Ter, 10/01/2006 - 14:46
Jornal NORDESTE (JN) - Que balanço faz destes escassos meses no cargo de Presidente da Câmara Municipal de Vinhais?
Américo Pereira (AP) - Esta situação para mim não é nova. Fui vereador durante 16 anos, 4 dos quais na oposição, 8 como vereador em exercício e 4 sem qualquer pelouro. De maneira que não tenho motivos para me assustar ao assumir estas responsabilidades.
Francamente sinto-me muito bem: estou a fazer o que gosto, tenho esperança no futuro e estamos muito motivados. Sinceramente, ainda é muito cedo, mas acredito que não me vou arrepender. Está a ser uma experiência muito positiva, muito embora, no início, encontremos sempre algumas dificuldades.
JN - Em termos financeiros e de quadro de pessoal qual é o estado em que se encontra a Autarquia?
AP - Digamos que em termos financeiros a situação é normal e, apesar do mês de Dezembro, por ser o final do ano, ter dado um arrombo nas finanças da Câmara, pois é a altura em que se fazem mais pagamentos, a tesouraria está folgadíssima, o que convém, pois lá para o final do ano aparecem as candidaturas ao IV Quadro Comunitário e é preciso estar “bem calçado” para termos garantida a nossa comparticipação nos projectos com financiamento comunitário.
Nesta matéria a ordem é para fazer uma gestão regrada de poupanças, bem planeada e em investimentos bem direccionados. Nada de megalomanias ou esbanjamentos.
JN - E quanto ao quadro de pessoal?
AP - O quadro de pessoal e o organigrama da Câmara foram sendo feitos de acordo com as opções do anterior executivo. Cada pessoa tem a sua maneira de organizar e nós temos a nossa. Genericamente, os funcionários são competentes experientes e responsáveis. Parece-me, no entanto, que faltava uma organização consistente e alguma motivação e rumo em certo pessoal.
JN - E hoje a casa está arrumada? Quem entra aqui no edifício nota que houve alterações. Os funcionários receberam bem o novo executivo?
AP - Claro que receberam. Quem é competente, responsável e trabalhador está sempre a favor das alterações que conduzem a melhor ambiente de trabalho, a mais motivação, a uma organização moderna funcional e desburocratizada e fundamentalmente responsável. Por incrível que pareça, imediatamente a seguir à tomada de posse muitos funcionários foram ter comigo a pedir-me exactamente algumas alterações no funcionamento dos serviços. As alterações certas não precisam de ser impostas, são reclamadas.
Num convívio que tivemos no Natal tive oportunidade de lhes dizer que há uma frase importante e que todos devemos reter: “é preciso apolitizar os funcionários e desfuncionalizar os políticos”. Se todos seguirmos esta regra, tudo funciona muito bem.
JN - O senhor presidente tem uma equipa política muito jovem. Porquê?
AP - Antes de mais porque foram eleitos. Modéstia à parte, temos uma equipa excelente. Estou muito satisfeito com a equipa que me acompanha porque o sucesso de qualquer líder, entendo eu, está exactamente no facto de se saber rodear de gente habilitada, competente, com disponibilidade e motivação. São todos residentes em Vinhais e isso é também uma mais valia. Hoje, a aplicação dos dinheiros públicos nos investimentos certos é uma questão muito séria. Um trabalho autárquico com pés, cabeça e um rumo bem definido, exige equipas politicas fortes e adequadas e a este respeito, a juventude é sempre uma mais valia, muito embora pense que os trintões e quarentões, como é o nosso caso, já não sejamos assim tão jovens.
JN - Armando Vara assumiu o seu lugar de Presidente da Assembleia?
AP - Claro, nem se justificaria que assim não fosse. Está a presidir à Assembleia Municipal e fá-lo, como é natural, com grande categoria.
JN - O que espera da sua colaboração?
AP- Espero em primeiro lugar que seja, como tenho a certeza que vai ser, um bom Presidente da Assembleia para que este órgão funcione bem e espero também que nos ajude na concretização de alguns projectos.
JN - Já deu algum contributo significativo para o desenvolvimento do concelho?
AP - Bem, posso dizer-lhe que sim, mas não me pergunte em quê. Brevemente vai saber.
JN - Quais os principais projectos que pretende lançar imediatamente na vila, já que é notório que Vinhais precisa de forte intervenção?
AP - É exactamente porque a vila precisa de embelezamento, precisa de um toque de urbanismo e de alguns equipamentos, que estamos a pensar grandes e decisivas obras na sede do concelho.
A título meramente exemplificativo, posso-lhe dizer que, até ao próximo Verão, arrancaremos com as obras do Parque Verde de Desporto e Lazer, com a remodelação do campo de futebol, com o arranjo urbanístico da actual praça, requalificando toda aquela área que dará lugar à “praça do município”. Começaremos as obras no edifício das casas novas e estamos, neste momento, a trabalhar noutros projectos, nomeadamente de remodelação do jardim público e de toda a rua principal, desde o Jardim ao Centro de Saúde.
Garanto-lhe que, durante este mandato, a vila de Vinhais será uma vila completamente diferente.
JN - Mas dizem que este ano é muito difícil para as autarquias. Onde vai buscar o dinheiro?
AP - Quando os investimentos são bons e necessários o dinheiro aparece. Sempre assim foi e vai continuar a ser. Mas não é só na vila, também é nas aldeias. As aldeias serão bem contempladas. Estamos neste momento a ultimar um pacote de 5 ou 6 projectos de saneamento, rede de água, etar(s) e arruamentos, obras que vão arrancar até ao Verão e que vão custar mais de 400 mil contos.
