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A liberdade não tem preço!

Ter, 14/02/2006 - 17:55


Aqui há uns anos o director deste jornal sofreu uma agressão porque entendeu publicar aquilo que tinha interesse público e, por isso mesmo arriscou, apesar do antagonismo dos zelotas e pretensos “purificadores” dos desvarios políticos.

O ataque foi à falsa-fé tanto ao gosto dos cobardes e seus émulos, mas mesmo que assim não fosse, não se pode justificar, nem é justificável debaixo nenhum princípio, ao invés, tem de ser condenado por todas as razões e todos os princípios. Na altura, escrevi um artigo a solidarizar-me com João Campos, mal o conhecia, e ainda hoje estou para saber as razões porque o mesmo não foi publicado. Trago em pano de fundo este exemplo à colação por causa das caricaturas de Maomé. O caso é sobejamente conhecido, um jornal imprudente, concebeu, estupidamente, publicar umas caricaturas do Profeta. Passados meses, os fundamentalistas árabes entenderam fazer descer a turba à rua de modo a através de actos violentos e ameaças sangrentas protestarem contra o acto do jornal da Dinamarca. Acto contínuo muitos governantes titubearam, deixaram os governantes dinamarqueses sem apoio e, um ou outro claudicaram completamente ante os primeiros sopros do protesto, assim ao estilo de dobrar a cerviz e beijar os pés de Freitas do Amaral. Pode-se questionar a atitude do jornal de Copenhaga, pode-se estar em desacordo total e pleno, pode-se atentar na repulsão dos muçulmanos por verem retratado Maomé, mas no Ocidente vivemos em liberdade e, quando ela é agredida os queixosos têm os tribunais à sua disposição. Andámos séculos e séculos a apanhar pancada, a ser torturados, presos, exilados e às vezes a acabar no patíbulo por amor à tolerância, ao direito a contrariarmos a ordem estabelecida, a opor-nos à “razão” estabelecida e, ousadia das ousadias, a nos desbocarmos em blasfémias e toda a sorte de negações. O velho Erasmo de Roterdão, o descrente Françóis Rabelais e Montesquieu são ilustres representantes dos muitos milhares e milhares de homens e mulheres que ao longo dos séculos lutaram de modo a nos deixarem em descendência a liberdade e, fundamentalmente o seu uso, a começar na possibilidade de expressarmos sem peias de nenhuma espécie o nosso pensamento. Os do Islão quando estão em maioria não se dignam respeitar as minorias, para eles só existe uma doutrina e uma fé, sendo-lhe absolutamente indiferentes as crenças dos outros. Os do Islão pararam no tempo, por volta do século XV, denunciando todos os dias a sua rançosa inveja contra o progresso ocidental. Os adeptos do politicamente correcto tentam sempre escamotear a teodiceia política dos governos árabes, a essência virulenta do seu modo de agir em relação aos adversários, além de preferirem esquecer a maneira como eles tratam as mulheres, pois falar na mutilação genital ou imposição da burka é descer à terra e encontrar uma absurda realidade. Os do Islão pretendem levar-nos a renunciar aos nossos valores expressos na tríade – liberdade, igualdade e fraternidade, obrigar-nos a entrarmos no “inferno” da auto-censura, da repressão e revelação das nossas ideias, do medo e das trevas. Os governos exibem a costumeira hipocrisia, pensando sempre na sua permanência no poder, sem esquecer o petróleo. Os governos capazes de beijarem a pata do cavalo do Rei de Marrocos, o cavalo em causa quando sai à rua traz os cascos envoltos em ricos panos, tentam tapar o sol com a peneira – os muçulmanos só ficarão satisfeitos quando nos silenciarem. Pessoalmente não gostei das caricaturas, mas gosto dos desenhos de José Vilhena possuo livros e leio muitos autores considerados iconoclastas. Pessoalmente não teria mandado imprimir as ditas caricaturas, mas não tenho o direito de impedir outros de o fazerem. Só os órgãos judiciais o podem fazer e, após terem assegurado direito de defesa ao acusado. Já andei pelo mundo árabe, cumpri rigorosamente os costumes e usos locais, até porque sei quão desprotegido é um europeu em terras embrutecidas e inóspitas em matéria de democracia. Mas no Ocidente, todos quantos amamos a liberdade temos de cerrar fileiras, o termo é esse, de modo a os ventos do ódio ao progresso e aos direitos individuais serem sustidos. Muitos podem não conceder importância a esta guerra latente, mas todos quantos não andam por cá por andarem, sabem que a liberdade não tem preço. Milhões e milhões de mortos o comprovam. Infelizmente!