CIDÕES descobre convento secular

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Qua, 01/03/2006 - 10:27


Descobrir o património histórico que se encontra coberto pela vegetação, na serra de S. Namêdio, levou três idosas da aldeia de Cidões, concelho de Vinhais, a limparem aquele local.

A ideia partiu de Rita Monteiro, depois de uma visita àquela serra, situada a cerca de seis quilómetros da aldeia, para ver se encontrava o Convento dos Frades que, há cerca de 150 anos, habitaram por terras de Vinhais.
As histórias ouvidas pela bisavó motivaram esta habitante de 64 anos a palmilhar a serra de S. Namêdio à procura de vestígios do convento e de uma fonte que, segundo os mais antigos, está integrada numa fraga onde a água sobe pelo rochedo acima.
Tudo começou há cerca de dois meses, altura em que Rita Monteiro convidou mais duas habitantes de Cidões para visitarem a serra.
“Quando lá chegámos não conseguimos romper com o mato que cobria toda aquela área, então decidimos abrir um caminho pelo meio da serra até chegarmos ao local onde os mais antigos diziam que existiu um convento”, salientou a popular.
A idade não foi um obstáculo para estas idosas, que puseram mãos à obra e cortaram a vegetação que impedia percorrer o caminho que leva àquele património secular.
“Quando tínhamos tempo púnhamo-nos a caminho com as foices e os sachos às costas. Fomos sempre a pé, mas o cansaço nunca foi um obstáculo para nós”, acrescentou Adélia Fernandes de 81 anos de idade.

Vestígios saltam à vista

Depois de terem aberto um trilho, em plena serra de S. Namêdio, estas idosas já encontraram telhas, cal e um monte de pedras que julgam pertencer às paredes do Convento.
Também na igreja da aldeia de Cidões estão acolhidas algumas peças históricas que, segundo contam os populares mais antigos, vieram do Convento dos Frades.
A imagem da Senhora da Ribeira, a pia baptismal e uma custódia em ouro fazem parte do património religioso herdado daquele edifício centenário, que foi deixado ao abandono.
Segundo Maria Alice Pinto, uma das participantes nesta acção de descoberta, aquele local tem um valor patrimonial extremamente elevado para a aldeia de Cidões, pelo que lamenta o facto do convento não ter sido requalificado enquanto era vistoso.
Passados cerca de 150 anos, estas idosas gostariam de ver o seu trabalho reconhecido com a integração daquele local num roteiro turístico, para mostrarem o património de Cidões aos forasteiros que passam por terras transmontanas.
“A história daquele local, as belas paisagens e a vista panorâmica que a serra tem são características únicas que deviam ser aproveitadas para a valorização da nossa terra”, realça Maria Alice Pinto.

Criar roteiro turístico

Para além da riqueza natural, aquele espaço também tem um significado religioso, dado que os mais antigos contavam que os peregrinos que seguiam para Santiago de Compostela faziam junto ao convento uma paragem obrigatória.
As lendas sobre aquele local são muitas. Contudo, ainda houve habitantes da aldeia de Cidões que passaram os seus testemunhos às gerações mais jovens.
“A minha bisavó costuma contar que quando ia trabalhar para uns terrenos junto da ribeira que ladeia a serra, os frades costumavam atirar-lhe pedras com uma fisga”, recorda Rita Monteiro.
Apesar do cansaço, a vontade de descobrir ainda mais vestígios do convento e a fonte integrada nos rochedos fala mais alto.
“Quando tivermos tempo vamos continuar a limpar a serra, para ver se encontramos o património da aldeia”, acrescenta Adélia Fernandes de 81 anos de idade.
Enquanto decorrem os trabalhos de descobertas, estas habitantes de Cidões vão manter atentos os técnicos da Câmara Municipal de Vinhais, para que um dia possam ver valorizado aquele património da aldeia, situada na margem esquerda do rio Tuela.
“Na minha opinião, para além da melhorias dos acessos e da integração do local num roteiro turístico, dado que o convento está em ruínas deviam construir lá uma capela e uma estátua de um frade no cimo de uma fraga”, concluiu Rita Monteiro.