Continuamos a dar todo o apoio às Juntas de Freguesia no arranjo de caminhos, igrejas, cemitérios, etc.
JN - E quanto ao fumeiro? Novidades para a feira?
AP - O fumeiro continuará a ter uma atenção especial por parte da autarquia. Vinhais é e continuará a ser a “Capital do Fumeiro” e este pensamento está bem patente no grande evento que é a Feira do Fumeiro e que este ano tem uma excelente novidade: a apresentação pública dos nossos derivados do porco devidamente certificados.
JN - Que se passa com a empresa Ecolignum, cuja primeira pedra foi lançada, ainda, pelo anterior Presidente?
AP - É nossa intenção que este projecto continue e há, de facto, um compasso de espera porque, apesar do financiamento estar garantido, os terrenos onde a fábrica será construída não estavam legalizados, muito menos em nome da Ecolignum, ao passo que o projecto de construção civil e industrial não estava aprovado.
JN - E agora, já está aprovado?
AP - Estamos a trabalhar nesse sentido e a legalizar os terrenos, mas ainda vai demorar algum tempo.
JN - Voltando à organização dos serviços. Que razões levaram o Dr. Duarte Lopes a abandonar a Chefia de Divisão de Desenvolvimento Rural?
AP - Não faço ideia. Respeito as opções das pessoas e dentro da legalidade cada um é livre de fazer o que entender. A vida continua …
JN - Vai continuar a reivindicar para Vinhais mais serviços do Parque de Montesinho?
AP - Claro, nem podia ser de outra forma. Aliás a repartição dos serviços do Parque pelo concelho de Vinhais e Bragança é perfeitamente normal e natural, se quisermos um Parque funcional e que cumpra a sua verdadeira função. Esta parece-me uma questão completamente pacífica.
JN - Qual é a sua bandeira em termos de acessibilidades?
AP - Vinhais, nesta matéria, tem duas preocupações: uma é a ligação de Vinhais ao IP4 via Macedo de Cavaleiros e outra a ligação a Mirandela via Rebordelo.
Quanto à primeira o processo teve o seu início com a notória visita do Engº Guterres a Bragança há cerca de 8 ou 9 anos atrás, processo que parou por motivos que agora não interessa, mas que agora estamos a reiniciar. O que nos interessa é uma boa estrada, com bom traçado, larga e rápida independentemente de ser um IP ou IC ou qualquer outra designação. O nome pouco interessa, o que interessa é que seja uma boa estrada, e cujo processo com a Secretaria de Estado respectiva está bem encaminhado.
Quanto à ligação a Mirandela, soube agora que Mirandela-Bouça tem o melhoramento de estrada a concurso. Estamos a fazer os possíveis para tentar conseguir que ao mesmo tempo o lanço Rebordelo – Bouça fosse também arranjado. Tenho a esperança que tal seja conseguido.
Depois destas duas ligações, penso que o problema das acessibilidades, em parte, fica resolvido.
JN - Venceu as eleições por cerca de 400 votos, tendo conseguido, no entanto, maioria na Assembleia e na Câmara Municipal. Apesar da campanha eleitoral ter sido muito dura, já deitou para trás das costas o que aconteceu em período eleitoral?
AP - Graças a Deus e à educação que recebi consigo rapidamente esquecer as coisas más e as ofensas que nos atingem. No entanto está a ser muito difícil esquecer os ataques pessoais que me fizeram alguns dos meus opositores durante a campanha, porque atingem a vida privada e familiar e eram completamente falsos e injustos. Mas como sempre, esse tipo de campanha virou-se contra eles.
Sempre disse durante a campanha que não responderia a ataques pessoais e que quem utiliza a maledicência e a intriga acaba sempre por sair prejudicado. Esta é uma das regras fundamentais da política e quem não souber isto é melhor ficar em casa quietinho e caladinho.
Os eleitores sabem muito bem o que deve e não deve ser discutido nas campanhas eleitorais.
Consigo lidar e entendo-me muito bem com toda a gente e também com os que foram meus opositores. Aliás, disse-lhes que conto com eles, com a colaboração que possam dar para trabalharmos pelo concelho de Vinhais.
Afinal o nosso lema da campanha era “todos juntos por Vinhais” porque sei que as divisões não levam a nada.
JN - O candidato do PSD, que foi derrotado, deu-lhe os parabéns pela sua vitória?
AP - Não. Infelizmente não. Teve mau perder… Mas não faz mal. É a vida …
JN - Última questão: por parte dos autarcas do distrito de Bragança, há uma verdadeira política em defesa desta região?
AP - Garantidamente não há. Nunca nos sentámos à mesa para debater os verdadeiros problemas vistos num quadro de conjunto.
O que acontece é que cada um tenta sacar do Governo as migalhas que puder para fazer isto e aquilo e alguns perdem horas de sono a pensar como vão lixar o colega do concelho vizinho para lhe retirar esta ou aquela obra.
Espero que esta mentalidade e atitude seja brevemente alterada para benefício de todos e da região no seu conjunto.
Por outro lado, se queremos solidariedade e ajuda do litoral para com o interior, também no interior devemos ser solidários e ajudar os concelhos que mais precisam e eu nunca vi nem ouvi os autarcas dos maiores concelhos a defenderem e ajudarem os mais desfavorecidos.
Espero e tenho esperança que isto mude.