Candidatos pelo distrito discutiram problemas da região e apresentaram soluções

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Ter, 05/03/2024 - 10:55


Assuntos foram discutidos num grande debate da Rádio Brigantia e Jornal Nordeste

Na passada sexta, a Rádio Brigantia e Jornal Nordeste realizaram um grande debate com os oito candidatos a deputados pelo círculo eleitoral de Bragança com assento parlamentar. Isabel Ferreira, do Partido Socialista, Hernâni Dias, da Aliança Democrática (AD), José Pires, do Chega, Vítor Pimenta, do Bloco de Esquerda, Fátima Bento, da CDU, Teresa Aguiar, da Iniciativa Liberal, Anabela Correia, do Livre e Octávio Pires, do PAN apresentaram as suas propostas para a região.

Saúde

O debate começou com Hernâni Dias, candidato da AD, a atacar a candidata do Partido Socialista, porque diz que tem tentando “ludibriar” os eleitores com “números falsos” sobre a quantidade de médicos que há na Unidade Local de Saúde do Nordeste e que afirmou não se reflectirem na “realidade” do distrito. Hernâni Dias considera que o estado da saúde na região se deve à falta de “vontade” ou “incompetência” do Partido Socialista, que tem adoptado medidas que “não têm tido um efeito positivo”. Por isso, defende que é preciso captar novos médicos para a região e, para isso, é preciso dar “incentivos”. Além disso, entende que é preciso reduzir as listas de espera das cirurgias e consultas através de uma solução com o “privado” e o “social”. Como exemplo, deu o caso de uma utente oncológica que recebeu recentemente uma carta para a primeira consulta que será em Dezembro de 2024. “Isto espelha bem aquilo que é a saúde no nosso território”, vincou. Já Isabel Ferreira, que disse que o distrito tem a melhor taxa de cobertura de médicos de família, admite que ainda não é perfeito. Mas para isso, “não chega dizer que as coisas não estão bem”, é preciso “apresentar alternativas” e considera que aquela que foi apresentada pela Aliança Democrática “não é realista”, porque entende que é “impossível”, num ano, arranjar médicos de família para todos. Por isso, considera que o caminho passa por valorizar os profissionais de saúde, “com o processo de revisão das carreiras e valorização salarial”, mas também com “incentivos especiais em territórios do Interior”. Além disso, o PS quer “melhorar o modelo de gestão do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e da prestação de cuidados”. “Tem de haver uma maior articulação entre os cuidados de saúde hospitalares, primários e continuados e estamos a falar de ligar o sector da saúde e o social”, afirmou, salientando que é importante “apostar em meios complementares de diagnóstico” e “expandir as respostas do SNS no âmbito da saúde mental”. Já o candidato do Bloco de Esquerda, Vítor Pimenta, que é médico psiquiatra na Unidade Local de Saúde do Nordeste, reconhece que há “carências” em algumas especialidades que pode ser combatida com a captação dos médicos através da “valorização dos salários, mas também a questão do tempo e a flexibilidade do horário”. Defende ainda a contratação de mais auxiliares, de diagnóstico e terapêutico, que podem aliviar o trabalho dos médicos e a aproximação dos cuidados de saúde às populações através da “telemedicina”, ou seja, consultas online, ou levar a comunidade médica dos grandes centros até às pequenas localidades. “Os especialistas poderão ter mais facilidade em prestar esses cuidados sem que haja a necessidade de as populações também se deslocarem aos hospitais. Não podemos centrar tudo fisicamente no hospital. Temos de ir ao encontro as pessoas”, referiu. Alertou para a saúde mental e os cuidados continuados, que