Adérito Branco distingue contextos do Abade de Baçal

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Ter, 24/10/2006 - 10:59


A segunda conferência, no âmbito do projecto teatral “Por Detrás os Montes”, organizada pelo Teatro Municipal, Fundação Os Nossos Livros e a Câmara Municipal de Bragança requisitou, na passada quinta, a análise histórica de Adérito Branco (professor na Escola Superior de Educação de Bragança).

Marido da primeira oradora do Ciclo de Conferências, Luísa Branco, o docente analisou, globalmente, o curriculum vitae do Abade de Baçal, avivando os seus maiores contributos para a afirmação de Bragança no contexto nacional e internacional.
Presenciou-se um diálogo de historiador para historiador. Adérito Branco por formação académica e o Abade pela tentativa de dignificar a região ao longo dos tempos. Efectivamente, Francisco Alves, o sacerdote, de uma dimensão humana tremenda, participou tanto na portugalidade quanto os nomes Fernão Lopes, Alexandre Herculano e Fernando Pessoa. É certo que não foi um escritor de excelência, mas o engenho, as competências e o autodidactismo no domínio antropológico e etnográfico conferiram-lhe um estatuto de coleccionador de “chocalhos”, como ele chamava aos prémios recebidos nacionalmente.

Um romântico apelidado de Robespierre, que chumbou no seminário

Cognominado de Robespierre no seminário, o padre, que até reprovou numa cadeira de História, agarrou-se com todas as forças para fazer emergir a especificidade do Nordeste. Romântico na busca do tesouro histórico da cultura, sempre demonstrou a autoridade bragançana no panorama nacional, lutando ferozmente contra a discriminação do Estado. Tendo Herculano como mentor, concentrou na Idade Média os principais esforços nacionalistas. Era um homem do realismo, mas que se identificava com a corrente romântica, ao afirmar a sua paixão pelas raízes, um tratamento subjectivo da matéria, dos dados. Nas suas memórias arqueológicas, canta o Nordeste nas suas épocas gloriosas, cessando com o capitalismo discriminatório das descobertas renascentistas e as arcádias neoclacissistas. Depois destas fases de rejeição transmontana (descobertas e neoclassicismo), volta a dar notoriedade aos séculos XVIII e XIX e subsequentes causas do desmoronamento épico, cultural, social e económico da sua região.
Adérito Branco soube cativar os presentes, com análises enternecedoras da vida da maior figura brigantina, muito embora tivesse que recorrer a conclusões muito sui generis.
Findada a palestra, o orador e o bispo diocesano D. António Montes, interagiram com o público sobre a riqueza dos testemunhos de um Homem polivalente, que se entregou totalmente à igreja e ao povo de Portugal.