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Eixo Atlântico e Braguinha: Dignos de constar no Guiness

Qua, 31/05/2006 - 15:15


Um conhecido político português, tendo-se deslocado, há meia dúzia de anos, à capital de distrito, por ocasião de uma visita enquanto chefe de governo, ao deparar com a realidade existente, e consciente de que a precariedade era potenciadora, nestas paragens, do fenómeno da desertificação, prometeu aos Bragançanos que havia de por Bragança no mapa.

Goradas as expectativas deste e de outros legítimos desideratos, eis que, nós, gente desta terra, podemos finalmente ver Bragança figurar não no mapa nacional, mas no planisfério. E para que esse honroso reconhecimento seja possível, é tão somente necessário que o responsável autarca promova a candidatura das duas mais importantes zonas de lazer da cidade, o Parque Eixo Atlântico e o Parque da Braguinha, ao famoso e prestigiado livro dos record’s, para que nele constem como sendo os maiores WC’s caninos do mundo, a céu aberto.
Afora um certo exagero próprio deste assumido exercício de desprendimento literário, devo dizer que, correndo o risco de me repetir, se há coisa com a qual me envergonho, enquanto munícipe bragançano, é a de que estes e outros espaços verdes da cidade, que são, diga-se, paisagisticamente concebidos a preceito, e bem tratados, em termos de manutenção, sejam utilizados como autênticos cagadouros e mijadouros caninos – peço desculpa por esta plebeidade linguística –, com a total complacência da autarquia.
Nada tenho contra os caprichos individuais, por mais estranhos e extravagantes que possam parecer. Vivemos num país livre, e, como tal, cada um tem o direito de partilhar sentimentos de ternura e afectividade com quem quer que seja, ainda que com espécies não humanas. Todavia, não posso, de forma alguma, concordar com o gesto excrementoso, profundamente enraizado neste país e, muito particularmente em Bragança, que se cumpre num paciente ritual diário – alterado nos fins-de-semana – em dois períodos, o pré e o pós laboral , de se levar o canídeo a fazer as necessidades em espaços verdes, onde é suposto as crianças brincarem e os adultos desfrutarem de momentos de descompressão e relaxamento. Atitudes deste género, confesso, vejo-as como sendo o reflexo da deformação moral e cívica de quem a elas se presta, porque, além de estarmos perante um caso de saúde pública, atentam contra o mais sagrado dos valores: o respeito pelo próximo – verdadeiro suporte da harmonia em sociedade.
Não é, contudo, segredo para ninguém que a conduta cívica da generalidade dos descendentes de Viriato não é a mais recomendável: o deixar, por exemplo, os contentores do lixo abertos, cujas consequências se conhecem, e o escarrar para o chão, são comportamentos tipicamente portugueses. Como dizem os meus conterrâneos de Vimioso, “está-lhe na massa do sangue”.
Apesar dos insistentes apelos, das múltiplas acções promovidas com o objectivo da interiorização da consciência cívica e do respeito pelo ambiente, até hoje, pouco ou nada mudou. Sendo que, em minha opinião, a justificação para a ineficácia da mensagem passada reside no facto das temáticas em causa não se terem constituído, ainda, como moda; porque no último grito da fantasia social, somos invariavelmente os primeiros, ou seja, somos predestinadamente receptivos a ela. É vermos, entre outras, a tendência instalada e em franca expansão para a continuação dos estudos após o grau de licenciatura; o adereço “masculino” da bolsa a tiracolo; ou, mesmo, talvez a mais pavoneadora de todas, a da “adopção” do prestimoso e afável animal de quatro patas, versão de luxo.
E porque as coisas são irremediavelmente assim, e porque nem toda a gente se dá bem com a imundice, a solução para assegurar o cumprimento das regras da convivência não pode ser outra senão aquela que subscreve e contempla medidas que fazem pensar duas vezes a quem, nas tintas para os demais, se comporta de forma tão abominável.
Por incrível que pareça, o Senhor Presidente da Câmara de Bragança, engenheiro Jorge Nunes, pessoa que tem abraçado, nesta qualidade, as mais nobres causas, e se tem associado às múltiplas iniciativas a favor do Planeta Azul - é ver a mensagem de defesa do ambiente, contida nos placard`S colocados pela autarquia, nas várias entradas do povoado -, nada fez, até à data, para acabar com este sórdido e abjecto hábito, que tão má imagem dá à cidade.
Se à minha humilde pessoa for permitido dirigir um conselho ao nosso ilustre edil, direi, para que Bragança possa deixar de ser vista, devido, essencialmente, à praga canina, na qual são incluídos, como é óbvio, os cães errantes por destino, como uma das cidades portuguesas mais sujas e vandalizadas, o seguinte: conhecida, de ante mão, a inutilidade das duas estruturas, feitas em contraplacado (?), com a dimensão de pouco mais de um metro quadrado, instaladas, à largos meses, em cada um dos parques referidos, assinalados como wc´S caninos, e porque as acções de sensibilização em favor das questões ambientais parecem não resultar, propunha a ideia de se criarem brigadas de fiscalização do ambiente, para, através de multas pesadas, desencorajar aqueles que fazem das zonas verdes e dos passeios públicos verdadeiros defectáculos e mictórios caninos.
Se tivesse a coragem e a ousadia de implementar tal medida, nunca dissociada, naturalmente, da construção do canil municipal, tenho a firme convicção de que a cidade e o ambiente ficar-lhe-iam eterna e imensamente gratos, Senhor Presidente.