Qua, 03/01/2007 - 10:23
A iniciativa de convidar um padre do outro lado da fronteira partiu de um grupo de pessoas ligado à organização da tradicional Fogueira do Galo, que se viu confrontado com a ausência de um padre para celebrar a missa do galo.
Recorde-se que o cónego Paulo Pires, que dirige os serviços religiosos na cidade, encontra-se afastado por motivo de doença, pelo que foi preciso encontrar alternativas.
Após várias diligências junto da diocese, não foi possível arranjar um padre português para presidir à celebração. Ao que foi possível apurar, todos os clérigos se encontravam em funções nas respectivas paróquias, uma situação que espelha bem a falta de padres na região.
A celebração da missa e a fogueira do galo têm, na cidade de Miranda do Douro, uma forte componente religiosa e de convívio entre conterrâneos e famílias, que na maior parte do ano se encontram fora da terra natal. Por isso, ambas as actividades ganham um maior significado.
Fiéis aconselham o bispo diocesano a olhar para o problema, já que o pároco de Miranda “é uma pessoa com idade avançada”
Assim, apesar da polémica e das temperaturas negativas que se fizerem sentir na noite de consoada, os mirandeses acabaram por cumprir a tradição de assistir às cerimónias natalícias. No entanto, os fiéis foram alertando para a “necessidade de o bispo diocesano olhar para o problema, já que o pároco local é uma pessoa com idade avançada”.
Segundo o presidente da Câmara Municipal de Miranda do Douro, Manuel Rodrigo, a situação é compreensível, já que há poucos sacerdotes na região. “Na minha opinião não interessa se o padre é espanhol ou português, o importante é estar com fé e devoção, continuando com uma tradição que se perde no tempo”, referiu o edil.
Já Don Rofino de Barrios, padre castelhano que conduziu a Missa do Galo, disse, ao Jornal NORDESTE, que há poucas diferenças na celebração da eucaristia e que tudo se prende com a questão de costumes.
Esta colaboração luso-espanhola já é antiga. Recuando na história até à altura em que Miranda do Douro era uma cidade de bispos - foi sede de diocese entre 1545 e 1780 -, verifica-se que eram comuns os intercâmbios entre padres do cabido mirandês e da região de Castela.