Duas pessoas morreram em Bragança alegadamente devido à falta de atendimento atempado do INEM

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Ter, 12/11/2024 - 10:47


Os atrasos no atendimento do INEM já causaram cerca de 10 mortes, duas delas delas foram registadas em Bragança

Segundo explicou o presidente dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (TEPH), Rui Lázaro, o brigantino que acabou por falecer no dia 2 não teve assistência atempada. “O cidadão de Bragança esteve mais de uma hora para que visse a sua chamada atendida, para um AVC. Quando tinha, quer o hospital, quer a viatura de emergência médica, a cerca de dois minutos da ocorrência e não teve assistência imediata. É excessivo dizer com absoluta certeza de que se a sua chamada tivesse sido atendida de imediato, como era suposto, que o desfecho podia ter sido outro. Mas a probabilidade de o desfecho ter sido outro, especificamente neste caso de Bragança, é alta. Agora, passa- do uma hora, infelizmente, já não há nada a fazer”, explicou. O sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar, emitiu um comunicado também dia 2, no qual referia que são recebidas, diariamente, várias denúncias por falta de auxílio causada pela escassez de técnicos. Rui Lázaro, afirmou ainda que estes atrasos “não são novos”, que “se arrastam há mais de um ano” devendo-se “sobretudo, à escassez de técnicos de emergência pré hospitalar”. O presidente do sindicato garantiu ainda que deveriam ser cerca de 1.480, “segundo os quadros do INEM”, mas que neste momento, são “pouco mais de 700”. Por isso, “não é expectável que 700 profissionais possam fazer o trabalho que devia ser feito por 1.500 e da mesma forma, com a mesma eficácia. No caso do Bragança, foi especificamente a falta de técnicos nas centrais do INEM que causou o atraso nesta chamada. A nível nacional devíamos ter cerca de 70/80 técnicos por turno a atender chamadas. O INEM está a trabalhar com cerca de 25 por turno. Esses constrangimentos com estes números são inevitáveis”,disse. Situação que se veio a verificar com a confirmação da decima morte, de um homem de 84 anos de Freixo de Espada à Cinta que acabou por falecer, sexta-feira, no hospital segundo avançou o Jornal de Notícias (JN). Ainda de acordo com o JN, o homem estava institucionalizado na Santa Casa de misericórdia mas, sábado dia 2, terá ido almoçar com a família tendo-se engasgado. Perante esta situação, os familiares tentaram contactar o INEM durante 40 a 50 minutos mas não obtiveram resposta. Acabaram por, eles próprios, levar o idoso ao hospital tendo encontrado uma ambulância a meio do caminho que assegurou o resto do transporte até ao hospital de Mogadouro. Segundo contou o JN, o doente terá chegado em paragem cardiorrespiratória e entrou no hospital em coma. Ao fim de uma semana nos cuidados intensivos do Hospital de Bragança, o desfecho foi trágico, tendo o idoso acabado por morrer esta sexta-feira. O presidente do sindicato do TEPH, Rui Lázaro, disse ainda ao Jornal Nordeste que já foram apresentadas propostas ao Governo, para melhorar as condições dos técnicos e evitar estas situações, mas a resposta obtida não foi a esperada. Segundo o presidente do sindicato, os constrangimentos no INEM são um problema que “se tem vindo a arrastar de governo para governo” e que soluções, como a valorização da carreira e os salários destes profissionais, já foram “apontadas” à Secretaria de Estado da Saúde, tendo a mesma respondido que a carreira destes profissionais iria “eventualmente” ser revista “apenas em 2025”. “Portanto, não adoptam nenhuma medida para atribuir mais profissionais, nem para fixar os que trabalham, hoje, no INEM. Estes atrasos vão continuar e vão agravar. Isto é uma mão cheia de nada”, vincou. Os técnicos do INEM iniciaram, segunda-feira, uma greve às horas extraordinárias que, entretanto, já levantaram após terem reunido com a Ministra da Saúde, Ana Paula Martins, e terem chegado a acordo, que permitirá resolver os constrangimentos dos últimos dias. O INEM, também se foi pronunciando, tendo emitido comunicados nos quais dá conta da situação. O INEM explicou inicialmente que o CODU, Centro de Orientação de Doentes Urgentes, atendeu, entre dia 1 a 3 de Novembro, mais de 2000 chamadas não urgentes, o que complicou a prestação de auxílio telefónico de situações graves. Por isso e devido à escassez de técnicos, pediu às pessoas que contactassem apenas o 112 em caso de situações graves ou de risco de vida e anunciou ainda um reforço do Sistema Integrado de Emergência Médica com 10 ambulâncias de socorro, distribuídas por Postos de Emergência Médica em corpos de bombeiros e delegações da Cruz Vermelha Portuguesa. Entretanto, o INEM deu conta que o tempo de resposta, a dia 9, era inferior a 20 segundos, resultado da implementação de medidas de contingência de modo a evitar constrangimentos na linha de emergência. Nos últimos dias, várias pessoas terão morrido por falta de assistência atempada do INEM. Três casos foram denunciados pelo Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar há cerca de uma semana.

Jornalista: 
Cindy Tomé