Aumento de preços marca arranque de 2022

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Ter, 11/01/2022 - 12:01


2021 terminou com uma inflação de 2,8%, segundo dados do INE- Instituto Nacional de Estatística. No último mês do ano, os preços foram subindo e parece que em 2022 o cenário não vai ser diferente

No caso dos bens alimentares, verificou-se uma subida considerável no preço do pão. Outro dos bens essenciais mais caro é a carne. Também o hábito de tomar café vai custar mais este ano. As rendas de casa vão igualmente aumentar, visto que não subiram o ano passado. A electricidade também não escapa a esta tendência e a partir deste mês vai aumentar 0,2%. A EDP vai aumentar a factura na ordem dos 90 cêntimos e a Galp Energia na ordem dos 2,7 euros para as potências mais representativas. O gás não aumenta este ano, mas, no caso das botijas, tem vindo a subir em flecha nos últimos 6 meses, ao passo que o preço do gás natural tem estado em queda. No ramo das telecomunicações, as operadoras ainda não anunciaram as decisões de subida de preços, mas estima-se que também haja alterações. O tabaco também vai ficar mais caro, assim como as portagens. Até a roupa e os carros em segunda mão podem ver os preços aumentar.

Preço do pão dispara, mas consumo mantém-se

O aumento do preço das farinhas, da electricidade, dos combustíveis e dos materiais obrigaram ao aumento do pão, um bem de primeira necessidade. Na padaria Papa Grão, em Bragança, o início do mês também significou actualização da tabela de preços. Segundo o proprietário, José Patrício, “houve um aumento na ordem dos 10/15 cêntimos no pão e nos outros artigos que levam farinha”, como bolos. A empresa vende pão porta a porta nas aldeias e ainda em dois estabelecimentos comerciais da cidade. Com a subida do preço dos combustíveis, a venda ambulante passou a representar um gasto maior e, por isso, a subida dos preços tornou- -se inevitável. José Patrício explicou que “reduziu muito a margem de lucro” o que levou a “ajustar os preços ao mercado actual e aos novos custos da matéria-prima”. Ainda assim, apesar de já ouvir algumas queixas por parte dos clientes, não teme que haja quebras nas vendas, visto que o pão é “um bem de primeira necessidade” e “toda a gente come”. A pandemia parece também não ter tido grande impacto no negócio. Na Casa do Pão, uma pastelaria e padaria em Bragança, com cinco anos de existência, também aumentou o preço do pão, por quilo, na ordem dos 40/50 cêntimos. “As farinhas aumentaram, tudo que é fermentos aditivados para o pão também aumentaram, a luz aumentou, logo aí o preço do pão não pode ser praticado como se praticava antes”, disse o proprietário. Apesar do aumento do preço do pão, Bruno Lopes disse que ainda não se registaram quebras nas vendas. No entanto, competir com as grandes superfícies comerciais continua a ser um desafio. “O comércio tradicional não consegue fazer frente a esse tipo de grandes infra-estruturas, por causa do preço que se pratica nesses locais, o comércio local não consegue acompanhá-lo. Estamos a falar de promoções que fazem não só com o pão, mas com outro tipo de matérias-primas. É impensável para mim vender um pão por 5 cêntimos”, afirmou. Por isso, acredita que a qualidade do serviço, mas também do pão é o que atrai os clientes. A Casa do Pão distingue-se por vender pão tradicional, que é cozido a forno de lenha, para além do pão que é produzido mesmo por Bruno Lopes, depois ter estado emigrado em Inglaterra, onde aprendeu como fazer este bem essencial.

Conta no talho aumenta

Conta no talho aumenta A carne é outro dos produtos que este ano está mais cara, à excepção da de porco. Os produtores têm vindo a aumentar o preço já desde Dezembro, mas em alguns talhos apenas depois do ano novo a tabela de preços foi actualizada. A carne de bovino foi a que teve maior aumento de preço, ficando mais cara cerca de 10% por o quilo. “Isso já vem do mês de Dezembro, nós é que mantivemos o preço, só no início do ano é que aumentámos”, afirma Jorge Alonso, do talho Loreto, em Bragança. Segundo o talhante, um dos motivos para o aumento do preço é a procura do produto ser maior do que a oferta. Mas também o aumento dos custos de produção que os agricultores enfrentam influencia este acréscimo, como o combustível, as rações e outros produtos. No talho, que já existe há 35 anos, não se nota que os clientes optem por cortes ou carne mais barata. “As pessoas levam a mesma coisa, nos hipermercados talvez procurem descontos, mas aqui as pessoas vêm comprar o que precisam e não estão a comparar preços”, assegura. No talho Jarrete e Jarrete, também em Bragança, confirma-se igualmente que “desde o final do ano passado e este ano a carne tem tido bastante subida”, um aumento mais notório na vitela, cordeiro e mesmo no frango. “Como o frango é mais barato, é das carnes mais procuradas e até o frango subiu bastante”, sublinha Joel Jarrete um dos proprietários do estabelecimento. O encarecimento tem a ver com a “subida das rações, da alimentação, dos combustíveis que também afecta os fornecedores” e tem sido gradual, segundo o comerciante, que refere que o acréscimo tem sido de 5 a 10 cêntimos por semana nos últimos tempos. Em média, um português consome 115 quilos de carne, por ano. Com o aumento do custo deste produto, que faz parte da dieta dos portugueses, os consumidores optam muitas vezes pelas carnes mais baratas. “Vão mais para o frango, por isso até tem subido muito, porque a procura tem aumentado muito”, refere. E apesar de os clientes deste talho em Bragança não optarem ainda por reduzir no consumo da carne, Joel Jarrete nota que as pessoas “olham mais para o preço” daquilo que compram. Ainda que a carne de porco tenha, para já, passado à margem do aumentado de preços, a verdade é que o fumeiro está agora mais caro.