complementam o SNS e aliviam os cuidadores informais, que “cada vez são mais”. “O SNS continua a prestar os melhores serviços de saúde à população, tem todo um saber fazer que deve ser valorizado”, vincou. Fátima Bento, candidata da CDU, não tem dúvidas de que melhorar o sector da saúde na região e no país “não passa pelo privado garantidamente”, porque é preciso ter em conta “as distâncias” e os “recursos financeiros” que as pessoas têm. “Não é aceitável que uma utente de Macedo de Cavaleiros para fazer exames de diagnóstico tenha que vir ao hospital privado de Mirandela ou Bragança, quando esses exames anteriormente até eram feitos no público”, disse. Por isso, a CDU defende uma “rede de urgências básicas que deveria existir nos cuidados primários em todos os concelhos”, permitindo assim uma resposta próxima. E além de mais incentivos aos médicos, considera que deveria haver exclusividade destes médicos no SNS. Perante o cenário que se vive no distrito, a candidata ao poupou críticas ao Partido Socialista. “Apesar de ter sido dito pelo PS que tem sido feito um esforço para valorizar estes trabalhadores, a verdade é que eles não têm sentido essa valorização”, rematou. Para o Chega não basta que seja anunciado investimento, é preciso executar esse investimento. Assim, o partido defende uma “modernização” do Serviço Nacional de Saúde, “através das novas tecnologias e inteligência artificial”. “Se criarmos uma plataforma para todos os agentes, públicos, privados e sociais, mais facilmente conseguimos que a informação chegue a todos e poderão resolver os diferentes problemas”, apontou José Pires. O candidato também criticou o estado dos edifícios, nomeadamente dos centros de saúde, e defendeu uma “medicina de prevenção”. Já a candidata do Livre considera que é preciso “reforçar” o SNS e não “erradicá- -lo”, uma vez que é “super necessário”. Por isso, Anabela Correia apontou que é preciso humanizar os cuidados de saúde através de redes de proximidade, equipas comunitárias, telemedicina e investir na saúde mental, com o objectivo de que o “utente espere o menos tempo possível e o atendimento seja de qualidade”. Além disso, quer que acabem os contratados que os profissionais de saúde têm com “empresas” que servem como “um extra”, através da sua valorização e reforço de carreira. Teresa Aguiar também defende uma “melhor gestão do SNS”. A candidata da Iniciativa Liberal começou por criticar o tempo de espera para ter uma consulta com um médico de família, obrigando os idosos a irem “às cinco da manhã” para a porta dos centros de saúde para serem atendidos. “Haver médicos de família para elevar a estatística e depois não conseguir atender a população, não é uma melhoria”, afirmou. Por isso, defende “liberdade de escolha”, através de uma “ADSE” para todos. “Permitir a estas pessoas que tenham possibilidade de acesso”, com um “modelo misto de acesso ao sector social, privado e público”. Octávio Pires, do PAN, realçou a importância da construção do hospital privado de Bragança e mostrou-se preocupado com as distâncias que as pessoas têm de percorrer para ter acesso à saúde, como por exemplo, os habitantes de Freixo de Espada à Cinta que têm apenas centro de saúde e que não está aberto durante a noite. “No Interior, o Estado tem de apostar fortemente em recursos monetários para atrair pessoal. Não se pode a não compensar os profissionais. Eles se vêm para o interior precisam de ser compensados e só a nível monetário e outros recursos de habitação”, defendeu. E acredita que é possível fazer com que os jovens da região que estudam medicina queiram voltar para a terra para a exercer. Para isso, basta dar-lhes “condições”.

