Ter, 09/09/2025 - 14:46
A pacatez de Pinela, no concelho de Bragança, prepara-se para receber um empreendimento que pode marcar um ponto de viragem na economia local e regional, o novo hotel do grupo Água Hotels. O investimento, por si só, traduz ambição e confiança numa terra tantas vezes esquecida das grandes apostas privadas. No entanto, esta obra, que já deveria estar mais próxima da conclusão, carrega consigo um problema que é, ao mesmo tempo, local e nacional: a falta de mão de obra no Interior.
Segundo Adriano Martins, natural de Rebordainhos e responsável pelo projeto, a unidade hoteleira poderia estar já de portas abertas se não fosse a escassez de trabalhadores disponíveis e a demora na aprovação de fundos do Portugal 2030. O edifício ergue-se imponente, os quartos já têm forma, mas nos corredores e nas salas ecoa uma ausência, a dos operários que poderiam acelerar os acabamentos. Não é apenas uma questão de calendário, é um sintoma de um problema estrutural.
A falta de mão de obra no setor da construção e do turismo é um dos maiores desafios da atualidade. Nas cidades do Litoral, a concorrência entre empresas ainda garante alguma resposta, mas no Interior a realidade é bem diferente. Jovens formados partem em busca de melhores salários e oportunidades noutras paragens, deixando para trás um vazio difícil de preencher. O resultado é visível: os projetos atrasam-se, os investimentos perdem competitividade e empresários são forçados a considerar trazer trabalhadores de regiões distantes para concluir empreitadas em Trás-os-Montes.
Este não é um caso isolado. O hotel de Pinela simboliza, com clareza, aquilo que tantos outros empreendedores enfrentam diariamente no Interior: a vontade de investir existe, os projetos avançam, mas tropeçam em limitações humanas e burocráticas. A lentidão dos programas de apoio comunitário, como o Portugal 2030, soma-se ao problema. Aprovações que demoram mais de um ano tornam-se um entrave difícil de justificar numa altura em que tanto se fala em coesão territorial e desenvolvimento equilibrado.
E, no entanto, importa olhar para o lado positivo: quando finalmente abrir portas, a nova unidade criará entre 80 e 100 postos de trabalho, diretos e indiretos, um impacto significativo numa região que luta contra a desertificação. Mais do que um hotel de luxo, este projeto representa um motor de dinamização, uma oportunidade para fixar pessoas, valorizar tradições e mostrar ao mundo a autenticidade de Trás-os-Montes.
Mas não nos podemos iludir. Sem uma estratégia séria para atrair e reter mão de obra no Interior, este e outros investimentos continuarão a enfrentar obstáculos. É necessário valorizar profissões técnicas, garantir condições de trabalho dignas e, sobretudo, criar incentivos reais para que os jovens e famílias vejam futuro em viver e trabalhar no nosso território. De pouco serve inaugurar edifícios modernos se faltarem braços para os construir e talentos para os manter a funcionar.
Pinela espera pelo seu hotel. A região espera pelos seus trabalhadores. E nós, enquanto comunidade, esperamos que este caso sirva de alerta. Não basta celebrar o investimento, é preciso enfrentar os problemas que o ameaçam. Porque o futuro do Interior não se constrói apenas com pedra e cal, constrói-se, sobretudo, com pessoas.
Carina Alves, Diretora de Informação