Acidente de trabalho mata dois irmãos

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Ter, 10/05/2005 - 15:21


O Instituto para o Desenvolvimento e Inspecção das Condições de Trabalho (IDICT) ordenou a suspensão das obras no antigo Solar dos Pimenteis, concelho de Mogadouro, onde morreram dois operários num acidente ocorrido na passada quinta-feira.

A suspensão foi feita por tempo indeterminado na totalidade da obra e só será levantada quando o IDICT apurar as causas que poderão ter originado o acidente.
O delegado distrital do IDICT, Rui Arrifana, não avança com hipóteses, mas admite a possibilidade da placa de cimento que desabou não estar completamente seca.
Recorde-se que a estrutura em causa tinha cerca de 350 metros quadrados e tinha sido colocada há cerca de três semanas. Mas, para proceder à retirada da cofragem dos pilares que sustentavam a placa era necessário esperar trinta dias, prazo que não terá sido cumprido.
Atendendo às circunstâncias, Rui Arrifana afirma que foram detectadas “irregularidades” no local do acidente e em outras frentes de obra.
Resta, agora, esperar pelos exames periciais que estão a ser efectuados para determinar, com rigor, as causas do acidente.
Recorde-se que o acidente de trabalho tirou a vida a dois irmãos que trabalhavam na construção do hotel rural que vai nascer na aldeia de Castelo Branco, no concelho mogadourense.

Tragédia enluta família

As vítimas mortais são naturais de Lousada e trabalhavam para uma empresa da mesma localidade. Trata-se de Paulo Barbosa, 34 anos, e Fernando Barbosa, 37 anos, que sucumbiram ao desabamento duma placa de betão com cerca de 350 metros quadrados, que terá sido colocada há duas semanas.
O acidente feriu ainda Filipe Barbosa, 21 anos, sobrinho dos operários falecidos.
Ainda não eram 8 horas quando os três trabalhadores retiravam o material de cofragem que suportava a estrutura do futuro restaurante do Solar dos Pimentéis.
A tragédia deu-se quando a placa de betão desabou, esmagando as duas vítimas mortais. Habitantes da aldeia concentraram-se no local do acidente e garantiram que o estrondo provocado pela queda da estrutura levantou uma enorme nuvem de poeira e fez-se ouvir num raio de 200 metros.
As vítimas foram retiradas do local pelos Bombeiros Voluntários de Mogadouro, quase duas horas depois do desabamento. Nas operações os BVM tiveram de usar uma escavadora giratória para retirar os destroços da placa de cimento.
Filipe Barbosa conseguiu escapar com vida, encontrando-se livre de perigo, após ter sido assistido no Hospital Distrital de Macedo de Cavaleiros.

Obra comparticipada pelo Governo

A criação duma unidade de turismo rural naquela aldeia envolve a recuperação do Solar dos Pimentéis, um imóvel do século XVIII classificado como Imóvel de Interesse Público. O acidente, contudo, não se deu nos trabalhos de restauro, mas na construção duma estrutura de raiz destinada ao restaurante, segundo explicou o coordenador do empreendimento turístico, Hirondino Isaías.
Ao que foi possível apurar, os operários pertenciam a um sub empreiteiro a quem foi contratada a construção daquela estrutura.

A transformação e adaptação do Solar dos Pimentéis vai custar cinco milhões de euros, comparticipados em 65 por centro pelo Fundo de Turismo.
As obras arrancaram há cerca de dois anos e a inauguração deverá ser feita ainda este Verão.
A futura unidade vai contar com 40 quartos, restaurante, um pequeno auditório, cafetaria e um núcleo museológico.
Além disso, está prevista a criação de um centro hípico, carreira de tiro desportivo, ginásio, sauna, mini-golf, clube de saúde, piscinas e campo de ténis.
As duas mortes ocorridas em Castelo Branco fazem elevar para 31 o número de pessoas vitimadas por acidentes de trabalho ao longo deste ano. Dezassete delas trabalhavam na construção civil, sector que, segundo dados do IDICT, lidera o número de acidentes de trabalho mortais.

João Campos/Francisco Pinto