Acessibilidades

Na região, há problemas de infra-estruturas. Existe o objectivo de incluir a ferrovia em 2050 e defende-se uma linha de alta velocidade à Europa. Há ainda um plano de mobilidade, o do Tua, por implementar há anos. E há estradas entre concelhos que vão sendo prometidas, há anos. E mesmo por aí que se deve ir, pelas estradas. Isto para o Chega. Para o candidato, José Pires, não faz “sentido” que nos consigamos deslocar entre Macedo de Cavaleiros e Bragança em pouco mais de 25 minutos, sendo a distância de cerca de 40 quilómetros, e, por outro lado, que entre Bragança e Vinhais, com uma distância mais ou menos semelhante, o trajecto demore cerca de 45 minutos. Desta feita, o candidato defende que o mais urgente é ligar, de forma eficaz, os concelhos do distrito entre si. “Não faz sentido não estarem feitas as estradas Bragança-Vinhais, Bragança-Vimioso, Freixo- -IC5, entre outras. Temos tido, ao longo destes anos, governação PS e PSD e o investimento nestas ligações é, basicamente, nulo”, rematou, dizendo ser “urgente” ter-se os mesmos “direitos” que outros distritos têm. Relembrando que os governos do PS do PS foram os que “mais investiram” em rodovia, no distrito, reportando-se ao Túnel do Marão, A4 e IC5, Isabel Ferreira começou por referir que já na sua governação a ligação Vinhais-Bragança ficou com Declaração de Impacto Ambiental e projectos prévios aprovados e, desde a semana passada, há autorização de despesa para lançar o concurso de primeira fase da obra, no valor de 24 milhões de euros. No total, estão aprovados mais de 36 milhões de euros para esta ligação. No que toca a Puebla de Sanabria-Bragança, há 29,3 milhões de euros. E para a ligação Vimioso-Bragança “o Governo apoio todos os estudos prévios”. Procura-se agora fonte de financiamento. Ainda assim, rematou que a ligação Zamora-Quintanilha “é uma prioridade”, mas do lado espanhol já está aprovado o Estudo de Impacto Ambiental. A ministra da Coesão Territorial, ministério a que a agora candidata a deputada integrou nesta legislatura e na anterior, esteve em Vimioso, em 2022, e prometeu que a ligação Vimioso-Bragança iria ser feita. Confrontada com a promessa de Ana Abrunhosa, Isabel Ferreira esclareceu que os projectos “demoram” e disse que “é preciso encontrar fontes de financiamento alternativas”, sendo que “o processo está a ser estudado”. Quanto à ferrovia, a ligação Porto-Bragança “é uma prioridade”. O mesmo não o é para a Aliança Democrática. “Não vejo nenhuma menção à ligação ferroviária no programa da AD. Mas, no programa do PS, está claramente este novo corredor internacional de mercadorias, que permita suplementar esta ligação do Centro e Norte a Espanha e à Europa”, vincou, dizendo que relativamente à rede transeuropeia, um programa “negociado há muito tempo”, o Governo já assumiu que “a ligação a Espanha não pode ser deixada para trás” e, por isso, esta prevista. Mas, é preciso “concertar” a posição com Espanha. Quanto ao Tua, Isabel Ferreira avançou que “o Governo está disponível para voltar a classificar a Linha do Tua”, sendo que, só aí, é que se podem suportar os custos de manutenção da mesma e “o Governo está disponível para o fazer”. Neste momento, “os municípios têm que reverter todas as concessões, com os privados, que estiveram a fazer”, terminou. Já Hernâni Dias, candidato da AD, que começou por dizer que, depois de ouvir a candidata do PS, ficou “surpreendido com tanta concretização”, vincou que, apesar de tudo que Isabel Ferreira disse, não se viaja na totalidade no IP2 nem no IC5, nem nas estradas Vinhais-Bragança ou Vimioso-Bragança. “Até ao momento não há nada”, rematou. Quanto à