Pela mão da minha filha Inês, tive a oportunidade de ler, com prazer, emoção e alguma comoção o livro de Susana Moreira Marques “Agora e na Hora da Nossa Morte” editado pela Tinta da China. A jornalista/escritora registou as histórias, os comentários e as suas impressões, de várias visitas às terras de Miranda entre junho e outubro de 2011. Estava no terreno um projeto idealizado por Jorge Soares e Sérgio Gulbenkian, diretor e diretor adjunto do Serviço de Saúde e Desenvolvimento Humano da Fundação Calouste Gulbenkian. Foi o Sérgio que, pela primeira vez me falou dele, por saber dos laços familiares e de proximidade ao Planalto e tive oportunidade de ouvir detalhar ao Jorge, numa das várias reuniões de diretores na Praça de Espanha. Figura relevante neste desígnio de democratizar, estender e melhorar os cuidados paliativos em Miranda, Vimioso e Mogadouro foi Jacinta Fernandes, coordenadora da Unidade Domiciliária dos Cuidados Paliativos daquela região. Encontrei-a no início de 2014, em Bragança por ocasião da reunião da Assembleia Distrital, tinha eu sido eleito para a presidência da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo e ela reeleita para a de Miranda do Douro. Trocámos breves, mas interessantes, impressões sobre este projeto consolidando a impressão que trazia da sua relevância e interesse para a região. Falei, logo que tive oportunidade, com o António José Salgado, coordenador do Centro de Saúde de Moncorvo que me acompanhara lista e na campanha autárquica e, tendo obtido a sua concordância, empenhei-me, no meu regresso a Lisboa, em explorar a possibilidade de extensão deste projeto às terras de Mendo Corvo. Não foi uma tarefa fácil não só por causa da rigorosa gestão orçamental, mas, igualmente, porque era necessário obter a concordância de Jacinta Fernandes. Tudo isso foi ultrapas- sado com a boa vontade do responsável do Centro de Saúde de Moncorvo disponibilizando os re- cursos adicionais necessários, por reconhecer a mais valia do projeto para a população e, logo, para a unidade que dirigia. De Miranda veio, igualmente, um generoso e solidário sim e, em Lisboa, começou a ganhar forma a extensão da experiência ganhando com isso dimensão e, igualmente, trazendo crédito para a iniciativa, por funcionar como uma espécie de avaliação positiva, intermédia, antes do seu termo. O próprio executivo da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo reservava já, para o novo orçamento, uma verba adequada para o apoio domiciliário… Porém, a forma como o Presidente da Câmara moncorvense idealizara este apoio não se coadu- nava com o forma opera- cional daquele que estava já em curso, com os resultados conhecidos e com as normais expetativas. O projeto da Câmara de Moncorvo era outro: não tinha nada a ver com Miranda e o apadrinhamento da Gulbenkian apenas seria aceite se passasse pelo apoio da Santa Casa da Misericórdia de Torre de Moncorvo. Como tal não aconteceu, em Moncorvo nasceu um novo projeto liderado pela Misericórdia e financiado pela Câmara. Desconheço qualquer avaliação e nunca tive conhecimento da publicação dos resultados obtidos. Seguramente serão relevantes e bons, mas duvido que, sozinhos, tenham ido tão longe quanto poderiam ter ido se pudessem acrescentar valor ao que já estava no terreno. Daí que, de todo o livro da Susana Marques, a frase que mais me tocou é a do final da página 24 e que escolhi para titular este texto: “Uma ilha, mas em vez de mar, terra.”