Informação pimba

PUB.

Ter, 30/08/2016 - 13:51


No declínio do verão instala-se uma agonia perturbante, uma quase vontade de vomitar, perante o que é um espectáculo de mediocridade, mesmo  de pimbalhice no que respeita à generalidade dos serviços de informação dos órgãos de comunicação social.
Mesmo os que se reivindicam do espectro das referências, deixam-se levar pelo facilitismo, primo irmão da preguiça, mas também aparentado com a incompetência.
Generalizou-se um modo de entender a estiagem como uma espécie de longa sesta da vida, com o mundo deixado às cigarras, aos ralos e aos grilos, como se fosse possível impor à realidade uma grelha de comodismo que impedisse a complexidade da relação social e garantisse um tempo de paradisíaco esquecimento dos problemas que borbulham perpetuamente nas comunidades.
Parece que o papel reservado à comunicação social, fundamental nos sistemas democráticos é, afinal, entendido de forma distorcida e, se faltam os actores da política imediata, os jornais, as rádios e as televisões não sabem o que fazer, como se a informação, a reflexão, a problematização, o debate não pudessem existir para além de qualquer ribalta e os cidadãos não tivessem o direito e o dever de participar da polis todos os dias, com calor ou frio, ventos ou calmarias, canículas ou geadas.
A comunicação, especialmente na vertente informação, é um dos pilares fundamentais do edifício democrático. Por isso, é confrangedor assistir à degradação da informação até ao nível do ridículo, em nome de uma luta por audiências que é um processo de auto humilhação, confundível com a indignidade, que pactua com o que de mais vulgar caracteriza a cidanania estatística, que vai sacudindo do capote da consciência as pingas incómodas.
Pode-se argumentar que, com folestrias, se chama o povo às pantalhas, numa expressão da vida democrática. Claro que sim, nada melhor do que dar importância às futilidades, fazer delas questões essenciais, para garantir que os interesses inconfessados possam fazer o seu caminho sem perturbações de maior.
É inadmissível que se gastem semanas a fio a alimentar autênticas novelas dos incêndios, das movimentações no mercado do futebol, com directos inenarráveis a toda a hora, dando honras de antena a centenas de emplastros que vomitam baboseiras, num afã de descida heróica ao inferno da boçalidade.
Quando o quotidiano não atinge tal baixeza, lá vêm as reportagens, se assim lhes podemos chamar, com câmaras e microfones de 4 ou 5 cadeias de televisão, praia fora, a recolher declarações sobre o fim das férias, a temperatura da água, os farnéis e o stress do retorno à rotina.
Se fosse só uma televisão a enveredar por este tipo de informação canhestra, vá lá… a vida é assim. Agora, com todas as estações amontoadas, a replicar depoimentos sobre um não assunto, parece que estamos num caminho de retrocesso, com todos os efeitos perniciosos para um modelo que se pretende corresponda ao conceito de democracia.
A função da comunicação social não é ser veículo para tudo, mesmo do que não se eleva da insignificância, contribuindo para cimentar a ilusão de que vivemos mergulhados, como nunca, na informação, quando, realmente, o que fazemos é chafurdar na inutilidade.
As questões fundamentais não adormecem à espera que cheguem os tempos refrescantes de outono. As férias não têm que ser pintadas com as cores da alienação e da inconsciência. Até porque são um direito conquistado com muita coragem e sacrifício.
Apesar deste ambiente de alegre prostração, nós, por cá, tentámos manter-nos despertos para o que, mesmo no preguiceiro verão, continuou a ser decisivo, para o bem e para o mal da nossa região.

Por Teófilo Vaz