ferrovia, Hernâni Dias esclareceu que “desde há muito” se manifestou contra a intenção de o Governo “não incluir uma linha de alta velocidade Leixões-Zamora”, já que “a zona Norte do país é a que mais exporta”. “A nossa proposta é que seja incluída uma linha de alta velocidade neste plano e que seja incluída na rede transeuropeia”, explicou, dizendo que é preciso que o país esta inclusão como algo “imperioso”, pois algo como já se teve não serve, uma vez que “o modelo fracassou em toda a sua linha”. Defendendo uma rede sustentável de transportes, o PAN quer que a região não fique para trás, em termos de descarbonização, mas o candidato preferiu deixar a luta para os que serão escolhidos. “Os que vão ser eleitos que façam uma forcinha, junto dos do parlamento, para chamar a ferrovia porque nós não estamos a atrasados na ferrovia, estamos em muitas coisas. A ferrovia é fundamental para o desenvolvimento da região. É necessário que esse meio de transporte seja disponibilizado às pessoas e que continue até Espanha”, esclareceu. Fátima Bento, candidata pela CDU, que diz que já se está à espera do comboio “desde o dia que se retirou a carruagem da Estação Ferroviária de Bragança” ou desde que as populações de Freixo de Espada à Cinta e de Torre de Moncorvo “foram enganadas”, quando lhe encerram a linha, rematou que a coligação “nunca abdicou” de que as ligações ferroviárias fossem repostas. “Temos insistido nisso mesmo, em todos os Orçamentos de Estado ou Planos Nacionais Ferroviários. Queremos que a ligação seja reposta, que haja ligação ao Porto”, vincou. Fátima Bento não deixou de falar do Plano de Mobilidade do Tua, um “caso flagrante”. “Estão até hoje à espera que haja entendimento. As respostas que se têm tido por parte do ministério é que ainda não o há. Desde 2017 que aquelas gentes se sentem abandonadas pelo Governo”, explicou, dizendo que “a ligação nunca devia ter sido suspensa”. “O privado a quem entregaram o serviço nunca o chegou a concretizar. Mais um exemplo de que o privado nunca consegue servir o interesse público”, terminou. Segundo Teresa Aguiar, a Iniciativa Liberal, apresentou, em 2022, um plano, estudado e construído em conjunto com a Associação Vale D’ouro. “Este plano liga todas as capitais de distrito a Lisboa ou ao Porto. Bragança estaria ligada ao Porto e depois haveria ligação a Espanha, à rede de alta velocidade. Acreditamos que isto vá auxiliar no desenvolvimento económico da região e fixação de pessoas”, vincou, dizendo que para a IL isto “é um pilar” que combateria as “assimetrias Interior-Litoral”. Para o Bloco de Esquerda este é um tema também sensível. E reportando-se à situação do Tua, lembrou que, por causa do encerramento da linha, “muitas daquelas aldeias ficaram esvaziadas”. Para Vítor Pimenta tudo isto é “fruto de políticas do PSD e até do PS”, que “deitaram para o caixote do lixo as políticas da ferrovia”, um “meio sustentável e ecológico”, que o bloco quer trazer para Bragança, por ser um “elemento importante na coesão terriola”. “Revemo-nos no plano da Associação Vale D’ouro”, sublinhou. Já o Livre quer a redução do preço dos transportes públicos e pretende ainda assegurar uma transição para uma mobilidade sustentável. “Nós estender o passe ferroviário nacional, uma proposta do Livre, à nossa zona, mas, para isso, é preciso que aqui haja linha ferroviário. Defendemos que o nosso distrito esteja interconectado”, esclareceu a candidata Anabela Correia. “Queremos investir neste transporte, projectando uma rede de alta velocidade, entre as cidades da Península Ibérica”, explicou ainda, dizendo que “não é possível ter um país coeso sem uma rede de transporte básica”.

