Cereais da Hungria a preços proibitivos

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Ter, 31/01/2006 - 15:55


Os cereais importados da Hungria para ajudar a minimizar os efeitos da seca podem comprometer ainda mais o rendimento dos produtores agro-pecuários do distrito de Bragança.

Tudo porque o preço do cereal é considerado “puxado” para a maior parte dos criadores de gado.
Para agravar a situação, as associações de produtores ainda têm de pagar o transporte do cereal desde porto de Leixões até ao Nordeste Transmontano. Acresce que cada organização de criadores tem de adquirir uma quantidade mínima 1.500 toneladas, valor considerado exagerado para a dimensão das explorações agrícolas da região.
No caso da Associação de Criadores de Raça Bovina Mirandesa (ACRBM), as 1.500 toneladas impostas pelo INGA representam o alimento consumido pelo efectivo daquela raça autóctone num período de dois anos. Por isso, a aquisição desta quantidade é considerada um sério obstáculo. “Não se pode correr o risco de armazenar cereal e vê-lo apodrecer, aumentado, ainda mais, os prejuízos dos agricultores”, considera o secretário técnico da ACRBM, Fernando Sousa.

“Não há dinheiro”

Na óptica do responsável, a solução para ultrapassar o problema terá de passar por diminuir a quantidade mínima do cereal. Adicionalmente, Fernando Sousa propõe que seja o Ministério da Agricultura a suportar o preço do transporte e armazenamento do cereal já que. “A manterem-se as coisas como estão, há poucas associações de produtores de carne e leite capazes de adquirir o alimento importado da Hungria”, salienta Fernando Sousa.
Para já, a direcção da ACRBM procura um local para armazenar o cereal. Uma das hipóteses pode passar pelos silos da já extinta EPAC, situados na antiga estação de caminho de ferro de Mogadouro, que pertencem à autarquia local.
Face à falta de alimentos nos armazéns, os criadores de raça bovina mirandesa, em especial os que possuem grandes explorações, estão a passar por uma situação difícil. “Não há dinheiro, as culturas de Inverno não produziram e, a continuar o ano assim, não há grandes possibilidades para a produção agro-pecuária” lamenta Fernando Sousa.
Sendo assim, o futuro da raça bovina mirandesa pode estar em causa, “perdendo-se grande parte de um trabalho que está a ser desenvolvido há dez anos”, alerta o secretário técnico da ACRBM.

Medidas agro-ambientais ausentes

Para além dos problemas inerentes à seca, existem outros que começam a preocupar os produtores, como é o caso da inexistência de medidas agro-ambientais. “Esta raça, pelo facto de estar ameaçada de extinção, dava aos agricultores o direito de receberem cerca de 130 euros por cada animal. Agora, este dinheiro não vai entrar nos bolsos dos agricultores que já acabaram o contrato com o Ministério da Agricultura”, lamenta Fernando Sousa.
Com vista a minimizar os problemas “era importante lançar uma linha de crédito sem juros, já que há agricultores que começam, agora, a vender os seus animais e a fechar as explorações por falta de rendimento”, avisa o responsável.
António Luís, um produtor de Fonte da Aldeia, no concelho de Miranda do Douro, possui mais de 30 animais na sua exploração e já faz contas à vida. “Os alimentos que tenho armazenados estão a acabar e não há perspectivas da situação melhorar. A única solução é começar a comprar alimentos em Espanha para ir aguentando”, desabafa o criador.
Dadas as circunstâncias, resta aguardar que a Primavera traga condições meteorológicas mais favoráveis para a manutenção de prados e lameiros.