Morte nossa de cada dia

PUB.

Ter, 19/03/2019 - 10:08


Sempre foram abundantes os sinais de que a vida é um sopro, inefável ilusão, desejo mais que conquista.

Alguns viandantes da história deixaram reflexões perturbantes, que evitamos a todo o custo, porque não queremos acreditar que tudo se reduz a um equívoco, resultante dessa emanação de reacções e interacções bioquímicas a que chamamos inteligência, mãe da ética, da moral, do amor, do ódio, da culpa ou da misericórdia, todos a dar uma mãozinha para nos levar até aos abismos do absurdo.

Outros houve que descortinaram no horizonte promessas de paraíso eterno, consumação de um destino empolgante, apesar do convívio com outra face da moeda, um inferno, também infinito e irreversível.

Assim foi fazendo caminho a humanidade, aos baldões, entre esperanças e desesperos, sempre mais dada à angústia do que à serenidade, esperando um fim para este mundo, que abra as portas de uma realidade insuspeitada e surpreendente.

Seja como for, não conhecemos outra vida possível. Por isso vamos vivendo e morrendo, com os céus imperturbáveis, as águas correndo para os mares, o sol de volta todos os dias e primaveras a florir para fazer esquecer o dedo gelado do inverno, apontado a todos e a cada um.

No último fim-de-semana a gadanha deixou rasto de terror do outro lado do mundo, na Nova Zelândia, mas também não poupou a região, quando um acidente de avião ceifou duas vidas e interrompeu um projecto entusiástico de dinamização do aeroclube da capital de distrito.

Ontem, notícias da Holanda deram conta de mais um episódio sanguinário, a juntar à verdadeira orgia selvática de sábado em Paris, celebrada pela enésima vez, o que pode conduzir a França ao caos, com tendência para se espalhar Europa fora, até desembocar numa tragédia monumental, verdadeiro império da morte.

O caso ocorrido na Nova Zelândia, protagonizado por um ocidental, provavelmente de raiz cristã, não é muito diferente das dezenas de acontecimentos que marcaram as duas décadas deste século XXI, da responsabilidade de islamitas radicais, enquadrados ou não por organizações assumidamente terroristas, que inauguraram o espectáculo global da morte, com requintes de malvadez, de que foi exemplo maior a decapitação de dezenas de pessoas numa praia, cena mórbida, registada e lançada nas redes sociais.

Ninguém esquecerá os atentados de Nova Iorque, Madrid, Londres, Paris, Barcelona, Bruxelas, Estocolmo e tantos outros, além do perpetrado em Utrecht. Mas, também nos lembraremos do norueguês frio, que planeou e realizou o abate de dezenas de jovens, dos americanos que vão matando nas escolas e nos centros comerciais, ao sabor de caprichos e frustrações, assim como dos dois brasileiros que, na semana passada, chegaram a essa ribalta diabólica.

Pelo que já se sabe, o assassino de ontem, na Holanda, será turco, provavelmente islâmico. O presidente daquele país não se coibira de utilizar os acontecimentos dos antípodas na sua campanha eleitoral interna, no Domingo, acicatando o sentido de vingança. O futuro pode ser uma guerra sem fim em nome do nada.

 

Teófilo Vaz