Agricultura

Sendo a agricultura o sector mais importante para a região, foi um dos temas debatidos no debate. Recentemente os agricultores saíram à rua para protestar, devido ao atraso no pagamento dos apoios. A Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Norte (DRAPN), sediada em Mirandela, faz agora parte da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), deixando os agricultores preocupados com a possibilidade de afastamento do poder de decisão. Mas quanto a isso, a deputada do PS deixou uma garantia. “A DRAPN não desapareceu. Os trabalhadores estão em Mirandela e haverá tomada de decisões em Mirandela e ainda com mais proximidade do território, uma vez que a DRAPN está integrada na CCDR-N, onde podem ser criadas sinergias entre o fundo FEDER, o fundo social europeu, mas também do PEPAC”, disse Isabel Ferreira. A candidata apontou várias medidas para a valorização do sector, como a “simplificação e previsibilidade dos agricultores à pequena e média agricultura, nomeadamente plataformas logísticas para escoamento dos produtos, mas também um programa que estimula à pastorícia intensiva”; e “desburocratização dos procedimentos de apoios à exploração, nomeadamente na aposta de um simplex rural”; apostar em “cadeias curtas” e “no aumento na eficiência produtiva”. No entanto, contrariamente ao que defende a Aliança Democrática, que defende o cumprimento do Plano Nacional de Regadio, Isabel Ferreira disse que é preciso “criar um plano nacional de modernização do regadio e remodelar e modernizar as infra-estruturas de regantes”. Além disso, o PS entende que o PEPAC (Plano Estratégico da Política Agrícola Comum) tem que ser “reprogramada” e, a prova disso, foi o atraso no pagamento dos apoios aos agricultores, admitindo que o plano não estava equacionado para dar resposta a tantas candidaturas. E sendo o sector da agricultura “estratégico” e “fundamental” para o “desenvolvimento do país”, Hernâni Dias entende que é preciso “trazer de novo o sector das florestas para o Ministério da Agricultura, que foi retirado pelo Governo do PS e que não resultou muito bem”. O candidato da AD disse ainda que é preciso “garantir a aplicação integral e atempada de todos os fundos europeus ao nível da agricultura e reduzir os custos de produção que asfixiam os nossos agricultores” e que o PEPAC deve ser reprogramado e acelerada a sua execução. Uma medida que entende ser “fulcral” para ter uma agricultura competitiva é cumprir o Plano Nacional de Regadio e executar mais infra- -estruturas de aproveitamento hidroagrícola porque são necessárias para reter água, porque os períodos de seca são cada vez maiores, mais frequentes e haverá mais dificuldades. “O regadio de Vale de Madeiro tem 240 hectares de regadio e a DRAPN, há um tempo atrás, deixou cair a extensão para mais 100 hectares de regadio, porque não se entende com a Infra-estruturas de Portugal para deixar passar uma conduta por baixo da auto-estrada”, criticou. Teresa Aguiar também não tem dúvidas de que é preciso criar condições para os agricultores e que a aposta no regadio é essencial para que a agricultura se torne “rentável” e mais produtiva. Por isso, defende mais investimento nas barragens e açudes, apontando que em Trás-os-Montes há barragens que esperam licenciamento e financiamento há anos. “Temos que pensar em reabilitar regadios tradicionais e de fazer a manutenção aos que existem, porque existem perdas gigantes nos regadios existentes, por abandono da sua manutenção”, disse. A candidata da Iniciativa Liberal rematou dizendo que é preciso que o Governo pague aos agricultores os apoios “a tempo”, para que estes possam fazer investimentos. O candidato do PAN considera que muitos dos problemas da agricultura na região poderiam ser resolvidos através do consumo local. “Faça- -se uma produção local e faça-se um consumo local. Se fizermos uma produção e que essa produção seja produzida localmente acho que muitos dos problemas que a agricultura passa desaparecerá”, defendeu Octávio Pires. Para o Bloco de Esquerda é preciso incentivar “cadeias culturas de consumo”, ou seja, consumo local. “Produção local, consumo local, e as instituições públicas, nomeadamente cantinas