Tomar café custa mais 10 cêntimos

À semelhança de vários outros produtos, o preço do café também subiu. Em Bragança, já quase todos os estabelecimentos o vendiam a 70 cêntimos, mas agora a maioria cobra mais dez cêntimos. Na capital de distrito já há muitos poucos sítios onde o café custe menos que 80 cêntimos. Parece até mesmo que já foi noutra vida que com um euro se tomavam dois. Segundo a Associação Industrial e Comercial do Café, em termos de aumento de preços de matérias-primas, este sector foi daqueles em que o impacto mais se sentiu, já que o preço do café verde subiu bastante. Consequentemente, o café vendido nos estabelecimentos também teve que aumentar de preço, muito por causa também da subida de preços das próprias embalagens e dos combustíveis. Amerson Lopes é proprietário, há meio ano, do café D’NOS. No espaço, recém- -aberto, ainda se vende a bebida a 70 cêntimos, mas será por muito pouco tempo. O empresário decidiu esperar uns dias para compreender se faria sentido aumentar o preço do café, estando a aguardar algumas facturas, para perceber se iria pagar mais por alguns produtos e, se fosse o caso, fazer as contas à vida. Ao Jornal Nordeste confessou que a subida está garantida, visto que “há vários cafés na cidade que já o colocaram a esse preço e não se pode fugir à regra”, sob pena de se ficar a “perder” dinheiro. “É certo que o preço do café terá que subir”, confirmou Amerson Lopes, que lamentou a situação, mas a verdade é que aumenta “o preço de tudo”. O empresário parece não ter outra solução, mas diz compreender os clientes, que “já começaram a reclamar” e alguns já até mesmo a dizer que, assim sendo, o tomarão mais vezes por casa. Amerson Lopes, como consumidor, também não concorda com este novo preço. “Um café a custar 80 cêntimos... é muito caro”. À semelhança do café, no D’NOS há outros produtos que deverão aumentar de preço. “Cada bolo já me custa mais 3 cêntimos.Assim como os produtos com os quais fazemos os petiscos que aqui vendemos, também nos custam mais agora, comparando com o que acontecia há muito poucos dias”, esclareceu ainda o empresário. O Tá Kuase, bem mais antigo que o D’NOS, continua a vender o café a 70 cêntimos. E não, não é só por agora que isto se vai manter. A proprietária, Silene Sá, recusa-se a cobrar mais que isso aos clientes, pelo menos este ano. “Aqui não vai aumentar bebida nenhuma. Os salários também não aumentaram e se aumentarem não será quase nada. Portanto não se justifica. Estamos solidários com os nossos clientes”, esclareceu a empresária. Questionada sobre se a decisão se vai manter, quando perceber que o que paga pelo café é um valor superior, Silene Sá mostra-se cheia de certezas. “Vamos manter tudo como está, mesmo que os restantes estabelecimentos que ainda não subiram ao preço decidam fazê-lo”, vincou. O café não é a única coisa que no Tá Kuase ficará como está. Segundo Silene Sá, “o preço das outras bebidas também se vai manter”, assumiu, dizendo que, em questões de comida, as sandes, torradas e tostas também não sofrem mexidas, ainda que o pão também já custe um bocado mais que em 2021.

Gás atinge máximo histórico

Na mudança de ano, é frequente os preços da energia serem actualizados. A subida do preço do gás não se sente neste início de ano, mas o gás engarrafado atingiu há cerca de um mês o máximo histórico de 30 euros por botija. “Desde Junho subiram os preços da garrafa de gás drasticamente, teve alteração quase todos os meses, estes aumentos foram astronómicos. Subiu cerca de 5 euros, no total, o preço das garrafas de 11 e 13 kg. É muita coisa. E na de 45 kg o aumento foi de 11 euros”, esclarece Amparo Barreira, representante da Galp no concelho de Mirandela. O preço nunca tinha estado tão elevado e isso leva as pessoas a economizar no gás. “As garrafas estão muito caras e as pessoas claro que vão poupando o máximo, têm de comprar na mesma, mas procuram economizar um bocado”, sublinha. A comerciante que vende cerca de 140 toneladas de gás por ano, afirma que a margem de lucro nunca esteve tão baixa, até porque com o aumento do preço do combustível, imprescindível para a distribuição do gás, nomeadamente nas aldeias, “é uma diferença muito grande do que era e cada vez a margem é mais curta”.

Jornalista: 
Carina Alves/Olga Telo Cordeiro/Ângela Pais