Qui, 29/06/2006 - 10:49
É o tipo de construção habitacional: prédios perfilados que se apertam, aglomerados de betão, quais caixotes onde as pessoas entram e saem pontualmente a horas certas para os mesmos afazeres, comprimindo o sonho e retalhando o céu em nesgas que as janelas dos prédios permitem. São as amarras da tecnologia que condicionam, individualizam, escravizam e dificultam o relacionamento, mutilando a comunicação e a espontaneidade e a ternura duma família e dos amigos. São as crianças que crescem com o medo dos carros que lhes atropelam a liberdade de brincar. É a insegurança dos jovens e da sociedade em geral para quem as solicitações são sobejas.
No campo ainda se pode olhar o céu, as estrelas, imaginar a forma das nuvens, sentir o cheiro da terra molhada nos dias de chuva ou a liberdade do sol a nascer atrás de uma encosta, a rodear a nossa casa, para ir desaparecer atrás do monte oposto. Ainda se tem a noção da importância das estações do ano, das fases da lua para os trabalhos agrícolas. As manhãs são plenas de vozes, de passos que se dirigem para as hortas e as noites são calmas, apenas cortadas pelo cantar dos grilos ou do ladrar dos cães. Ninguém dorme na rua, não se passa fome, porque todos ajudam todos.
No campo há a alegria de passar pelo mato, colher pinhas, sorver a longos haustos o ar puro e vivificante; há locais, árvores e rochas que contam estórias.
Mas, nem todos podemos desfrutar do espaço aberto e azul do campo já que tudo se centraliza cada vez mais nas cidades cinzentas e quase doentes do litoral. Os médicos, professores, engenheiros, … vêm quase à força para o interior já que as oportunidades de trabalho e condições são mais escassas.
Assim, tanto o campo como a cidade têm vantagens e desvantagens que, por vezes, se pagam por um preço bem alto.
Ultimamente, as pessoas utilizam o turismo rural para, nas suas férias, despoluírem a mente, o espírito e o corpo do ambiente agressivo, hostil, apressado e escravizante da efémera racionalidade urbana.
Ana Catarina