locais, devem ser as primeiras a dar o exemplo, comprando localmente e contribuindo directamente para a economia local e para o financiamento das actividades agrícolas locais”, vincou. Além disso, Vítor Pimenta, explicou que o partido defende uma “regulação” dos preços, visto que muito do rendimento que os agricultores perdem “tem a ver com a negociação com a grande distribuição”. Para fazer esse controlo, diz que é preciso criar um organismo que faça regulação de preço e atribuam justiça. Também a CDU defendeu que é preciso “regular os mercados”, além da redução dos preços de produção, ampliando o rendimento dos agricultores. O “desmantelamento” do Ministério da Agricultura, segundo Fátima Bento, não veio ajudar os agricultores, visto que considera que a Direcção Regional de Agricultura “tem um papel essencial na ligação com os agricultores e desenvolvimento da região e esta é uma alavanca para a região e um potencial muito grande, que pode criar postos de trabalho e melhorar o futuro do Nordeste Transmontano”. Já o candidato do Chega considera que é preciso “desburocratizar e simplificar processos de licenciamento”, para facilitar a vida aos agricultores. No entanto, defende que este sector não deve ser subsidiado, mas haver investimento, através de apoios à produção, baixas no imposto do gasóleo. “Também devemos combater o flagelo dos incêndios florestais através de políticas que sejam efectivas na prevenção dos incêndios e apostar na transformação dos produtos agrícolas, quer seja entre concelhos ou até a nível distrital”, concluiu. Já Anabela Correia, candidata do Livre, não quis deixar de falar da agricultura sem falar das alterações climáticas, por isso começou por defender a transição energética. Por outro lado, considera que é preciso promover a pequena agricultura e familiar através de “práticas agro-ecológicas e regenerativas, mantendo o dinamismo das zonas rurais, o combate às alterações climáticas e perda da nossa biodiversidade, como apoio do conhecimento e cultura”. Defende ainda que é preciso “fortalecer” a pequena agricultura local com o “reforço do estatuto da agricultura”, com medidas para “encorajar” a produção e comercialização da pequena escala a nível local, protegendo também a posição dos agricultores na cadeia de abastecimento agro-alimentar através da proibição de vendas abaixo dos custos de produção. A criação de seguros é também uma medida do Livre. “Defendemos a criação de seguros face a perdas por fenómenos extremos, que danificam as colheitas”, disse, vincando que os seguros vão impedir que os agricultores fiquem “sem chão”.

Apoios às empresas e investimento na região

A atracção de pessoas, a sua fixação e o desenvolvimento empresarial também esteve em discussão. Para a CDU, o aumento dos salários será a “alavanca” das pequenas e médicas empresas, assim como actualização das pensões. Para o PAN a produção de riqueza não vem do Estado, mas das pessoas, portanto, considera que faz “todo o sentido” que haja uma discriminação positiva para as empresas. O Bloco de Esquerda considera que o investimento na região passa também pelo ensino superior, atraindo investigadores para a região e aproximando o politécnico das empresas, “melhorando técnicas”, dando como exemplo, a agricultura. No entanto, reconhece que além do investimento nas empresas é preciso atrair pessoas que queiram trabalhar na região. Para isso, defende que é preciso atrair jovens para o Interior, através do ensino superior, mas também pessoas de outras regiões, e trazer de volta a regionalização, uma vez que considera que “a ausência de Estado” faz com que os territórios se esvaziem. Já a Aliança Democrática defende que é preciso uma redução da carga fiscal para as empresas e a criação de “um estatuto diferente” para o território, através da criação de uma nova categoria jurídica, para uma “discriminação muito positiva”, nomeadamente ao nível do IRS, IMT, IMI, IRC, para que o território seja “mais competitivo” e desta forma atrair mais pessoas, investimento e criar mais riqueza, fazendo com que as pessoas permaneçam no território. A candidata do PS fez questão de frisar que o estatuto da interioridade, defendido pela AD, já