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Palpitações

Qua, 15/02/2006 - 10:36


Cara Drª. Liliana Em primeiro lugar gostaria de lhe dar os parabéns pela forma como tem aconselhado as pessoas que lhe escrevem. Penso que tem sabido dar uma resposta amiga e sensata aos variados casos, e daí eu ter decidido, também, expor-lhe o meu.

Então aqui vai: Tenho 37 anos e sou professora a exercer numa escola do distrito de Bragança, embora seja natural do distrito de Vila Real. Sou solteira e durante 3 anos partilhei a minha casa com uma pessoa que pensava ser o homem da minha vida. Enganei-me e o último ano de união de facto foi um verdadeiro inferno, com muita desconfiança de parte a parte e discussões quase diárias. Fartei-me da falta de amor, carinho, atenção e bom senso da parte dele, ao ponto de ter ido cada um para seu lado há pouco mais de um ano. Sofri (e às vezes ainda sofro) muito com a separação porque, apesar das más recordações serem muitas, é difícil esquecer os momentos bons que vivi ao lado desse homem.
Na fase pior em que estivemos juntos sentia uma vontade enorme de desabafar, de chorar e de tentar compreender porque é que ele me fazia sofrer tanto. Nessas alturas de angústia era no ombro amigo de um homem que encontrava o “muro” das minhas lamentações. Nos últimos meses anteriores à separação perdi a conta às vezes em que recorri a esse amigo para lhe contar todos os meus problemas e obter o conforto e a segurança que não encontrava no homem que vivia comigo. Em nenhum momento me recusou ajuda ou uma palavra amiga e, após a separação, continuamos sempre a encontramo-nos, a falar abertamente de quase tudo e a partilhar as nossas alegrias e tristezas. Ele é professor como eu e temos tantas coisas em comum que não dá para resumir neste papel de carta.
Nesta altura, a Drª. Liliana já deve ter percebido que me apaixonei por este homem, que conheço suficientemente para saber que é aquilo que eu procuro, mas ainda não encontrei, ou talvez nunca venha a encontrar.
Acontece que ele é casado e tem uma mulher e duas filhas lindíssimas que são tudo para ele. Quando nos encontramos só os dois, a maneira com que ele me fala da família deixa transparecer uma relação tão sólida e tão cheia de confiança, que nada parece ser capaz de a quebrar, nem sequer abalar.
É por isso que continuo a esconder dele este sentimento que me faz sofrer a cada dia que passa. À noite, quando regresso à solidão da minha casa, sofro por saber que ele está nos braços dela, sofro por não lhe poder telefonar, por não poder falar com ele e choro por ter de continuar a esconder o que sinto por ele.
Muitas vezes dou comigo a digitar o seu número no telemóvel, mas falta-me a coragem para lhe ligar ou para lhe mandar uma mensagem a marcar um simples encontro de amigos.
Sinto que não tenho o direito de gerar desconfianças no seio deste casal, de complicar a vida a quem tanto me ajudou e ajuda, mas acredite que não vou conseguir conter esta paixão por muito mais tempo.
Os ciúmes não me deixam pensar em mais nada e não viverei bem comigo própria se não lhe disser o quanto o amo. Estou neste dilema há demasiado tempo e espero que me ajude a encontrar o meu caminho nesta encruzilhada.

D.G.

Cara leitora,

Os seres humanos nem sempre estão preparados para lidar com os recursos existenciais, sobretudo quando advêm de sentimentos amorosos. Daí ser extremamente complicado para a leitora conseguir resolver esta situação.
O coração apaixonado tem tendência a bloquear o raciocínio e leva a um afastamento da realidade. A leitora deslumbrou-se com o “ombro amigo” que estava sempre disposto a ajudá-la, encontrou nessa pessoa e na sua vida o conforto e segurança que desejava ter encontrado na relação anterior. Nessa fase estava fragilizada e sedenta de uma nova oportunidade de ser feliz e é natural que se tenha apaixonado por este homem. Mas será que o que sente é realmente amor? Se tivesse aparecido outro homem para ser o seu apoio será que não se apaixonava por ele?
A leitora tem de considerar que este amigo não é um homem solteiro, como no seu caso, e mantém um relacionamento, do qual já resultou duas crianças e, pelo que diz, é uma relação sólida e com bastante confiança mútua.
Tendo em conta este cenário, será que a leitora se sente capaz de abalar esta união e afastar este homem das filhas? No caso de decidir expor os seus sentimentos, que garantias tem que ele queira mudar de vida, já que demonstra ter uma relação tão sólida? E será que continuaria a ser seu amigo? E se realmente ficasse consigo, conseguiria viver o dia-a-dia com o peso da infelicidade de três pessoas, que pelo que afirma são “tudo para ele”? São todas estas questões exaustivas que a leitora terá de ponderar antes de optar.
A decepção pode ser evitada (no caso dele querer permanecer ao lado da mulher), a partir do momento que tenha expectativas mais conducentes com a realidade.
Procure conhecer-se bem e encontrar uma pessoa que a faça realmente feliz, mas de uma forma menos complicada.
A leitora tem 37 anos e está no momento de construir a sua vida de realização. E, geralmente, o envolvimento com pessoas comprometidas é uma perda de tempo. Pense bem!