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Palpitações

Ter, 17/01/2006 - 16:44


Ao cuidado da Drª Liliana Rocha

Há algum tempo que penso em escrever-lhe mas tem-me faltado a coragem. Em nossa casa recebemos o Nordeste e logo que comecei a ler os seus conselhos decidi enviar-lhe uma carta mas tive sempre algum medo.
Escrevo-lhe porque estou desesperada e não tenho ninguém com quem desabafar porque não posso falar disto a ninguém.
Sou casada há quase 11 anos e sinto-me bem ao lado do meu marido e dos meus filhos. Casei aos 20 anos e ele foi sempre muito meigo e atencioso comigo e com os nossos dois filhos, uma menina de 5 e um menino de 4 anos. Faz tudo para que nada nos falte e até tenho vergonha do que estou a sentir, porque ele não merece passar por isto, apesar de estar muitas vezes ausente por causa do trabalho.
Há quase dois anos arranjei um emprego, convencida de que poderia contribuir para as contas lá da casa, porque apesar dele trabalhar por conta própria a vida está cada vez mais cara e eu tomei essa decisão.
Hoje quase que me arrependo, porque com o emprego a minha vida mudou e muito.
Antes de trabalhar estava sempre por casa a cuidar dos meus filhos e convivia com muito pouca gente, à excepção de 2 ou 3 amigas.
No trabalho comecei a conhecer muita gente e até o meu marido começou a notar a diferença na minha maneira de vestir mais cuidada e na minha maneira de ser, mais simpática e mais comunicativa.
À quase um ano conheci uma pessoa, cliente da empresa onde trabalho, que desde logo começou a mexer comigo. No início pensei que fosse uma simples atracção, mas depressa percebi que o que sentia, e sinto cada vez mais, é muito mais do que isso.
Tentei sempre manter um relacionamento profissional, recusava sempre um convite para ir tomar um simples café ou para lanchar, mas cada dia que passava era cada vez mais difícil esconder os meus sentimentos.
Penso que não é necessário estar a contar mais pormenores, porque sinto vergonha do que estou a fazer. Apaixonei-me por este homem, envolvi-me com ele e não sei como pôr fim a esta relação.
O meu marido é muito fiel ao nosso casamento e não merece que eu o engane. Continuo a gostar dele, mas sei que nunca me perdoará e até já pensei em deixar o emprego para não complicar mais as coisas. Pode parecer uma loucura, mas não o consigo fazer, porque não me apetece voltar a ser a mulher que era antes de começar a trabalhar. Sinto-me útil, sinto que as pessoas se interessam por mim e deixar o trabalho seria deixar de me encontrar com este homem. Deito-me a pensar nele, acordo a pensar nele e não consigo tirá-lo da cabeça nem durante uma hora. Tento dedicar-me o mais possível ao meu marido e aos meus filhos, convencer-me a mim própria que a estabilidade do meu casamento e da minha família é o mais importante de tudo, mas não consigo controlar esta paixão. Se achar por bem responder a esta minha carta, agradeço desde já, porque estou completamente dividida.

Obrigada

A.L.
Bragança
Cara leitora,

A paixão é um arrebatamento que cega os apaixonados e que requer arte para manter viva a chama que a rotina e as atribulações do dia-a-dia se esforçam por apagar.
Existem certos estados psicológicos prévios que podem levar algumas atracções a transformarem-se em paixão, como é o caso “dos estados de aborrecimento, falta de realização e falta de satisfação” com o dia-a-dia, num terreno que depois impulsiona ao aparecimento de fantasias de idealização de uma relação e de alguém. Creio que é isto que está a acontecer consigo.
No entanto, o entusiasmo da paixão não dura muito, nem pode durar. É extremamente desgastante física e psicologicamente insustentável se se prolongasse indefinidamente.
Enquanto a temperatura está alta, as diferenças entre os apaixonados são perfeitamente aceitáveis. Mas quando a temperatura começa a esfriar, as diferenças, outrora esquecidas, começam a aparecer, e com elas as primeiras desilusões. E não é a pessoa que temos na nossa frente que muda, nós é que mudamos quando a tempestade da paixão passa.
Mas enquanto estão neste estado de paixão, neste espaço virtual, a leitora poderá realmente achar que “é muito mais do que isso”, mas depois, quando chega a altura de passar ao “real”, pode acontecer o que acontece todos os dias “ se calhar não era bem isto que eu estava à espera”.
A leitora encontra-se entre um “espaço virtual” arriscado, que desconhece, com quem se envolveu, e o “espaço real”, que a leitora conhece e sabe com o que pode contar.
É natural que com 11 anos de casamento, de vivência conjunta, a magia inicial já se tenha esgotado. Neste sentido, o que a aconselho a fazer é introduzir algo novo na vossa relação para optimizá-la, pois pelo que refere, a leitora ainda gosta do seu marido, então mais uma prova que ainda vale a pena investir neste casamento.
Para além disto, a leitora não é simplesmente uma mulher casada, mas sim casada com 2 filhos menores, e terá de tentar, acima de tudo, assegurar o seu bem-estar.
Relativamente à questão do trabalho, as relações nascem das formas mais variadas, estivesse a trabalhar nesse local ou noutro.
Esta é realmente uma situação que requer calma e bom senso, pois a sua decisão irá condicionar as pessoas envolventes. Boa Sorte!