Chacim na Rota da Seda

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Ter, 29/08/2006 - 14:54


Após a sua decadência e abandono, no século XIX, o Real Filatório de Chacim, no concelho de Macedo de Cavaleiros, está, desde meados de 2005, apto a ser visitado.

A Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros (CMMC) avançou com as obras de recuperação e construção que incidiram sobre as ruínas da antiga fábrica, o Centro Interpretativo do Real Filatório (CIRF) e, ainda, a zona envolvente, onde se inclui a Ribeira de Chacim.
Segundo a vereadora da Cultura da CMMC, Sílvia Ferreira, em Setembro de 2003 foi concluído o CIRF, que começou a ser construído em Novembro de 2000. O projecto, candidato à Medida 1.4 – Valorização e Promoção Regional e Local, representou um investimento de 173 521 euros, suportado em 25 por cento pela autarquia.
Já as ruínas do Real Filatório, que orçaram em 191 483.77 euros, demoraram um ano a ser concluídas, tendo a sua intervenção arrancado em Fevereiro de 2004.
O projecto de arranjo da zona envolvente, que custou 107 829.86 euros, foi avançado entre Março e Julho de 2005 e incluiu a reabilitação da Ribeira de Chacim, a plantação de árvores e a colocação de mobiliário urbano, entre outros.
Desde a abertura do CIRF, em Maio de 2005, o Complexo Industrial da Real Fábrica da Seda de Chacim (CIRFSC) já recebeu cerca de mil visitantes, nos quais se incluem grupos escolares, associações, autarquias e turistas, entre outros.

Centro de Apoio ao visitante

Intervencionado entre Novembro de 2000 e Setembro de 2003, o CIRF visa fornecer informações aos visitantes do CIRFSC. Assim, o equipamento funciona como estrutura de apoio às ruínas da antiga fábrica da seda. Aberto ao fins-de-semana, este equipamento disponibiliza um espaço expositivo, onde os interessados podem ficar a par da história da antiga fábrica de seda, observar o espólio fruto das escavações arqueológicas e conhecer o processo de fiação Piemontesa. A Rota Europeia da Seda, o ciclo do bicho da seda e a história da sericicultura em Trás-os-Montes e do Real Filatório de Chacim são outros dos temas abordados durante a visita.
Desta forma, será mais fácil, para o público, interpretar correctamente as informações históricas, arqueológicas e industriais.
De modo a facilitar a compreensão dos conteúdos apresentados, a exposição fixa é sustentada com materiais audiovisuais e publicações científicas.

Chacim na Rota Europeia da Seda

Trás-os-Montes, em particular o distrito de Bragança, integram, em conjunto com outros países, a Rota Europeia da Seda. Trata-se de um programa que tem por objectivo divulgar conhecimentos e trocar experiências entre as regiões que tenham projectos semelhantes ao nível da seda.
A participação nacional no programa do Conselho da Europa, “Itinerários Culturais Europeus – As Rotas da Seda”, de 1989 a 1994, veio apelar à preservação e valorização dos vestígios da actividade sericícola em Portugal, particularmente em Trás-os-Montes, onde estas técnicas se desenvolveram mais.
Deste modo, têm sido promovidas reuniões científicas, visitas a locais históricos e arqueológicos, exposições e edição de material de leitura, entre outros.
A par de Macedo de Cavaleiros, participam na Rota Europeia da Seda as localidades de Como (Itália), Nîmes (França), Bursa (Turquia), Barcelona (Espanha), Macclesfield (Grã-Bretanha) e Soufli (Grécia).

Troca de tecnologias

O Real Filatório de Chacim integra um edifício do século XVIII, destinado ao fabrico da seda, a Casa dos Casulos, onde se guardavam os bichos da seda enquanto cresciam, e o bairro dos Operários (“bairrinho”), residência dos trabalhadores do CIRFSC.
Criado em 1788, o Real Filatório assumiu grande importância no âmbito do fabrico da seda, uma vez que, aí, se ensaiavam os métodos de fiação “à Piemontesa”.
Um dos responsáveis pela criação do imóvel foi o Conde de Linhares, então ministro de Portugal, Rodrigo de Sousa Coutinho, que pretendia substituir as pouco avançadas técnicas nacionais de fiação de seda pelas Piemontesas.
Outro dos motivos da concretização deste método, a nível nacional, foi o facto dos casulos portugueses, experimentados em Itália, produzirem organsim de elevada qualidade.
Deste modo, e de forma a promover a técnica Piemontesa, D. Maria I ofereceu, à família Arnaud, a concessão de um espaço adequado à instalação de um Filatório, em Chacim, e um ordenado para ensinarem e divulgarem essas metodologias.
Assim, o Estabelecimento Industrial de Chacim funcionou até 1807, altura em que o complexo começou a falir, consequência das Invasões Francesas. Porém, só por volta do ano de 1869 é que o Estado acaba por vender a fábrica de seda.
Apesar do curto tempo que esteve a laborar, o imóvel revelou-se de uma grande importância ao nível da industrialização portuguesa, uma vez que a instalação do equipamento em Trás-os-Montes confirma a vitalidade da sericicultura na região, assim como o seu reconhecimento a nível nacional. Já a implementação das técnicas Piemontesas demonstram a transferência tecnológica entre Portugal e Piemonte, tal como revela a vontade política em industrializar uma actividade tipicamente artesanal.