Castanha falha nos hipermercados

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Ter, 25/10/2005 - 15:09


A castanha transmontana só pode singrar nos hipermercados se os produtores e associações do sector se organizarem de forma eficiente.

A opinião foi deixada pelo representante do Clube de Produtores Sonae, Miguel Carvalho, durante a terceira edição das Jornadas da Castanha, que decorreram no passado sábado, em Vinhais.
Segundo Miguel Carvalho, o Clube de Produtores Sonae já tentou trabalhar, exclusivamente, com castanha nacional, mas acabou por ser obrigado a recorrer ao exterior, uma vez que os intermediários do produto nacional não eram capazes de efectuar um “abastecimento correcto”.
Durante o discurso, o responsável apontou o dedo à desorganização da fileira da castanha no mercado nacional, responsável pela perda do valor do produto nas superfícies comerciais do nosso País.
“No ano passado compramos cerca de 650 toneladas de castanha, mas 41 por cento foi adquirida no estrangeiro e a restante foi obtida através de intermediários”, salientou o responsável.
Sendo assim, a organização dos produtores e das associações é o passo necessário para que a castanha nacional ganhe um lugar de destaque no mercado português, em especial nas grandes superfícies.

DOPs não funcionam

Para que este produto ganhe um valor mais elevado no mercado é preciso divulga-lo através dos selos de Denominação de Origem Protegida (DOP), que foram criadas para distinguir a qualidade da castanha portuguesa.
Na óptica de Miguel Carvalho, as DOP acabam por ser insuficientes para valorizar o produto, pelo que considera imprescindível criar uma Identificação Geográfica Protegida para reforçar a qualidade da castanha produzida em Trás-os-Montes.
A par da organização, os produtores e associações também têm que ter capacidade para calibrarem o produto, em vez de apostarem nos intermediários, “que se preocupam mais em obter lucros no mercado externo do que em promover o produto no mercado nacional”, acrescentou o representante do Clube de Produtores.
Quanto à promoção da castanha transmontana, Miguel Carvalho salientou, ainda, que as lojas da Sonae estão à disposição das associações de produtores, para fazerem o marketing directo e criarem uma imagem de qualidade para a castanha transmontana.
Os problemas da comercialização foram acentuados pelo presidente da Arbórea, Eduardo Roxo, que deu o exemplo dos prejuízos acumulados pelos produtores na colheita do ano passado.

Produtores com lucros reduzidos

“A primeira castanha da produção estava bichada, o que criou uma má imagem para a castanha da Terra Fria. A restante produção, que já tinha qualidade, acabou por não ser procurada pelos compradores, o que resultou num elevado prejuízo para os agricultores”, acentuou Eduardo Roxo.
Em relação à produção deste ano, o responsável teme que a comercialização também seja difícil, devido ao baixo calibre do produto. As fortes geadas, aliadas à seca que assolou a região, estão na origem de uma quebra na produção, que ronda os 60 por cento da produção média (cerca de 30 mil toneladas).
Na óptica do presidente da Arbórea, é preciso contrariar a tendência de mercado que aposta, apenas, no tamanho da castanha. “É preciso equilibrar o tamanho com a qualidade do nosso produto”, acrescenta o responsável.
Recorde-se que existem três DOPs para a castanha produzida em Trás-os-Montes. A Castanha da Padrela, a Castanha da Terra Fria e a Castanha dos Soutos da Lapa são as três certificações que abrangem este produto, mas acabam por não se impor nas superfícies comerciais.