Ter, 29/08/2006 - 16:30
“No documento apresentado em Julho passado pelo Governo refere-se que “não se considera necessário incentivar a criação de uma rede de aeródromos de suporte à rede principal de transporte aéreo já existente”, ou seja, aos aeroportos de Lisboa, Porto ou Faro. Apesar de tudo, o plano coloca no topo a infra-estrutura bragançana ao nível da qualidade do piso e comprimento de pista, juntamente com Aveiro, Évora, Cascais e Viseu.” (Jornal Nordeste - João Campos)
No entanto, e segundo o Sistema Aeroportuário Nacional, o futuro da pista de Bragança está pensado apenas numa perspectiva de prestação de serviços de transporte aéreo no âmbito do ordenamento de território.
“A contribuição do aeródromo de Bragança é para efeito do ordenamento do
território, sendo para tal necessário assegurar que a infra-estrutura cumpra com os
requisitos de security e de safety para operar com a função de transporte aéreo com
aeronaves de pequena dimensão”, refere o Sistema Aeroportuário.
O documento enumera ainda os principais constrangimentos dos aeródromos certificados que serão “derivados da falta de recursos humanos qualificados, bem como dos equipamentos existentes na área da comunicação, navegação, vigilância, e segurança”.
É necessário lutar contra a pequenez de pensamento. Temos de ansiar sempre por mais e melhor. Se podemos ter um pequeno aeroporto internacional, porquê não concretizá-lo?
Neste momento a pista do Aeródromo de Bragança tem 1700 metros e pode ser aumentada nas duas cabeceiras sem problemas, de maneira a receber aviões de maior porte, com capacidade para mais de cem passageiros. A construção de novas pistas, se necessário, também é possível. Quanto aos recursos humanos qualificados é uma questão de formação. A construção dos edifícios necessários à existência de um pequeno aeroporto, os equipamentos de comunicação, navegação, vigilância e segurança não constituem problema desde que haja vontade política.
A quantidade de passageiros a utilizar esta estrutura, actualmente, principalmente nos voos internacionais – Paris e Agen, atinge uma percentagem bastante razoável.
Então dei por mim a pensar na possibilidade de se criar aqui um pequeno aeroporto internacional a exemplo do de Faro. Porquê não?
Dirão os velhos do Restelo que essa é uma ideia louca, sem pés nem cabeça. Cabe-me contrapor e apresentar os meus argumentos, que têm o peso que lhe quiserem dar. Senão vejamos:
- Aeroporto de Lisboa, capital, que será substituído pelo da Ota, e que se apresenta como absolutamente indispensável;
- Aeroporto do Porto, capital do Norte, recentemente remodelado, também absolutamente indispensável;
- Aeroporto de Faro, Algarve, grande afluxo turístico, igualmente indispensável.
- Aeroporto de Bragança, nordeste, Espanha, Europa aqui tão perto, indispensável ao desenvolvimento de toda a região acima do rio Douro e também das regiões transfronteiriças, potenciando o turismo, de que ainda não conseguimos tirar partido e o desenvolvimento de modo geral.
Quatro aeroportos visando o desenvolvimento sustentado e equilibrado de todo o país e não apenas do litoral.
É necessário ter ideias concretas do que queremos fazer deste país. Não basta pensarmos que Portugal é Lisboa e o resto é paisagem, pois cada vez mais temos de apostar num todo, numa nação onde as pessoas possam viver em qualquer lugar com as mesmas condições. Onde a distribuição de riqueza e infra estruturas contribuam para a igualdade de todas as regiões do país. Não podemos cruzar os braços perante esta debandada de recursos para o litoral senão, qualquer dia, teremos uma Jangada de Pedra constituída pelo litoral atlântico, à deriva pelos mares, em rota de colisão com as ilhas que lhe estiverem mais próximas.
Claro está que não depende da Câmara Municipal de Bragança e das autarquias locais a concretização de tão grande sonho. Este deveria ser um projecto nacional.
Já recebemos voos internacionais, numa ínfima percentagem, claro está, quando comparado com os três maiores aeroportos do país. Mas é um começo. Já se provou que é possível e viável. Porquê não alargar o âmbito a toda a Europa, criando as condições necessárias para tal? É tudo uma questão de tempo, dinheiro e, principalmente, vontade.
Se a Blimunda do Memorial do Convento ressuscitasse pedir-lhe-iamos que capturasse as vontades dos membros do Governo, mas como é de todo impossível, temos de ser todos nós a fazê-lo.
Aeroporto Internacional de Bragança? Porquê não?
Marcolino Cepeda