Ter, 06/02/2007 - 11:50
E então, se levarmos em conta os enforcamentos de crianças por imitação, podemos e devemos ficar ainda mais revoltados contra o enforcamento em si, a divulgação das imagens e o aproveitamento que delas fez a comunicação social de todo o mundo.
Sou contra a pena de morte. Seja ela aplicada em que caso for. Nada justifica tirar a vida a um ser humano mesmo que ele seja acusado de roubar vidas alheias. Existem outras formas de se fazer justiça não usando a mesma medida. Violência atrai violência.
Penso que D. António Montes Moreira, bispo de Bragança – Miranda expressou a opinião de muitos quando reagiu à morte de Saddam. A Conferência Episcopal Portuguesa corrobora a opinião do nosso bispo, pessoa extremamente culta e que muito admiro.
Ele é contra a pena de morte e também é absolutamente contra o aborto. Tal como ele também sou. Para mim a vida é sagrada, desde o momento primeiro da fecundação até à morte. “A vida é um dom de que não somos donos.” (D. Carlos de Azevedo).
Os vários movimentos que se perfilaram na sociedade portuguesa pelo sim e pelo não, esgrimem argumentos e o melhor é o que defende a vida.
Vejamos: se as mães de Álvaro Cunhal, de Mário Soares, de Jorge Sampaio, de Jerónimo de Sousa, de Francisco Louçã, do Infante D. Henrique, de Amália Rodrigues, de Fernando Pessoa, de Camões, tivessem abortado seríamos imensamente mais pobres, política, histórica, cultural e socialmente.
Mais perto de nós temos o Camilo que marcou a vida de muita gente e principalmente a dos pais, Lena e Octávio, que o amaram e souberam respeitar nas suas limitações.
É necessário e urgente proteger a vida, mas não é prendendo as mulheres que abortaram que se vai atingir esse objectivo. É preciso criar condições para que a vida seja sustentada e suportada com o mínimo de dignidade que todo o ser humano merece. Os milhões de euros que vão ser gastos para a tirar, na construção e apetrechamento de hospitais e clínicas e no pagamento aos técnicos que o vão executar, devem ser utilizados para a conservar. Julgo que não deve haver mulher nenhuma que faça um aborto de ânimo leve.
Não quero crer que haja alguém a favor do aborto, assim como também não acredito que se devam condenar as mulheres, que por qualquer razão, tiveram, em algum momento da sua vida, de o praticar.
A Europa é um continente envelhecido. Portugal tem um índice de natalidade muito baixo. Somos cada vez mais velhos e as gerações não se renovam. É necessário criar incentivos à natalidade e dar à mulher a possibilidade de poder optar pela “carreira de mãe”, pagando-lhe para ficar em casa a cuidar dos filhos. A vida de uma mãe trabalhadora no nosso país é tudo menos fácil. É quase proibido, em muitas empresas, uma mulher engravidar, pois corre o risco de ser despedida.
Criar incentivos à natalidade e dar às famílias condições dignas para poderem ter filhos e criá-los… é aí que reside a solução para muitos dos nossos problemas, tão preocupados que andamos a pensar nas nossas futuras reformas.
Cavaco Silva e a Assembleia da República devem assumir as suas responsabilidades e não lavar as mãos como fez Pilatos. Para quê gastar dinheiro em referendos?
Marcolino Cepeda