Agricultura Biológica ganha terreno

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Ter, 04/07/2006 - 15:44


A produção agrícola em modo biológico é a aposta de 24 por cento dos agricultores transmontanos, para valorizarem e rentabilizarem os seus produtos.

O número de hectares com produtos vegetais tem registado um aumento significativo ano após ano. De acordo com os dados do Instituto de Desenvolvimento Rural e Hidráulica (IDRHa), em 1994, 3.324 hectares (ha) dos terrenos agrícolas transmontanos eram utilizados para praticar agricultura biológica, um número que ascendeu aos 18.549 ha no ano passado.
A crescente procura deste tipo de produtos por parte dos consumidores europeus leva os agricultores a adaptarem as suas produções às necessidades do mercado, pelo que, a par do aumento do número de produtores em modo de produção biológico, também se tem registado um crescimento ao nível da variedade dos produtos.
Em Trás-os-Montes, o olival e o amendoal são as culturas mais antigas em modo biológico, pelo que o número de hectares destinado a estas árvores é superior às restantes culturas.

Aposta no azeite

Pondo de parte os produtos químicos, há agricultores no distrito de Bragança que apostam, também, nas hortícolas, bem como noutras árvores de fruto, como é o caso de Celina Pereira, agricultora em Ervedosa (Vinhais).
Há dois anos, esta produtora apostou na agricultura biológica, nomeadamente na castanha, nas hortícolas e num micro-apiário, tendo em vista os mercados do distrito de Bragança, onde tem apostado, essencialmente, na divulgação dos seus produtos.
As pastagens biológicas também têm registado um aumento significativo, representando, no final do ano passado, 31,9 por cento da produção biológica em Trás-os-Montes, um número que já supera o cultivo do olival (27,3 por cento).
No entanto, em 2005, a produção animal em modo biológico registou, apenas, 47 operadores, um número muito inferior àqueles que se dedicam à produção vegetal (ver quadro1).
Na óptica do representante da Associação de Criadores de Gado e Agricultores, em Macedo de Cavaleiros, Francisco Carrilho, a criação de animais através deste sistema torna-se complicada, devido à falta de forragens nos anos mais secos.
No entanto, os ovinos e os caprinos são as principais apostas dos agricultores transmontanos (ver quadro 2).

Agricultura em reorganização

As culturas arvenses e os frutos secos também ocupam um lugar de destaque no leque de produtos biológico cultivados nos solos transmontanos com 23 e 13,7 por cento, respectivamente.
Tal como o número de ha, o número de operadores em agricultura biológica vegetal assinalou, igualmente, uma subida acentuada. Em 1997, estavam registados 91 agricultores, enquanto em 2005 estavam contabilizados 379. Já ao nível da produção animal, com início em 2002, o número aumentou de 23, no primeiro ano, para 47 no ano passado.
Contudo, o número de produtores tende a aumentar, uma vez que, no distrito de Bragança, está-se a apostar na conversão do modo de produção convencional para o biológico.
Segundo o director regional de Agricultura de Trás-os-Montes, Carlos Guerra, a lavoura transmontana encontra-se numa fase de reorganização e não de abandono como, por vezes, é referido. “A produção agrícola tem aumentado”, acrescentou o responsável.
Na óptica de Carlos Guerra, a agricultura biológica representa uma “fortíssima” alternativa para dar maior sustentabilidade ao sector agrário. Contudo, o responsável considera necessária a organização dos produtores, para ganharem competitividade no mercado.
“Não podemos criar sectores que não sejam sustentáveis. Os agricultores devem explorar o mercado conforme a procura existente ao nível das diferentes áreas de produção”, acrescentou o director regional.

Produção de mel biológico aumenta

Apesar do mercado dos produtos biológicos ainda não se encontrar saturado e da procura aumentar cada vez mais, Horácio Cordeiro, presidente da Associação de Agricultores Biológicos de Portugal, sedeada em Macedo de Cavaleiros, afirma que o maior problema da agricultura biológica é a comercialização.
“A venda dos produtos é fácil. O problema é que não existem circuitos de comercialização para os produtos biológicos, pois existem, apenas, pontos de venda em determinadas zonas do País”, realçou o responsável.
Já o presidente da Associação dos Produtores Agro-Florestais da Terra Quente, Dinis Martins, afirma que a associação tem estudado o mercado da agricultura biológica, quer a nível nacional quer internacional, contando, actualmente, com 18 pontos de venda na zona do Porto e Braga, onde são escoados os produtos dos agricultores associados.
Os produtores de mel da Associação de Apicultores do Parque Natural de Montesinho (AAPNM) mostram-se confiantes quanto à comercialização do produto.
“Nós vamos apostar no mercado onde já escoamos o mel com Denominação de Origem Protegida (DOP), tirando as mais valias, ao nível do preço, que o mel biológico nos proporciona”, salientou o presidente da AAPNM, Manuel Gonçalves.
Este é o primeiro ano que a associação vai produzir mel biológico, após ter aderido a um projecto de conversão.
“ A produção de mel biológico resultou de um projecto de investigação levado a cabo pelo Instituto Politécnico de Bragança, em parceria com a Associação de Apicultores, após a criação de uma substância natural para eliminar os ácaros que matam as abelhas”, explicou Manuel Gonçalves.

Sabonetes e cremes
biológicos na mira

Numa fase inicial, integram este projecto apicultores da aldeia de Milhão e dois produtores isolados: um em São Pedro de Sarracenos e outro em Rabal.
Com um total de 600 colmeias, Manuel Gonçalves afirma que, este ano, a produção de mel não vai ultrapassar os 600 mil quilos, visto que os efeitos da seca só agora é que se estão a repercutir.
Para além da agricultura, o presidente da AAPNM também está a trabalhar no sentido de certificar os sabonetes e cremes produzidos à base de azeite, mel, pólen e propólis.
“O azeite e o mel que utilizamos na confecção dos sabonetes e cremes são biológicos. Após a certificação do pólen e do propólis vamos candidatar os sabonetes e os cremes”, acrescentou Manuel Gonçalves.
Na óptica do responsável, daqui a dois anos é possível comercializar sabonetes e cremes certificados como biológicos.
Para grande parte dos produtores, a agricultura biológica representa o modo de produção do futuro, uma vez que está em causa a preservação da natureza e, acima de tudo, a saúde das pessoas.