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“Vivíamos à sombra do comboio”

Ter, 07/11/2006 - 10:24


Aos 80 anos de idade, Agostinho Castanheira recorda, com exactidão, os acontecimentos e datas que fizeram parte dos seus 40 anos de serviço na CP.

Oriundo do concelho de Alijó, o antigo revisor trabalhou, durante sete anos, em Bragança, altura em que concorreu a um emprego na estação da Campanhã, no Porto.
Passados oito anos, regressa à região para continuar ao serviço da CP. É aí que conhece a sua futura mulher, oriunda de Salsas, localidade escolhida pelo casal para morar.
Nessa altura, assume as funções de fiscal da CP, profissão que desempenhou até 1986, altura em que se reformou. “Foram 23 anos a trabalhar como revisor e a ganhar cerca de 15 escudos por dia”, salientou Agostinho Castanheira.
Diversos habitantes daquela aldeia trabalharam nos caminhos-de-ferro, pois parte de Salsas vivia na “sombra do comboio”. “A CP dava trabalho a muita gente e depois que saiu de cá, fecharam muitos estabelecimentos comerciais e Salsas perdeu muito movimento”, lamenta o antigo revisor.

Inúmeras entidades e personalidades conhecidas passavam pela região, viajando num vagão de luxo

Agostinho Castanheira recorda-se que, pelos carris de Salsas, passaram muitos políticos e entidades religiosas, viajando, sempre, num vagão extremamente sumptuoso e utilizado, exclusivamente, por personalidades ilustres. “Era totalmente revestido a veludo vermelho e era extraordinariamente luxuoso”, sublinhou o responsável.
Este equipamento ficava estacionado no capital de distrito até que voltasse a ser usado por outra pessoa conhecida e poderosa. No entanto, lamenta, “não sei o que aconteceu a esse vagão. Acho que desapareceu”.
O antigo revisor recorda o dia em que o ex – Presidente da República, Mário Soares, visitou a região. “Foi nesta época do ano e lembro-me que as pessoas chegavam, aos pares, para lhe oferecer castanhas”, referiu o responsável.
Agostinho Castanheira contou que de Lisboa para cima percorreu todos os trajectos. E, de todas, “a linha mais importante é a do Norte, com mais movimentos e passageiros”.