Da política de betão ao défice democrático

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Ter, 05/12/2006 - 15:03


O novo presidente da Comissão Política Concelhia de Vimioso do PS, António Santos, diz que é altura de renovar o partido “chamando à vida política activa todos os militantes que integram a estrutura concelhia”.

Um ano depois das Autárquicas 2005, o dirigente não poupa críticas ao executivo camarário e fala em “défice democrático”.
Natural de Carção, o dirigente é funcionário do Centro Distrital de Segurança Social de Bragança e garante que não defende “uma oposição pela oposição”.

Jornal Nordeste (JN): Que projectos tem para mobilizar os militantes, numa altura em que o PS é poder a nível nacional?
António Santos (AS): Não é fácil fazer melhor embora seja sempre possível fazer diferente. O P.S. governa o País, e que bem governa, mas os efeitos positivos da governação não têm grandes reflexos na vida do Partido em Vimioso. Não quero com isto dizer que o Partido Socialista não tenha espaço ou condições para crescer. Bem pelo contrário porque o P.S. é oposição ao executivo Camarário que se instalou no poder e, criando nos militantes e simpatizantes uma cultura de oposição selectiva, estou deveras esperançado de que o movimento de adesões que temos conseguido não vai parar. Naturalmente que este trabalho passa pela credibilização do papel da oposição, por uma lado, ao mesmo tempo que se desmistifica a política enganosa do executivo camarário. Se conseguirmos conciliar estas duas componentes seremos bem sucedidos no trabalho de fazer chegar a nossa mensagem aos Vimiosenses que, nem de perto nem de longe, se podem rever em algumas políticas desastrosas que a Câmara vem implementando.

JN: Num concelho pequeno como Vimioso, é fácil ser oposição?
AS: Dizia-lhe eu que o P.S. ainda não tem cultura de oposição porque se acomodou ao longo dos anos sem ter que suar as estopinhas para se organizar e vencer eleições e, após Dezembro de 2001, deixou que o PSD desencadeasse como que uma revolução Maoista e conquistasse o poder em todos os organismos que podem influenciar resultados eleitorais.
Começam a espreitar alguns vícios resultantes de cinco anos do poder absoluto do PSD. Direi mesmo que o actual executivo enferma já dos mesmos pecados que conduziram o meu Partido à oposição.
A sua pergunta está justificada e reforça-se a ideia que de que num concelho onde quase toda a gente se conhece pelo nome não é fácil fazer oposição.
O poder tem a força que tem e o pequeno favor (ponto de luz à porta, a licença de construção, o ramal de água, o subsídio para a Associação, etc., etc.,) paga-se muitas vezes com apoios que por sua vez se pagam com algumas facilidades. Esta não é a forma de actuar do P.S. no Governo e nós tudo faremos para copiar os bons exemplos e criar em Vimioso um movimento concertado, com alicerces na verdade, para uma alternativa credível ao actual executivo.
De momento tudo faremos para agitar as águas paradas e turbulentas em que se encontra o concelho.

JN: Pensa que as pessoas têm medo de fazer oposição ao executivo camarário?
AS: Eu não penso, tenho a certeza. Compreendo que gostaria que lhe dissesse que em Vimioso existem alguns sinais de défice democrático. Sobre isto, deixe apenas que lhe diga que, por muito menos, a oposição de outros tempos bradava que havia défice democrático em Vimioso.
Hoje há alguns sinais que denunciam isso mesmo. Ainda há bem pouco tempo, a Assembleia Municipal de Vimioso foi convocada sob o pretexto da aprovação de novo empréstimo à banca sem que os vereadores do meu Partido fossem informados.
São alguns dos muitos sinais que todos os dias me chegam de que as regras do jogo Democrático e os direitos das oposições são invertidos por ignorância ou má fé do actual executivo.

JN: Passado um ano de mandato, que balanço faz do trabalho do actual executivo camarário de Vimioso?
AS: Faço parte do grupo daqueles que não defende uma oposição pela oposição. Tudo tem o seu tempo. Quer isto dizer que o PSD teve quatro anos para poder aprender e um ano para mostrar que aprendeu.
Pelos vistos, após um mandato e um ano de estado de graça, o Executivo Camarário aprendeu apenas, e bem, a fazer propaganda do que pensa fazer e não faz, nunca justificando porque não fez.
Em minha opinião, cometeram-se alguns erros estratégicos ao longo do primeiro e segundo mandatos que podem, a longo prazo, comprometer mesmo a viabilidade do município. Por isso, o actual executivo não pode ser avaliado apenas pelo trabalho de um ano mas pelo que não fez durante cinco.
Senão vejamos: a Câmara prometeu acabar com a desertificação humana no concelho, prometeu emprego para todos, prometeu uma zona industrial produtora de riqueza, prometeu a estrada do rato cabrera, prometeu escolaridade obrigatória até ao 12º. Ano, prometeu combater a exclusão social, prometeu criar condições vantajosas para investimentos produtivos, prometeu barragens… durante alguns tempos falou-se de investimentos Espanhóis, propagandeou-se o investimento da associação de produtores de raça bovina Mirandesa, inventou-se o rato cabrera…mas não é apenas grave que nada disto se tenha conseguido, comprometedor e desastroso é não ter havido imaginação para encontrar soluções alternativas.

