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Casa na carrinha

Qua, 08/02/2006 - 09:44


Francisco e Fernanda moram numa “casa” onde as janelas são o roupeiro, o volante o toalheiro e os bancos a despensa da comida.

A partir das “divisões” da “casa” é fácil de perceber que o casal mora numa carrinha, que não está estacionada num baldio qualquer dos arredores de Bragança, mas nas redondezas do bairro da Estação, em pleno centro da cidade.
Com o esforço estampado no rosto para esconder as lágrimas, Francisco Joaquim Domingues, 55 anos, amaldiçoa a hora em que decidiu abandonar Espanha para regressar à terra natal. “Estamos cá há dois anos e pensei que na minha terra ia encontrar outras condições, mas enganei-me”, lamenta.
Após uma vida passada no outro lado da fronteira, em grande parte a trabalhar em carpintaria de cofragem e como operário agrícola, Francisco Domingues conta como é viver numa carrinha. “Tivemos de cobrir o tejadilho com lona e plástico para a chuva não entrar e, de manhã, com este frio, como é que uma pessoa se lava para ir procurar trabalho?”, alega.

Apoio do Santo Condestável

O que vale ao casal é o apoio do Centro Social e Paroquial de Santo Condestável, que conta com um balneário colectivo e disponibiliza alimentos aos dois carenciados.
Francisco Domingues puxa do cartão para provar que está inscrito Centro de Emprego de Bragança, mas garante que, enquanto não tiver uma casa, não será fácil arranjar um emprego. “Já vieram cá assistentes da Segurança Social e garantem que nos pagam a renda da casa, mas ainda não arranjamos um senhorio que a queira alugar”, assevera Maria Fernanda Batista, 40 anos. Até Agosto passado, a esposa de Francisco ainda recebia o Rendimento Social de Inserção, só que o dinheiro nunca foi usado para arrendar uma casa.
Ex-empregada de restaurante, com curso profissional de Contabilidade na mão, Fernanda também não tem conseguido arranjar trabalho em Bragança. “Se tivermos uma casa vai ser tudo mais fácil”, diz com convicção.
Há dois anos em Bragança, Francisco Domingues diz-se maltratado pelo Estado português. “Sou um ex-militar do 25 de Abril, com dois anos de comissão na Guiné-Bissau, e acho que o meu País e a minha terra me deviam tratar doutra maneira”, sustenta.
O Jornal NORDESTE contactou o Centro Distrital de Segurança Social de Bragança, que está ao corrente da situação do casal e remeteu os esclarecimentos para o dia de hoje.