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Bastidores da peça “Por detrás os Montes”

Ter, 10/10/2006 - 10:56


No âmbito do projecto teatral “Por Detrás os Montes”, que será levado a palco pelo Teatro Meridional de Lisboa, a Câmara Municipal de Bragança, Teatro Municipal de Bragança e a Fundação Os Nossos Livros organizam um ciclo de conferências baseadas na demanda da cultura nordestina.

Esta iniciativa narra a montagem da especificidade cultural da nossa região.
A primeira convidada desta parceria foi Luísa Branco (docente na Escola Superior de Bragança), na passada sexta-feira, que intitulou a sua palestra de “por atalhos e caminhos da escrita”. Efectivamente, a oradora discursou sobre a literatura transmontana que, tal, como proferiu o bispo de Bragança e Miranda, D. Montes Moreira, “foi uma análise psicológica e social da nossa gente”.
Luísa Branco, filha da cidade, deleitou os convidados com abordagens históricas sobre a cultura, neste caso a do Nordeste. Relembrando o seu percurso pela vida, umas vezes em Bragança outras em Lisboa, uma cultura acompanhou-a, sempre, na sinuosidade dos caminhos. Embora a visão do distrito de Bragança mudasse com o decorrer dos tempos, fruto do crescimento físico e intelectual da oradora, a essência cultural da cidade foi (é) a mesma. Recordando Ruy Belo: Existe juro um girassol em rio de onor / …o girassol de rio de onor há tantos anos visto / Mas nós os que lá fomos e por lá passámos / nós é que já não somos quem lá fomos…

“Os homens é que ignoram o Nordeste”
Deste modo, a desgraça da descriminação não é geográfica mas sim humana. Segundo Luísa Branco, os Homens é que ignoraram o Nordeste ao não abraçarem a sua identidade, o seu cariz, singular, acolhedor. Até a denominação geográfica – Trás-os-Montes – remete para uma zona longínqua e hermeticamente fechada.
Esta filha de Bragança passou a infância num tempo e espaço salazarista que era amenizado pela capacidade de outrar-se na literatura. Num tempo onde o sol fascista era muito seco no Nordeste, a conferencista aprendeu a liberdade na capital, onde se deparou ainda mais com a condição bragançana. O seu regresso ao lar viu uma cidade diferente: nas pessoas e no espaço geográfico, mas não no seu odor cultural.
A conferência terminou com uma leitura enfática de alguns poemas de escritores que, na sua totalidade, são transmontanos: Augusto Moreno, Em casa; Alberto Miranda, Sinfonia da infância; Augusto José Lopes, Poema à cidade de Bragança, Pires Cabral, A mim mesmo.
Bragança vista por dentro e por fora foi o método utilizado pela 1ª conferencista que suportou ainda a sua eloquência na escrita de / sobre Trás-os-Montes, pois como diria Ruy Belo: escrever aperfeiçoa a terra.
Tratou-se de um testemunho racional e emotivo, de pasmos professorais, sobre a especificidade duma região, que teimam em escondê-la atrás dos montes.