Na mesma semana em que a Maria Mota fez publicar no Jornal Expresso um texto proclamando as virtudes da aplicação do método científico nas decisões políticas, a propósito da eleição de Claudia Sheinbaum Pardo para a Presidência do México, Ernesto Rodrigues edita mais um livro, com um título suges- tivo “o Bom Governo” e Rui Tavares desafia os partidos de esquerda para a constituição de uma plataforma política de combate à deriva direitista dos tempos correntes. Para além da coincidência temporal e da temática comum há uma referência espacial associada, nomeadamente a cercania da Estação Agronómica de Oeiras. É aí que tem morada o escritor nordestino e, igualmente, estão as instalações do antigo Instituto Gulbenkian de Ciência onde Maria Mota desenvolveu o seu primeiro pós-doutoramento em Portugal, na primeira década deste século e de onde veio Francisco Paupério, o candidato do Livre às eleições europeias. Rui Tavares é um político de verbo fácil, simpático, com um discurso bem fundamentado e com grande dose de razoabilidade, pouco habitual na área política onde se insere. Apesar de ter sido eurodeputado integrado no Bloco, de que, programaticamente, pouco se diferencia, fundou um partido, o Livre, com o objetivo primeiro de ser diferente, original e trazer para a política novas metodologias apregoadas como mais democráticas, mais acessíveis ao comum dos cidadãos, em concreto dos militantes e simpa- tizantes, afastando-o da tradicional estrutura partidária conhecida como o “aparelho”. Promoveu as diretas como método de escolha dos lugares de representação partidária, nomeadamente na elaboração das disputadas e desejadas listas de candidatos, porque, segundo o próprio, essa é a escolha correta… enquanto produzir os resultados esperados pela direção partidária! Porque o acerto no processo que levou Joacine a São Bento, foi assumido como um erro pela liderança do Livre, pouco tempo depois de eleita porque esta decidiu recusar ser correia de transmissão da Mesa do partido… razão invocada, precisamente, para a sua escolha. Para as europeias, Rui Tavares e companhia, quiseram impugnar a escolha de Francisco Paupério porque, pasme-se, teve um número “anormalmente” elevado de votos, nas diretas. Tal foi o inconcebível desconforto por este resultado, dentro das regras estabelecidas, que o líder partidário só apareceu em campanha quando as sondagens davam conta de um possível resultado histórico da formação. Resultado assinalável pois foi o único partido de esquerda a melhorar os resultados de 2019 em que, curiosamente, o cabeça de lista era o próprio Rui, que, ausente na rua, foi lesto a chamar a si tal feito, na noite eleitoral. E, enquanto Paupério regressa à bancada laboratorial de Oeiras, Tavares usa o seu trabalho para se arrogar em putativo federador da esquerda. Maria Mota, esperando que a formação científica da nova presidente mexicana a capacite para melhor formular as ações políticas para que sejam racionais e eficazes, para benefício das populações, vai alertando que tal não é, só por si, sinónimo de sucesso, lembrando o presidente norte-americano Herbert Hoover que apesar do seu desempenho, na observância desses pressupostos, não conseguiu a reeleição, pela sua inabilidade na comunicação. Mais radical parece ser Ernesto Rodrigues que, a avaliar pela sinopse disponível, “garante” que o bom governo precisa de cem mi- nistros a trabalhar à noite com cem funcionários em cada gabinete ministerial… ou o seu sucedâneo que, citando, Goethe, como sendo o melhor de todos, será “O que nos ensina a governar- -nos a nós próprios”.