O vírus também agrava as diferenças

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Seg, 27/04/2020 - 22:26


O apregoado lado democrático da pandemia em que vivemos, suportado na convicção de que todos estão sujeitos à contaminação, independentemente da condição económica ou do estatuto social, não é afirmação que se deva reclamar para o universo das verdades definitivas.
Pode-se observar que quem habita as regiões do chamado interior do país não alcança garantias de que a sua especificidade seja tida em conta de forma equilibrada com outras regiões do país.
Desde logo, as estruturas de apoio médico, do diagnóstico à intervenção para debelar a doença, não são equiparáveis, nem sequer semelhantes, o que poderá resultar em perdas irreparáveis, fazendo subir as taxas da desgraça, acentuando a angústia e o desespero, que não são os melhores apoios num tempo em que resistir é fundamental para persistir.
Sabe-se que tem havido dificuldades com testes, equipamentos de protecção e até com a rede de contactos em todo o país. Estranhamente compraram-se luvas, máscaras e ventiladores à China, que chegam com atrasos, prejudicando intervenções atempadas e eficazes. Temos que reconhecer a displicência dos países ditos desenvolvidos, que cometeram erro crasso, em nome de uma economia mais voltada para lucros chorudos do que para dar resposta às necessidades reais ou esperáveis das populações.
Sendo uma questão nacional, os efeitos são mais agudos no interior, porque aqui as dificuldades se agravam com a concentração de grupos de risco, as distâncias, as dificuldades de deslocação e a penúria de equipamentos. Vai-se sabendo de casos em que os testes são diferidos no tempo, pondo em risco um número significativo de cidadãos ou obrigando-os a manter-se em confinamento para além do razoável, depois de estarem sujeitos a tratamento domiciliário, o que não contribui para que encarem o futuro com mais tranquilidade e contribuam para a desejada retoma das actividades económicas e a normalização possível.
Por outro lado, as soluções que foram encontradas para a área da educação, resultantes de um empenho notável dos professores, não estão a ser eficazes para largas centenas de crianças e jovens do distrito de Bragança. De facto, um pouco por todos os municípios, os responsáveis estão a tentar encontrar meios para que as tais centenas de alunos não cheguem ao próximo ano ainda mais prejudicados do que os seus “iguais” dos grandes centros, mas os resultados ameaçam não ser satisfatórios.
Muitos não dispõem dos meios tecnológicos básicos, mas mesmo que os tivessem estariam confrontados com as deficiências de cobertura das redes de comunicações móveis e do acesso a esse instrumento que é a internet, sem o qual não haverá ensino à distância que se veja.
Toda a gente sabia disso, governo, autarquias, mas principalmente os operadores, que se foram furtando, assim ou assado, às responsabilidades que lhe impõe o serviço público que deveriam prestar. Era habitual ouvir que o território estava polvilhado de zonas brancas, mas a tendência foi sempre deixar andar, até ver onde as coisas iriam parar.
Agora, apesar do voluntarismo de gente de bem, a injustiça da discriminação está à vista de todos.

Teófilo Vaz