Ter, 12/12/2006 - 12:12
Concluí o curso de Medicina em 1970, doutorei-me em 1986 e fiz provas de Agregação em 1997, na Faculdade de Medicina de Lisboa, onde sou professor de Psiquiatria.
Chefe de Serviço de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, tenho-me dedicado sobretudo à intervenção terapêutica junto de jovens em risco.
Fui um dos introdutores da terapia familiar em Portugal, após formação com Carl Whitaker, um dos pioneiros dessa técnica de intervenção em saúde mental.
Os livros que publico partem da minha experiência clínica e pretendem ilustrar algumas dificuldades dos adolescentes e das suas famílias”. – Auto biografia, Daniel Sampaio
Jornal NORDESTE (J.N.) – Já foi buscar ao Nordeste Transmontano experiências para as suas obras?
Daniel Sampaio (D.S.) – Sim. No meu livro “Tudo o que temos cá dentro” há muitas referências a Bragança, terra de origem de parte da família. Os leitores poderão reconhecer o Parque de Montesinho e outras paisagens e, sobretudo, sentir a atmosfera de Trás – os – Montes. Gostei muito de passar lá uns dias e espero voltar em breve.
J.N. – Pelo seu conhecimento da juventude portuguesa, pensa que os adolescentes da região interior crescem menos que outros da geografia litoral?
D.S. – Penso que não. Os jovens contactam muito uns com os outros pela Internet e deslocam-se cada vez mais. Não existem grandes diferenças entre os jovens do interior e os do litoral, só que estes têm, muitas vezes, mais oportunidades.
J.N. – Nos últimos 28 anos, já publicou 15 livros. Quem são os seus leitores predilectos?
D.S. – Tenho leitores muito diversificados, mas estes últimos livros escrevi-os sobretudo para pais, educadores e professores, embora tenha muitos leitores jovens. Como conto muitas histórias, acho que se interessam.
J.N. – Quais são os objectivos primordiais das suas obras? E Como transporta o diálogo da sua vida para o cosmos literário, ou, pelo contrário, não existem fronteiras?
D.S. – O objectivo principal é partilhar uma experiência, já com trinta anos de trabalho com adolescentes e suas famílias, bem com transmitir vivências do que tenho aprendido nas escolas. No meu último livro, “Lavrar o mar”, contesto o conceito tradicional de que a adolescência é uma época de passagem e defendo que os adolescentes devem ser considerados adultos jovens. Não existem fronteiras, todos os escritores vão buscar tudo à realidade.
“Desde que escrevi “Inventem-se novos pais”, há doze anos, muita coisa se modificou. Os pais e professores perderam autoridade e novos desafios surgiram”
J.N. – A obra “Árvore sem voz” é um conjunto de crónicas e uma peça de teatro. O que aborda esta “árvore” necessitada?
D.S. – Os temas habituais da minha obra: a família, a escola, o diálogo pais-filhos. Faço algumas incursões na política, criticando por exemplo o Dr. Barroso por ter abandonado o país; e escrevi a peça de teatro “Vagabundos de nós” para que o tema da homossexualidade fosse discutido.
J.N. – Pretende seguir a via da Literatura?
D.S. – O romance não está nos meus planos. Para se escrever um bom romance é preciso mergulhar muito tempo no livro e eu isso não posso fazer. A escrita é apenas uma parte da minha actividade. Tenho os meus doentes, os meus alunos da Faculdade, vou muito às escolas e falo com professores. Com os livros procuro sobretudo transmitir a minha experiência clínica.
J.N. – “Lavrar o Mar”, o seu último livro, foca, sobretudo, um novo relacionamento entre pais e filhos adolescentes. Porquê a necessidade de actualizar estas relações?
D.S – Este título foi sugerido por António Lobo Antunes. Precisou depois do subtítulo “Um Novo Olhar sobre o relacionamento entre Pais e Filhos” para que as pessoas percebessem do que se tratava. Desde que escrevi “Inventem-se novos pais”, há doze anos, muita coisa se modificou. Os pais e professores perderam autoridade e novos desafios surgiram (novas drogas, questões na NET, sexo e amor diferentes). “Lavrar o mar” é um livro que precisa de ser discutido, porque é novo na forma de abordar o relacionamento entre pais e filhos. Deste modo, Lavrar o Mar é um mar de dificuldades, mas que é necessário resolver.
J.N – O que distingue fundamentalmente a instrução na escola da educação em casa?
D.S. – É uma boa pergunta, porque muitas vezes estão confundidos os parâmetros. A família entregou à escola muitas funções que antigamente lhe pertenciam: a função de socialização e, em muitos casos, até de educação. Do meu ponto de vista os dois vértices fundamentais da acção dos pais são o amor e a disciplina. A escola deve funcionar mais a nível cognitivo, da informação.