Associação Florestal endividada

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Qua, 02/11/2005 - 14:33


A Associação dos Produtores Florestais de Trás-os-Montes e Alto Douro (APROFLOR), sedeada em Mogadouro, deve milhares de euros a ex-trabalhadores e fornecedores de árvores e serviços.

A maioria dos salários em atraso remonta ao ano de 2003, uma situação que já levou os trabalhadores a rescindir o contrato de trabalho, após sucessivas reuniões com a direcção, liderada pelo ex-governador civil de Bragança, José Ruano.
Segundo um ex-trabalhador da associação, que preferiu manter o anonimato, a direcção foi fazendo sucessivas promessas para resolver o problema, mas, dois anos depois, continua tudo na mesma.
“Trabalhei na APROFLOR durante nove anos e, em Março de 2003, deixei de receber o salário. Esperei pela resolução da situação até Setembro do ano passado, altura em que percebi que a associação estava completamente endividada”, realça este antigo funcionário.
Na mesma situação encontra-se outra ex-trabalhadora, que se viu obrigada a pôr termo ao contrato de trabalho, após ter recebido três meses de salário com quase um ano de atraso.
Esta antiga funcionária, que também prefere manter o anonimato, conta que passou por uma situação financeira muito complicada, sempre na esperança de reaver o dinheiro a que tinha direito.

Dívidas foram aumentando

“Quando me pagaram os três meses de salário, quase um ano depois de ter começado a trabalhar na associação, o presidente da APROFLOR garantiu-me que os ordenados em atraso iriam ser regularizados e eu fui esperando pela resolução do problema”, recorda.
A esperança terminou algumas semanas depois, quando foi contactada por um outro membro da associação. “Posteriormente, fui informada pelo engenheiro Armando Pacheco, que disse estar mandatado por José Ruano para resolver o problema. A proposta que me foi feita, na altura, deixava para trás todos os ordenados que eu tinha em atraso, ao passo que o meu salário iria ser reduzido”, garante a ex-trabalhadora.
A rescisão do contrato de trabalho, válido por três anos, foi a opção da lesada, que garante ter direito a receber uma quantia que ronda os 20 mil euros.
Os descontos para a Segurança Social foram outra das irregularidades detectadas por esta antiga funcionária que, após o alerta do Instituto para do Desenvolvimento e Inspecção das Condições de Trabalho, descobriu que nem sequer estava inscrita naquele organismo. Esta situação acabou por ser resolvida, alguns meses mais tarde, após uma queixa na Segurança Social.
Entretanto, já depois de cessar de funções, os salários correspondentes ao ano de 2003 acabaram por ser liquidados, através de um acordo estabelecido entre o advogado da lesada e a associação. Já os vencimentos referentes ao ano de 2004 continuam por saldar.
Estes dois ex-trabalhadores remeteram o caso para o Tribunal do Trabalho e garantem que “vão lutar até ao fim por aquilo a que têm direito”.

Promessas não cumpridas

Mas as dívidas da APROFLOR não se ficam por aqui. Também alguns jeireiros contratados pela associação acabaram por não receber a jorna que tinha ficado acordada.
“Eu era o responsável por uma equipa de 12 trabalhadores e ficámos todos sem receber. A associação alegou que a situação económica estava complicada e prometeram resolver o problema, mas até hoje nada”, sublinha um jeireiro de Bruçó, que se considera lesado.
A par dos trabalhadores, também alguns fornecedores de árvores e serviços dizem-se credores. Um dos fornecedores dos viveiros florestais de Vila Flor garantiu ao Jornal NORDESTE que espera, há três anos, pelo pagamento de cerca de 7.500 euros.
Este fornecedor de árvores afirma que a dívida total foi amortizada com uma letra passada, em nome pessoal, por Ilídio Martins, um dos membros da direcção da APROFLOR. “Ele disse-me que a associação não tinha dinheiro e passou-me uma letra em nome pessoal de 2.700 euros”, afiança o empresário Vila Flor.
O viveirista afirma que ainda tem esperança de reaver o restante dinheiro, uma vez que, há cerca de um mês, o mesmo dirigente lhe garantiu que a situação financeira vai ser regularizada.
Ao que foi possível apurar, a APROFLOR continua a trabalhar na elaboração e execução de projectos florestais, na elaboração de candidaturas a subsídios agrícolas e na formação profissional.
Os trabalhadores e fornecedores lesados não compreendem a razão para o endividamento, uma vez que a associação recebe apoios do Estado e as candidaturas aos projectos também são fonte de receita.
O Jornal NORDESTE tentou auscultar a direcção da APROFLOR, que se recusou a prestar qualquer informação sobre o assunto e remeteu os esclarecimentos para mais tarde.