Ter, 11/07/2006 - 15:46
Com seis letrinhas, apenas, se escreve a palavra FÉRIAS. E, de todas, é aquela que melhor rima com LÉRIAS.
Agora, a sério. Que as férias não são para brincadeiras. Muito pelo contrário. São uma questão que faz correr muita gente, arramar-se muito esforço financeiro e, sobretudo, esgotar-se muita paciência. Porque não vai de férias quem quer; é quem acha que quer, porque acha que precisa, porque acha que merece. Como no anúncio da televisão, onde a imagem que nos querem fazer vender passa invariavelmente ao lado do resultado que as expectativas fizeram sugerir.
O grande prazer com que vivemos as férias concentra-se nos momentos em que as vamos desejando, com 180 dias de antecedência – tempo suficiente para nos termos esquecido das últimas.
Está visto que pensamos em férias quase todo o ano (um pouco menos durante o fim de semana) e nem sempre percebemos bem porquê, quando as gozamos – o que lança novas leituras sobre o significado deste verbo…
Porque a realidade dos calores de Julho ou Agosto nunca parece estar à altura das fantasias imaginadas junto ao aquecedor, quando a chuva de Janeiro bate aos vidros. Os 40 graus à sombra só soam a idílico quando enterramos o nariz no fundo do cachecol. O sal que nos queimou a pele dorida do sol parece até desejável quando usamos duas camisolas interiores. E a areia que se colou ao creme que acabámos de espalhar nos braços assemelha-se a uma bênção dos deuses marinhos quando nos afogamos na geada matinal de Fevereiro.
E, por isso, no Inverno pomo-nos finos, pomo-nos em campo e pomo-nos a fazer contas à vida e aos orçamentos. A melhor maneira de esquecer uma crise é criar outra crise. Por isso, esquecemos o stress do emprego, dos dias, das noites, do fim do mês e mergulhamos na síndroma “férias à vista”: aonde iremos? Com quem? Quanto tempo ficaremos? Quanto gastaremos? E ouve-se o toque a rebate para reunir fatos de banho, protectores solares, repelentes de insectos e latas de atum. Que aí vamos nós!
As ovelhas tresmalhadas que tiverem recusado o incontornável pacote das férias na praia poderão optar por qualquer uma das seguintes modalidades: férias na aldeia (avozinha, por que tens os olhos e os ouvidos tão grandes?); férias vá para fora cá dentro (país profundo, alô? alô? já ninguém responde?); férias numa capital europeia (a melhor maneira de contactar com muitas línguas, excepto a do país em causa, porque os nativos debandaram todos para as praias do Sul); férias no Oriente exótico (que farão grande inveja aos amigos e que permitirão decorar a casa com vistosos bibelôs “made in Taiwan”).
Mas os persistentemente tradicionais, os verdadeiros conservadores, não passam sem os seus banhos de sol, com tudo o que isso implica e complica: bolas à solta que aterram onde menos se espera; rádios histéricos desejosos de se familiarizar; uma dormidinha rápida que termina em escaldão. E outros mimos típicos das concentrações humanas à beira-mar aturadas.
O que seria do mês de Agosto sem mar nem salada russa? E como se poderia enfrentar os amigos, em Setembro, sem um bronzeado estonteante? Custe o que custar. Porque, nestas coisas, o importante é ir. Na vaga ilusão da fuga…