“ Economia Global “

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Ter, 01/08/2006 - 16:13


Após um período de pausa relativamente à subscrição de artigos de opinião, chegou a hora de voltar a colaborar com este importante periódico da Região, uma vez que é sempre de salutar a participação de todos nós no que diz respeito à apresentação de temas de interesse geral.

Desde logo, é da Economia Global que se pretende falar neste artigo de opinião, isto porque Portugal continua com “ as costas voltadas “ a este tipo de Economia. Para tanto, é preciso considerar que a Economia Portuguesa se pode decompor em três grandes tipos de actividades: 1ª- A produção de serviços não mercantis, da responsabilidade do Estado, incluindo serviços em que se assegura uma oferta dominante e serviços em que compete com o mercado na sua oferta, dirigindo-se a um segmento específico da população ( ex.: a população carenciada ); 2ª- A Produção de bens e serviços mercantis, mas pouco transaccionados internacionalmente, em que a competição resulta quase exclusivamente da introdução de novos operadores no mercado interno – serviços às empresas, às famílias, de intermediação física, de intermediação financeira, indústrias de rede, etc.; 3ª- A produção de bens e serviços que são objecto de intenso comércio internacional, dos quais se destacam os que integram a “ carteira de actividades “ mais exportadoras do País.
Por outro lado, note-se que a evolução da Economia Portuguesa nos últimos 20 anos tem sido caracterizada por três processos distintos: 1º- Por um forte crescimento do sector não mercantil da economia devido à ampliação das funções do Estado na oferta de “ bens de mérito “ – Educação, Saúde – e na realização de transferências para as famílias, como contrapartida da “ poupança forçada “ recolhida pelo Estado para financiamento da Segurança Social; 2º- Por uma profunda modernização do sector mercantil de serviços não transaccionáveis ( serviços financeiros, às empresas, indústrias de rede, distribuição, etc. ), num quadro de maior competição resultante da entrada de novos operadores instalados no território; 3º - Por uma limitada mudança na “ carteira de bens e serviços transaccionáveis “ trazida quase exclusivamente pelo investimento directo Alemão nos sectores Automóvel e Electrónica.
Desde logo, torna-se necessário fazer um breve apontamento sobre as diversas razões pelas quais Portugal continua de “ costas voltadas “ para a Economia Global. Nesse sentido, note-se que há uma forte presença dos sectores de trabalho intensivos, em que ainda é insuficiente o peso do capital simbólico para diferenciar os produtos, sendo de esperar mais perdas de postos de trabalho no sector do calçado, cablagens e vestuário. Por outro lado, a presença dos sectores dependentes da escala de produção, nomeadamente no sector automóvel, ainda pouco estruturada, dependente de uma grande empresa ( AUTOEUROPA ) e de um conjunto de produtores estrangeiros que em Portugal fabricam componentes, dos quais a maioria são simples ( cablagens, assentos, etc., ). Além disso, uma presença na electrónica centrada em torno de um produto final, como é o caso dos auto-rádios ( Blaupunkt, Grundig, Pionner ), e de um único centro de decisão – o Grupo SIEMENS, com a Infineom e a EPCOS para as outras produções. Por último, uma presença turística ainda muito dependente do produto Sol/ Mar aonde se assiste cada vez mais a uma menor competitividade.
Perante o exposto, é de salientar que a viabilização da Economia Portuguesa tem urgentemente de passar por: “ duas translações e por um transplante “! Em que as duas translações terão que consistir no seguinte: 1ª- Na transferência da oferta de bens de mérito e da poupança forçada dos cidadãos e das empresas para a esfera mercantil, sob controlo regulador do Estado, e com o compromisso deste assegurar a oferta socialmente aceite como mínima e indispensável; 2ª Numa transferência para a zona da “ carteira de actividades exportadoras “ de actividades residindo presentemente na esfera das não transaccionáveis, nomeadamente pela oferta em larga escala de serviços às empresas prestados à distância, pelo desenvolvimento de funções de plataforma logística e placa giratória de movimentação de pessoas e pelo desenvolvimento do turismo residencial ( de estrangeiros séniores e de talentos ) como motor futuro do dinamismo do sector imobiliário. E, por último, o dito transplante terá que consistir no seguinte: Num rápido enriquecimento da “ carteira de actividades exportadoras “ assente na atracção de investimento directo estrangeiro e consolidado pelo crescimento das PME´ S Portuguesas nas mesmas áreas em que o investimento externo se vier a implantar numa crescente lógica de “ Clusterização Induzida “. Em síntese, essa Clusterização terá que estar centrada nas regiões economicamente mais dinâmicas e atractivas do País, em que o envolvimento das outras regiões terá que ser estabelecido pelo próprio Estado.

Hirondino Isaías