“Combater a perda total”

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Ter, 31/10/2006 - 15:42


Luís Ramos, docente da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), aponta a desertificação das regiões do interior como um dos problemas mais graves do País.

O estudioso sublinha que as perdas demográficas têm um forte impacto nas estruturas das áreas rurais e potenciam a carência de massa crítica o que agrava, ainda mais, a tendência de desertificação.
A explicação para esta temática está, na óptica do responsável, na ausência de actividades económicas e empresas criadoras de riqueza e emprego necessário para a fixação de jovens e atracção de nova população. O problema não está, assim, na falta de infra-estruturas ou acessibilidades. “O interior tem uma boa qualidade de vida e possui bons equipamentos, no entanto, as pessoas não se deslocam atrás disso, mas sim de emprego”, sustentou Luís Ramos. Deste modo, o investimento deveria passar pelo desenvolvimento de actividades económicas que possam atrair mais pessoas. “Embora sejam indispensáveis, as infra-estruturas não são suficientes para assegurar o desenvolvimento social e económico duradouro”, revela o estudioso num documento apresentado no fórum “Que desenvolvimento económico para a inversão da tendência de diminuição da população”, que se realizou em Carrazeda de Ansiães.
Este investimento, na opinião do docente, deve ser efectuado nos centros urbanos, onde os projectos e actividades têm mais probabilidades de serem bem sucedidos. “Será melhor concentrar a população na sede de concelho ou investir vários pontos pequenos”, questionou Luís Ramos.

Estudioso defendeu a importância que a opinião pública e decisores políticos têm para o combate à desertificação do interior

A aposta numa nova relação entre a ruralidade e o urbano e a importância da comunicação social são as bases da teoria defendida por Édio Martins, outro dos oradores presentes em Carrazeda de Ansiães.
Para o docente da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias de Lisboa (ULHTL) a solução para a desertificação do interior do País passará pela articulação entre as áreas urbanas e as rurais e nunca por relações de exclusividade e individualistas. “O mundo rural não pode querer fazer tudo sozinho, pois aí será a sua morte anunciada”, referiu o estudioso.
Cidades e aldeias teriam, assim, que trabalhar em parceria, de forma a dar a conhecer, no País e internacionalmente, as problemáticas adjacentes à desertificação. Aqui, a comunicação social nacional assumiria um papel preponderante, uma vez que os decisores políticos tomariam conhecimento desta temática através deste meio. “Associam-se as capacidades destes territórios de trabalharem em conjunto com a comunicação social, no sentido de passarem a mensagem”, sublinhou o docente.
Deste modo, seria mais fácil que entidades e instituições entendessem que “a problemática do mundo rural é, também, de todo território e, sobretudo, das áreas urbanas”, sustentou Édio Martins. Só assim, defende o estudioso, seria possível que “as pessoas das grandes cidades ficassem a par das dificuldades rurais e passassem a estar mais atentos a estas temáticas”.