existe e foi aplicado pelo Governo socialista, da qual fez parte. Por isso considera que “mais importante” que o estatuto são as medidas e a forma como são implementadas. “A proposta da AD é uma redução o IRC gradual até 15%. Mas nós, graças às medidas de valorização do Interior, já temos uma taxa reduzida de 12,5% e, por isso, um choque alargado para todo o país não interessa, muito menos aos territórios do Interior. Nós precisamos é de ir aumentando a matéria colectável para aplicar uma taxa reduzida, como fizemos”, apontou, realçando que o objectivo é “reforçar estes benefícios ficais”. Mas além da redução da fiscalidade, o PS propõe a abertura de avisos com dotação reservada para o Interior, para o estímulo ao investimento empresarial. “Temos que ter medidas de um desenvolvimento económico do país baseado na competitividade e na internacionalização e não no choque fiscal para garantirmos ter salários médios mais altos”, frisou Isabel Ferreira. Para a Iniciativa Liberal é preciso criar “zonas económicas especiais”, com “baixa fiscalidade”, de forma a atrair investimento “estrangeiro”. “Desta forma poderíamos criar condições mais atractivas para as empresas quererem ficar aqui”, frisou Anabela Correia. Embora reconheça que o Politécnico de Bragança seja um grande motor de atracção de pessoas, afirma que não as fixa, porque “não temos condições para as fixar”. Só com a baixa de impostos e a atracção de empresas é o partido considera que poderia ser resolvido o despovoamento da região. O Chega também propõe a diminuição dos impostos para as empresas, com o intuito de fixar as empresas que cá estão e criar assim mais postos de trabalho. Dessa forma, “a subsidiodependência desapareça”. O candidato José Pires considera que também são precisas pessoas que “coloquem as mãos na massa”, como agricultores, picheleiros, carpinteiros. “Se pensarmos em termos de formação, é preciso analisar aquilo que é necessário, analisar as necessidades que os empresários têm e formar os jovens para esses empregos ou reconverter aqueles que estão no desemprego para poderem ocupar esses empregos”, disse. Quanto ao Livre, Anabela Correia defendeu que se conseguir atrair investimento, conseguimos criar emprego “sobretudo para a população jovens”. Por isso, o propõe a redução dos impostos, aposta no ensino superior e aumento do salário mínimo nacional até os 1050 euros em 2027. Também quer acabar com os estágios não remunerados, com os falsos recibos verdes e o falso trabalho independente.

Educação

Na região, em termos de serviços, também há muita coisa que as pessoas reclamam que não está bem. Há falta de creches, já que há longas filas de espera em algumas, e, por exemplo, em Vimioso continua sem ensino secundário. E para colmatar essa falha, a Comunidade Intermunicipal Terras de Trás-os-Montes criou o projecto “Turmas Partilhadas”, que permite que os alunos possam frequentar cursos profissionais noutro concelho, fora da sua área de residência, sem terem que dormir fora de casa. Ou seja, os jovens continuam a ter a aulas generalistas, como Matemática e Português, no seu agrupamento de escolas e dois ou três dias de semana deslocam-se para outra escola, onde têm as aulas específicas do curso que querem. ao fim do dia voltam para casa. Mas, até agora, quem assume os custos é a comunidade intermunicipal, que diz que o Governo não custeou o transporte, até agora. Esta matéria serviu para Hernâni Dias e Isabel Ferreira trocarem mais algumas acusações. “É a prova provada de que a vontade política não é suficiente para resolver problemas. Houve a garantia, por parte da secretária de Estado do Desenvolvimento Regional, Isabel Ferreira, de financiar as ‘Turmas Partilhadas’ mas, até agora, não há financiamento”, rematou o candidato da AD. Já Isabel Ferreira lembrou o candidato que o protocolo para o projecto foi assinado pelo ministro da Educação e não pela própria. Ainda assim vincou que foi um projecto no qual se empenhou e que desafiou a CIM TTM a implementar. “Não me comprometi a financiá- -lo, mas o financiamento dos anos lectivos que decorreram até agora foi feito com recursos a fundos europeus do Programa Regional do Norte, que financiará os anos