A amizade é um sentimento nobre que deve ser cultivada com empenho, desprendimento e lealdade. Cultiva-se, alimentando-a ao logo da vida e estacando-a, quando velha, como recomenda Miguel Torga. Os gestos de solidariedade e lealdade para com os amigos são sempre apreciados. É igualmente reconfortante estar rodeado de verdadeiros amigos sobretudo quando nos são exigidos esforços e trabalhos acrescidos em tarefas coletivas como acontece com os vários protagonistas políticos que ascendem ao poder.
Conforto que, contudo, não devia ser suficiente, quando outros requisitos são exigidos e, por isso mesmo, acaba por acarretar, por vezes, um preço elevado. Foi assim com Pedro Passos Coelho quando se sentiu obrigado a prestar o devido tributo à amizade que de há muito o ligava a Miguel Relvas. Igualmente António Costa, de forma mais célere e mais intensa (em menos de um ano são já dois os casos de amargos de boca) se viu envolvido em polémica para justificar o preito que a amizade de dois colaboradores lhe colocou a “pagamento”. No início de Abril viu-se forçado a celebrar contrato de prestação de serviços com Diogo Lacerda Machado para que este continuasse a poder, legal e formalmente, representá-lo em várias reuniões onde já ia a mando e por conta do Primeiro-Ministro. Estava a iniciar as férias e teve de se fazer valer do lugar que ocupa para segurar outro dos amigos chegados, Fernando Rocha Andrade, depois da forma descuidada e aligeirada como aceitou ser patrocinado pela Galp para ir ver jogar a seleção portuguesa de futebol. Amizade que será, seguramente, apreciada não só pelo próprio mas igualmente pelos seus colegas Jão Vasconcelos e Jorge Oliveira a quem idêntica e imprudente conduta poderia tê-los excluído da equipa governamental, a avaliar pelo ocorrido com João Soares.
Deve alguém ser beneficiado, num lugar de serviço público, só por ser amigo de quem detem a liderança do poder? Não. Mas também não deve ser prejudicado. Desde que seja igualmente competente, parece-me óbvia a opção por um amigo de confiança. Até porque a responsabiidade final, sobretudo política, nestes casos, passa quase integralmente para o chefe do Governo já que uma eventual queda arrastará consigo todo o elenco governativo. Os amigos caem na altura em que quem os promoveu abandone as funções que exerce.
Caso diferente seria se a única “qualidade” do escolhido fosse exatamente a amizade que o liga ao chefe. Se isso ocorrer numa autarquia então a questão é séria porque uma eventual renúncia ou impedimento do cabeça de lista não só não arrasta igual sorte para quem lhe segue mas, pelo contrário, coloca no topo da hierarquia quem estiver em segundo lugar na lista ganhadora.