Comboios

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Qua, 23/08/2006 - 10:41


A chegada do comboio a Bragança, em 1906, é a prova inequívoca do atraso secular que tem perseguido a região transmontana.

O primeiro comboio a circular em Portugal chegou ao Carregado em 1956, mas foi preciso esperar mais 50 anos para que a primeira locomotiva desse entrada na estação de Bragança.
Entretanto, entre 1856 e 1896 eram lançadas as linhas que haveriam de marcar o mapa ferroviário português, casos da Beira Alta (1882), Oeste (1888), Minho (1877), Algarve (1889), Beira Baixa (1891) e Douro (1887).
Só no século XX a ferrovia começa a ligar outros eixos urbanos, mas quase sempre em linha estreita, como aconteceu em Bragança (1906), Chaves (1921) ou Torre de Moncorvo, outrora servida pela linha do Sabor, que começou a ser construída em 1911. Apenas Mirandela viu o comboio nascer no século XIX, mais precisamente a 19 de Setembro de 1887, vinte anos antes de se completar a ligação a Bragança.
Coincidência ou não, a maioria das localidades que mais cedo começaram a ver passar comboios são as mesmas que, décadas mais tarde, foram rasgadas por quilómetros e quilómetros de auto-estrada. O alcatrão em quatro faixas de rodagem não chegou ao mesmo tempo a Faro, Guarda, Braga, Leiria, Viana do Castelo, Covilhã ou Viseu, mas o certo é que já é uma realidade em todas estas cidades, sem excepção.
E, se Bragança foi uma das últimas capitais de distrito a ver passar comboios será, seguramente, a última sede distrital a constar do mapa de auto-estradas. Pelas contas do Governo, a A4 deverá chegar a Quintanilha em 2012, cerca de 50 anos após ter sido aberto o primeiro lanço da auto-estrada, entre Lisboa e Vila Franca de Xira. Com o comboio a diferença entre a capital e Trás-os-Montes também foi de meio século, pois o desenvolvimento a duas velocidades continua a pautar a “estratégia” do País.
A ferrovia chegou mais tarde a Bragança e Macedo de Cavaleiros, mas, 14 anos antes de se festejar o 150º aniversário do caminho-de-ferro em Portugal, ambas as cidades viam a linha do Tua terminar, novamente, em Mirandela. Afinal, bastaria uma brusca decisão da CP para banir do mapa 79 quilómetros de linha e alguns anos de luta de Abílio Beça e de João da Cruz para fazer chegar o comboio à capital do distrito.