António dos Santos Afonso

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Ter, 09/05/2006 - 15:51


António dos Santos Afonso, o “Toneco da Moagem”, deixou-nos há cinco meses, aos oitenta e três anos. Foi, durante muitos anos, a face e o impulsionador da empresa situada no Loreto. Quem não se lembra da sua figura dinâmica e forte, cheia de energia e vitalidade?

Filho de Alexandre e Francisca Afonso, um entre oito irmãos, herdou de seus pais o espírito empreendedor, já que eles não se contentaram com uma vida de subsistência e alargaram os seus horizontes, primeiro com a abertura de uma loja em Ousilhão, onde comercializavam de tudo, para de um momento para outro venderem todos os seus bens e mudarem-se para Bragança com a esperança legítima de dar um futuro melhor à sua numerosa prole.
Já na nossa cidade era imperativo investir, criar riqueza, rentabilizar o dinheiro. Um passo à frente do seu tempo, este casal consegue prever o potencial dos campos ondulantes de trigo e centeio maduros prontos a serem transformados em farinha da qual se faz o pão ancestral e que nunca falta à mesa dos transmontanos. Quem tem pão não passa fome e talvez fosse essa a ideia que norteou estes pais.
Rapidamente entenderam que era necessário ampliar o negócio e para tal, além da associação com um cunhado, constituíram uma sociedade com Domingos Lopes e Alcino Lopes, importantes comerciantes locais. A partir daqui, a pequena moagem transforma-se numa próspera indústria de transformação e comércio de farinação de cereais.
Várias décadas passadas encontramos aqui, um exemplo de modernidade e mecanização neste tipo de indústria, não apenas no Nordeste Transmontano, mas até mesmo no país.
A marca deixada por homens e mulheres com coragem para transformarem sonhos em realidade, não sem árduos trabalhos, persiste no tempo; foi geradora de riqueza e tradição.
A partir de 1944, as quotas pertencentes a Domingos Lopes e Alcino Lopes passaram para os filhos de Alexandre Afonso e a empresa passou a ser um negócio de família e assim se mantém, felizmente.
António dos Santos Afonso e Francisco Afonso foram os filhos que mais se ligaram aos segredos da Moagem.
O Toneco da Moagem, com os conhecimentos adquiridos na Escola Industrial e Comercial de Bragança, vai pôr todo o seu entusiasmo e imaginação inventiva ao serviço do mester a que decidiu dedicar-se. O espaço físico foi obrigado a expandir-se. A empresa cresceu com um projecto elaborado por António Afonso. Grande parte dos equipamentos e da maquinaria saiu das mãos de inventor deste homem. Cabe aqui referir a sua participação no 13º Salon Internacional des Inventeurs que teve lugar em Bruxelas no ano de 1964 e onde foi agraciado com a Medalha de Prata pela invenção de um dispositivo separador (Ciclone) que permitia a peneiração de farinha sem recorrer ao habitual sistema de peneiras.
Em 1987 e na linha do extraordinário esforço empreendido na melhoria dos factores de produção, esta empresa viu reconhecido o seu mérito com a atribuição de um galardão Internacional, a medalha de ouro da INTERNATIONAL QUALI¬TY AND STANDART ORGANIZATION. Esta distinção somente é atribuída às empresas, cuja actividade seja considerada relevante pela qualidade dos seus produtos e serviços. Em 1993 faz parte da lista das Empresas distinguidas com o Estatuto PME, Prestígio.
Um aspecto talvez menos conhecido de António Afonso é o grande amor que nutria pela água. Custava-lhe imenso vê-la correr sem freios para o mar.
Foi obra sua a construção do açude de Gimonde que mais tarde a câmara transformou em barragem. Incentivou, com grande entusiasmo, a construção da barragem de Serra Serrada. Foi accionista da Hidroeléctrica do Tuela.
A água desempenhava um papel tão importante na sua vida que pouco antes de morrer expressou a sua mágoa dizendo: “Só tenho pena de morrer sem ver a barragem de Montesinho acabada.”
Sempre foi um homem interveniente e solidário. Apoiou as vítimas do Tsunami asiático que tantas vidas ceifou e foi dos primeiros a providenciar ajuda às vítimas dos incêndios que devastaram Portugal nos dois últimos Verões.
O nosso desejo é que continuem a surgir homens desta têmpera, com vontade de investirem na sua terra, geradores de riqueza, criadores de postos de trabalho, que apostem na qualidade e na eficiência, com ideias conducentes a um futuro melhor.

Marcolino Cepeda