Ter, 09/01/2007 - 11:37
No início da década de 80, duas professoras que se conheceram na Escola Fernando Pessoa, em Lisboa, entregaram-se à tarefa de conquistar jovens para a leitura. Hoje, vinte e cinco anos e uma infinidade de volumes depois do primeiro livro, as aventuras das gémeas Teresa e Luísa, Chico, Pedro, João e o cão Faial são, sem dúvida, a colecção mais popular entre as crianças e adolescentes portugueses, com mais de seis milhões de exemplares vendidos. O sucesso explica-se muito pela preocupação pedagógica das suas histórias, que, com as suas constantes viagens a museus, bibliotecas, diferentes cidades e países, se projectam como verdadeiras lições da História de Portugal de uma forma quase subliminar. O sucesso das duas escritoras é tão magestoso que As aventuras Literárias foram adaptadas para televisão. Mas um livro é sempre um livro…
Jornal NORDESTE (JN) – Como começou o projecto “Uma Aventura”?
Ana Maria Magalhães | Isabel Alçada (AMM | IA) – O projecto “Uma Aventura” começou em 1982, na sequência de quatro anos de trabalho em comum, na qualidade de professoras de Português e História do 2º Ciclo.
JN – Por que resolveram escrever juntas? Como se escreve um livro em parceria?
AMM | IA – Antes de escrevermos juntas preparámos muitas aulas em conjunto e fichas de trabalho, guias para visitas de estudo, etc. Um dia lembrámo-nos de fazer pequenas histórias para uma turma que não gostava de ler. Como resultou bem, mais tarde abalançámo-nos a escrever um livro na intenção de publicar. Deste modo decidimos aventurar-nos num livro, para publicar.
Escrever em conjunto não é fácil. Mas nós temos ideias convergentes e habituamo-nos a pô-las em comum. Sentamo-nos à mesa, combinamos o que houver a combinar e depois vamos escrevendo a par.
JN – Qual o primeiro livro que escreveram?
AMM | IA – O primeiro livro foi “Uma Aventura na Cidade” em Novembro de 1982.
JN – Porque decidiram escrever literatura infantil?
AMM | IA – Dedicámo-nos à literatura infantil porque é essa a nossa vocação, e certamente também por sermos ambas irmãs mais velhas de grandes famílias e professoras.
JN – Escrevem para satisfazer um desejo próprio ou alheio?
AMM | IA – Não se pode escrever se não for por desejo próprio.
JN – Com que personagens de “Uma Aventura” se identificam mais?
AMM | IA – Não nos identificamos com as personagens da colecção “Uma Aventura”, pois são inspiradas em pessoas reais, alunos nossos.
As personagens de “Uma Aventura” foram seleccionadas entre os nossos alunos. Escolhemos as gémeas porque são vivas, despachadas, cheias de iniciativa, e além disso tinham a particularidade engraçada de serem iguaizinhas. O Pedro foi escolhido por ser um dos melhores alunos da escola, muito inteligente, muito reflectido e muito bom colega. O Chico era um aluno fraco a tudo e o melhor da escola a Educação Física. Tinha muita coragem, era forte, destemido, o ideal para um grupo aventureiro. Quanto ao João, não foi nosso aluno mas andava na escola e tinha um cão de raça pastor-alemão que um dia entrou na cantina e deixou toda a gente em pânico, incluindo nós as duas.
JN – E as personagens da colecção “Viagens no Tempo”?
AMM | IA – As personagens da colecção Viagens no Tempo não existem mas são inspiradas em pessoas que conhecemos. A Ana em figuras de raparigas ajuizadas, mas corajosas, o João em rapazes estarolados sempre prontos para experiências diferentes. O Orlando é uma composição feita a partir de dois cientistas, ambos alegres e amantes de desporto.
JN – Falem-nos um pouco a vossa obra?
AMM | IA – A nossa obra abarca neste momento livros destinados a Jardins-de-infância, por exemplo “O Leão e o Canguru”, que faz parte de uma colecção de quatro livros. Livros destinados ao 1º Ciclo, como por exemplo “A Bruxa Cartuxa”, que também faz parte de uma colecção de 4 livros. “Uma Aventura” e “Viagens no Tempo”, que podem ser lidos no 1º e 2º Ciclo. Livros para adolescentes “Diário Secreto de Camila”, centrado numa personagem feminina, “Quero ser outro”, centrado numa figura masculina, e mais 2 livros com temáticas do género.
Livros de lendas. Livros de História de Portugal, que podem ser lidos por crianças ou adultos, pois foram pensados para divulgar a nossa história e surgiram na sequência de uma proposta do grande especialista dos descobrimentos, Luís de Albuquerque.
JN – Já vieram alguma vez ao Nordeste Transmontano?
AMM | IA – Ambas conhecemos o Nordeste, sobretudo Bragança. Trata-se de uma linda cidade e com personalidade.
JN – A cidade já as inspirou para algum livro?
AMM | IA – Ainda não escrevemos nenhum livro passado em Bragança, mas “Uma Aventura na Férias do Natal” tem como cenário o nordeste transmontano.
JN – Que visão têm sobre a adaptação de “Uma Aventura” ao pequeno ecrã?
AMM | IA – Achámos graça à adaptação dos nossos livros à série televisiva, apesar das restrições impostas pelo orçamento.
JN – Acreditam que os vossos livros são intemporais?
AMM | IA – Até agora, os livros continuam a agradar aos jovens e já lá vão 24b anos. Veremos se são intemporais…
JN – Ambas têm profundas ligações ao ensino-aprendizagem. Como vêem, actualmente, este processo?
AMM | IA – O ensino em Portugal tem vertentes muito bem conseguidas e até originais, mas também tem fragilidades, que deverão ser corrigidas
JN – Quais são os grandes segredos para escrever Literatura Infantil?
AMM | IA – Para escrever para crianças é necessário conhecê-las e entendê-las.
JN – A designação Infantil é uma modalidade menor da Literatura?
AMM | IA – A literatura infantil não é menor, é específica.
JN – Consideram-se Modernistas, quanto ao facto de abrirem mentalidades fechadas e fazerem ruir os cânones dos anos oitenta?
AMM | IA – Não gostamos de rótulos, mas reconhecemos que o aparecimento da colecção “Uma Aventura” nos anos 80 teve muita importância, levando os autores e escritores a reflectir e alargar o leque de apostas para os mais jovens.
JN – Uma palavra para o povo nordestino, que as idolatra tanto?
AMM | IA – Ao povo nordestino, desejamos o melhor do mundo e que nunca perda a sua enorme personalidade!