Águias vigiadas à distância

PUB.

Ter, 02/08/2005 - 15:53


Várias centenas de aves de rapina morrem, anualmente, electrocutadas por colisão nos cabos e postes de alta e média tensão espalhados um pouco por todo o País.

A situação está a preocupar o Instituto de Conservação da Natureza (ICN) que, em parceria com o grupo EDP, Quercus e Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, estão a levar a cabo um projecto que utiliza tecnologia via satélite, para vigiar as aves de rapina. Entre as espécies que estão sob controlo estacam-se a Águia de Bonelli e a Águia-Real.
Segundo o biólogo do ICN, António Monteiro, o principal objectivo deste sistema inovador é seguir o percurso de algumas aves através da Internet.
Para o efeito é colocado no dorso da ave um pequeno e leve emissor, feito de materiais ultraleves semelhantes aos que são utilizados pela NASA – Agência Espacial Norte-americana.
“É colocada uma pequena mochila no dorso da ave, onde está inserido um minúsculo aparelho GPS e um microprocessador. Este aparelho envia, em tempo real, toda a informação para uma central de comando, responsável pela recepção dos dados”, explica o biólogo.

Aves vigiadas
desde a nascença

Esta tecnologia de vigilância da fauna é das mais avançadas em todo o Mundo e é utilizada essencialmente em aves “juvenis”, para permitir uma maior amplitude no estudo dos comportamentos das espécies, durante os períodos de dispersão.
De acordo com este especialista, durante os primeiros anos de vida, tal como os seres humanos, também as aves estão mais vulneráveis às ameaças. Por isso, sem este tipo de equipamento seria complicado estudar o comportamento destas aves, que estão em vias de extinção.
O erro de cálculo deste equipamento em relação trajectória da fauna é mínimo, visto que não ultrapassa os trinta metros e as viagens destas aves de rapina são de vários milhares de quilómetros.

Salvar espécies em
risco de extinção

Quanto aos resultados, António Monteiro confessa que têm sido curiosos desde que este estudo foi iniciado. “Durante três anos de investigação já foi possível identificar vários milhares de pontos GPS, que podem dizer, com toda a clareza, que aves nascidas em Trás-os-Montes fizeram movimentos de cerca de 500 quilómetros numa semana para voltarem ao mesmo sítio”, acrescentou o responsável.
O biólogo relatou, ainda, uma situação real que foi possível detectar através deste sistema tecnológico.
“Tivemos um caso de uma Águia-Real que esteve um mês em Espanha a alimentar-se de cegonhas brancas”, realçou o biólogo.
Estes dados, recolhidos até agora, puderam ajudar a salvar uma espécie ameaçada, que tem na região trasmontana um dos seus últimos refúgios.