítima.
Apesar da incerteza, a vontade dos familiares é trazer Altino para a sua terra natal, quer esteja vivo ou morto. “Provavelmente o meu irmão será o que está enterrado. Mas seja como for queremos que venha para a sua terra. Já que nunca teve sorte na vida, pelo menos que fique na terra onde sempre viveu”, conclui Carminda Gama.