futuros”, esclareceu. A candidata também falou das despesas de alojamento e de transporte dos alunos de Vimioso, que têm de ir estudar para fora. Disse que é o Governo que as paga e que na semana passada foi publicada a portaria que define qual o montante atribuído a esse concelho para esse efeito. Hernâni Dias atirou que essa portaria prevê 18 mil euros e “a despesa é mais de o triplo”. Isabel Ferreira não gostou que o candidato da AD estivesse a assumir o papel de “porta-voz” do presidente de Vimioso. Isabel Ferreira classificou o discurso de Hernâni Dias como sendo de uma “ingratidão inacreditável”. Para o Bloco de Esquerda, o “investimento nos serviços públicos é importante”, sobretudo no Interior, para fixar as pessoas. Quanto à educação, Vítor Pimenta disse ser a favor da “implementação de creches públicas”, que “dão carreira às pessoas”, até porque “muita gente que trabalha em creches do sector social tem contratos muito precários”. “Uma das nossas reclamações é que o Estado não deixe só para o privado e o social a colmatação destas necessidades a nível de creches”, vincou o candidato. Já para José Pires, em matéria de educação, “é necessário, acima de tudo”, valorizar os profissionais, sejam docentes ou não docentes”. Além disso, o candidato do Chega diz que “os professores estão cansados e desmotivados, com sucessivos cortes em autoridade, carreiras e falta de auxiliares que os ajudem a ensinar os alunos”. Dizendo que “o ensino é um direito universal, seja em Vimioso ou em Lisboa”, por isso, “essa resposta tem que ser dada, Fátima Bento defende que as escolas profissionais se revitalizem. “Há várias carências na região, de profissionais mais especializados, que se foram perdendo, e não foi por acaso. As escolas profissionais têm passado um mau bocado, na forma como são financiadas. A Escola Profissional de Carvalhais, que forma alunos altamente especializados, nas suas várias áreas, precisava de mais apoios, por exemplo”, esclareceu Fátima Bento, que disse que “as escolas profissionais são muito necessárias” porque “esses trabalhadores dariam resposta a várias necessidades que a região tem”. O Livre, segundo Anabela Correia, propõe “capacitar a educação pública”, reforçando a dotação orçamental, de forma a “assegurar recursos matérias e humanos suficientes a todas as escolas públicas”. Para a candidata, “esta rede deve ter em conta a proximidade com as populações evitando o abandono das escolas locais em favor das superescolas”. “ Quanto ao pessoal docente e não docente, o Livre quer “valorizar” essas pessoas, através do “reconhecimento do seu trabalho”, proporcionadas “progressões regulares na sua carreira”. Aumentar o número de pessoal não docente por cada aluno é outra das medidas que o partido apresenta, bem como transformar o 12º ano no ano 0 da universidade, para que os alunos “reflitam” no seu “futuro”. O Livre também quer alargar o ensino do mirandês. “Todas as escolas que estejam abertas a tal, devem poder ensinar a língua”, assinalou Anabela Correia. Teresa Aguiar, sobre educação, disse que, junto da população, se verificou que “há falta de oferta para crianças com deficiências”, nomeadamente ao nível de ATL, depois das aulas ou nas férias. “Isso deveria ser incentivado”, rematou. Quanto ao programa da IL, atirou que “há falta de creches”. “Se há falta de oferta pública esta que se crie mas se há interesse por parte de privados então que se deixe que estes a criem. Pretendemos criar um cheque-creche, no valor de 480 euros, para dar a todas as famílias e que escolham onde querem ter a criança”, rematou Teresa Aguiar, que disse estar em concordância com Fátima Bento no que aos cursos técnicos diz respeito, sendo que se criou, incompreensivelmente, no país, um “desprezo” pelo ensino técnico. Para o PAN, a educação é “essencial” para uma sociedade moderna e se há área onde o Estado deve “alocar” recursos financeiros é esta. “Queria chamar a atenção para a exaustão a que estão a ser levados os professores neste momento. Têm, em média, uma idade avançada e a quantidade de alunos, por turma, é inconcebível. Não se consegue ter aprendizagens correctas”, atirou Octávio Pires.

Jornalista: 
Carina Alves/Ângela Pais