JN: Recentemente foi aprovado um novo empréstimo em Assembleia Municipal. Concorda com esta política?
AS: Que se veja, apenas nos são dadas a conhecer algumas obras mal dimensionadas, caríssimas e, porque não dizê-lo, por pagar aos empreiteiros.
A continuar esta política de endividamento, naturalmente que estará comprometida a capacidade de produzir porque podemos mesmo ficar inibidos de algumas candidaturas ao novo quadro comunitário por falta de auto financiamento.

JN: Em Vimioso há “Emprego para todos”?
AS: Como lhe dizia há pouco, esta foi uma das bandeiras do PSD mas a realidade de hoje é bem diferente porque na verdade não há emprego e muito menos… para todos.
A política de admissão de funcionários não me surpreende porque como diz o povo sabiamente esmola a Mateus primeiro aos teus. São males de que quase toda a gente peca, apenas me parece que se poderia ser um pouco mais transparente seleccionando sempre as pessoas certas para os lugares certos para evitar ter que emendar a mão ou dar o dito por não dito.

JN: Pensa que tem havido uma aposta na política social no concelho, ou a prioridade é a política de betão?
AS: Sobre isso apetece-me dizer-lhe que acreditamos que Vimioso é um rico concelho embora não seja um concelho rico, acreditamos nas pessoas e é para elas, sempre para as pessoas, que devem ser direccionadas todas as políticas.
Penso que a nossa região só pode ser desenvolvida se forem criados às pessoas mecanismos de criação de riqueza que passa por uma formação de base ensinando a produzir a transformar e a comercializar tudo o que de melhor as pessoas sabem fazer e a terra produz.
Em Vimioso a prioridade parece não ser esta porque se têm ignorado as capacidades e os saberes dos Vimiosenses em troca da política do betão e do endividamento. Talvez por isso não tenham grande expressão ou não existam algumas políticas de combate à pobreza e à exclusão social.

JN: O Projecto de Luta Contra a Pobreza teve continuidade?
AS: Tudo na vida é efémero. O mesmo aconteceu com o projecto de luta contra a pobreza cuja criação e objectivos foi para mim gratificante fazer e que se reflectem hoje na maior bandeira comercial de Vimioso para toda a gente que é a Feira de Artes e Ofícios que o projecto iniciou no ano 2000.
Estes projectos foram substituídos por outros programas de combate à exclusão sem reflexo em Vimioso, a exemplo da rede social, porque o Executivo esquece que o combate à pobreza assenta e só tem êxito no trabalho de parceria com todas as instituições empenhadas em diagnosticar as causas e erradicar ou minimizar os efeitos.

JN: Uma das obras mais polémicas tem sido a estrada Algo-Matela? Pensa que esta empreitada serve os interesses do município?
AS: Não esperava ter que falar mais sobre aquela obra mas, uma vez que me questiona e não tenho por hábito chutar para canto, aconselharei a Câmara a não cometer mais erros destes apenas desculpáveis com razões de inexperiência e alguma teimosia porque esta situação saiu cara ao município que teve que devolver a verba comunitária.
Relativamente ao traçado da estrada… deixo ao critério das pessoas, que circunstancialmente por ali circulam, para de forma isenta, se pronunciarem sobre a sua perigosidade. …É caso para dizer que os projectos são para se cumprirem.

JN: E o Pavilhão Multiusos está a ser devidamente rentabilizado com actividades durante o ano?
AS: Mais uma obra sobredimensionada relativamente à realidade de Vimioso. É megalómana, demasiado cara, por pagar na sua totalidade e não me parece que haja capacidade para a sua rentabilização durante 365 dias por ano.

JN: Poderá ser candidato à Câmara de Vimioso nas Autárquicas 2009?
AS: O futuro a Deus pertence e não posso dizer que dessa água não beberei. Devo no entanto assegurar-lhe que o P.S. tem militantes e simpatizantes que podem ser excelentes candidatos e vencedores. Falta muito tempo para as eleições. Os candidatos devem ter um perfil e um curriculum superior, que eu não tenho por diversas razões de ordem pessoal, e não está nos meus horizontes ser candidato à Câmara embora, como sempre tenho dito, esteja disponível para servir o partido e o concelho a outros níveis porque há mais vida para além da política.

JN: O que é que Vimioso pode esperar do Governo PS?
AS: O governo da Nação tem dado provas de isenção e tartar todos por igual. Estou por isso ciente que a Câmara deve e pode procurar aceder aos ministérios com força reivindicativa, que não tem tido, sempre com objectivos de servir o concelho apresentando projectos credíveis à dimensão de Vimioso. Se assim fizerem dou garantias de que serão bem sucedidos.
Para terminar alguns conselhos:
Não esqueçam que há mais caça para além das zonas municipais e que é possível rentabilizar as potencialidades turísticas, ambientais e artesanais do conselho.
Acreditem nas pessoas e implementem políticas sociais.