Ter, 03/10/2006 - 17:52
O tema “Interior e Fronteira (o caso de Bragança): Dever e Haver”, abordado pelo vice-presidente da CMVM, Amadeu Ferreira, no âmbito do 13º Conselho Aberto da CGD,
foi uma verdadeira aula sobre o atraso secular que tem perseguido a região transmontana. “Como zona de Interior, Bragança viu passarem-lhe ao lado as várias revoluções industriais, apesar da manufactura de seda que aqui se chegou a implantar, dizimada pela Inquisição que a exauriu de forças com que pudesse resistir ao mercado”, recordou o orador.
Mas, as palavras de Amadeu Ferreira que mais tocaram o coração transmontano remetem-nos para o Estado Novo, quando as barragens chegaram ao Douro, incluindo o seu troço internacional. “Quantas vezes vimos os cabos de alta tensão passarem-nos por cima da cabeça, estando nós a ler à luz da candeia”. Esta frase diz tudo e revela o desprezo com que o Estado tem tratado uma região obrigada a procurar melhores oportunidades noutras zonas do País e em paragens mais longínquas do estrangeiro.
Hoje, a electricidade já chegou a quase todos os lares transmontanos, mas as assimetrias ainda estão bem à vista. Tanto assim é que poucos serão os distritos onde as ligações entre os diversos concelhos sejam tão dificultadas pelos sucessivos adiamentos na concretização do Plano Rodoviário Nacional. E, como se isso não bastasse, Bragança é o único distrito do País que não possui um único quilómetro de auto-estrada, situação que coloca tempos acrescidos nas deslocações aos principais centros de decisão.
Razão tem Amadeu Ferreira que, ao longo da sua conferência, encarregou-se de mostrar que “as contas estão erradas”. “Não deixa de ser irónico verificar que, se olharmos as auto-estradas nacionais e espanholas que nos passam perto, a zona de Bragança aparece como uma ilha, como se tivessem andado a evitar passar por aqui”, salientou o orador, fazendo lembrar a luz da candeia sob os telhados atravessados pelos cabos de alta tensão.