Casa da Rainha sem nobreza

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Ter, 24/01/2006 - 15:03


Abambres, uma aldeia vizinha de Mirandela, é, segundo populares, muito rica em lendas e tradições. Relatam-se histórias acerca da Igreja de São Tomé, classificada de Imóvel de Interesse Público (IIP), cujo patrono, diz-se, passou e viveu na localidade.

Os habitantes contam, com orgulho, que Abambres deve ter sido, outrora, uma vila ou cidade, uma vez que a igreja tem capacidade para acolher um largo número de fiéis.
Fala-se, também, de uma Rainha que pertencia a uma família da terra ou que, quando se dirigia à aldeia, ficava alojada numa grande casa, propriedade de gente abastada. Daí que este imóvel seja conhecido como “Casa da Rainha” ou “Casa Real”. Contudo, quem por lá passa pouco ou nada encontra de nobre.
Os traços ostentam a riqueza de tempos idos, mas o que, hoje, desperta a atenção dos visitantes é o estado de total ruína e degradação em que se encontra a casa. E, o mais preocupante é que nenhuma pessoa, entidade ou instituição assume responsabilidades quanto à recuperação do imóvel.

Casa do Povo inactiva

Segundo Bernardete Baía, a última família que habitou a “Casa da Rainha”, era “gente que esteve no Brasil”, que vendeu o imóvel à Segurança Social. Foi então que o edifício começou a albergar a sede da Casa do Povo de Abambres, que ali funcionou durante algumas décadas. “Na década de oitenta, as Casas do Povo foram extintas e aí começaram os principais problemas”, recorda José Madureira.
Após a desocupação da casa, a degradação foi ganhando terreno, já que as dúvidas quanto à entidade proprietária do imóvel têm inviabilizado qualquer tentativa de recuperação.
As responsabilidades são, na maior parte dos casos, imputadas à Segurança Social, uma vez que, segundo consta, foi a última proprietária do imóvel. Todavia, o adjunto da directora da Segurança Social de Bragança, Orlando Vaqueiro, esclarece: “a Segurança Social não tem tutela sobre as Casas do Povo, enquanto entidade colectiva”.

População quer Centro de Dia
As informações do responsável são confirmadas por um documento presente na Repartição de Finanças de Mirandela, onde se verifica que o titular da “Casa da Rainha” é, desde 1956, a Casa do Povo de Abambres.
Sendo assim, terá de ser a Junta de Freguesia, a Comissão Fabriqueira ou uma comissão de moradores a requererem a posse do imóvel e a extinção da Casa do Povo, uma vez que esta se encontra inactiva. Caso isso venha a acontecer, a população de Abambres gostava de ver criado um Centro de Dia na antiga Casa da Rainha.
Mas, o certo é que, enquanto habitantes e entidades decidem o que fazer, o imóvel vai ruindo de dia para dia, correndo o risco de transformar-se num simples aglomerado de pedras.