Rafael Nascimento (GDB): “Merecemos um final feliz”

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Ter, 23/03/2021 - 17:03


A duas jornadas do final do Campeonato de Portugal, jogadores e equipa técnica do GDB mantêm-se agarrados à esperança na manutenção, apesar de terem consciência que a tarefa é complicadíssima, pois a equipa não depende apenas de si própria. Rafael Nascimento, técnico do GDB, não atira a toalha e destaca o trabalho realizado por toda a estrutura para manter o clube de portas abertas. 

 

Como é que o grupo está a gerir esta pequena esperança quando a missão parece quase impossível?

A situação é essa e não há como fugir. Estamos nela por culpa própria, principalmente minha. O grupo está agarrado a essa esperança e a um acreditar muito grande. É uma situação delicada porque não dependemos só de nós, mas estamos muito focados no nosso trabalho e na parte que controlamos. Vamos cumprir a nossa parte e acreditar. Merecemos um final feliz.

Olhando para o último jogo com o Merelinense o GDB esteve a vencer por duas bolas. Como se acaba o jogo com uma derrota por 3-2? A equipa sentiu o golo sofrido mesmo a terminar a primeira metade? Tem faltado alguma maturidade em momentos que é preciso saber pautar o jogo?

Sim, em Merelim acho que fizemos uma primeira parte extremamente competente. Estivemos em vantagem por dois golos e sofremos um golo, caricato, aos 44 minutos que nos deixou inquietos, pela situação que vivemos. Quando nadamos com tubarões a mínima gota sangue é fatal. Faltou controlo emocional, deixamo-nos levar pelas emoções e fomos pouco racionais, o que é aceitável pela nossa inexperiência. Queríamos muito ganhar o jogo, trabalhámos imenso para estar preparados e não soubemos controlar as nossas emoções. Cometemos alguns erros na segunda parte, fruto da intranquilidade, e com equipas do nível do Merelinense isso é fatal. Mas aprendemos e crescemos, na semana seguinte, em Vila Verde, fizemos um jogo de um nível altíssimo com e sem bola. Infelizmente, e muito injustamente, só conseguimos trazer um ponto. Mas, o futebol é isto.

O mesmo se passou com o Maria da Fonte? Um jogo em que conseguiram inverter o resultado e estar em vantagem, mas depois terminou também com um 3-2.

São situações distintas, quando fomos à Póvoa de Lanhoso tínhamos uma semana e dois dias de trabalho. Fizemos um bom jogo, mas acabámos por cometer erros diferentes. Erros posicionais e comportamentais, fruto, naturalmente, do pouco tempo de trabalho. Sofremos um golo numa má leitura e comportamento errado em situação de bola aberta, não controlamos corretamente a profundidade. Falhámos um posicionamento num canto defensivo que deu golo. O outro golo foi uma infelicidade, um autogolo numa situação de cruzamento, mas também é antecedente de um comportamento errado no controlo de cruzamento.

Há outros jogos em que o GDB esteve muito perto da vitória, casos das partidas com o Vidago e Pedras Salgadas que terminaram empatadas. O que faltou nesses jogos para segurar os três pontos?

Situações diferentes. Com o Vidago, em circunstâncias muito difíceis, num campo extremamente pequeno e instável, fizemos um excelente jogo. Sofremos o golo do empate aos 82 minutos, depois de três ou quatro ressaltos, numa bola bombeada para a área através de um livre do meio campo. Com o Pedras, fizemos uma má primeira parte. Na segunda parte o jogo mudou completamente, fomos muito competentes e empurrámos o Pedras para trás. Fizemos o 1-0 aos 77´e sofremos o 1-1 aos 88´ de livre lateral, ao segundo ressalto, mas com um erro de posicionamento da nossa parte. Não foi só com o Pedras e o Vidago, Vimioso (em casa), Vianense (em casa) e com o Vilaverdense (fora) estivemos muito perto da vitória. Em Montalegre, enquanto foi possível jogar, pelo estado do terreno e condições climatéricas, fomos melhores. A derrota com o Braga B (em casa) foi muito injusta. Quando não se ganha, falta competência e a culpa é minha. Tivemos uma série de empates que tínhamos de ter convertido em vitórias, mas não há nada a fazer, só olhar em frente.

Desde que assumiste o comando técnico do Bragança, levas já 12 jogos, mudou a forma de jogar da equipa. O GDB passou a jogar com uma linha de três homens na defesa, por exemplo. Foi de alguma forma um risco? O que essa alteração trouxe de positivo à equipa?

Passou a jogar com uma linha de cinco sem bola, mas não em todas as fases, e com uma construção a três com nuances. É um sistema como outro qualquer, o importante são os comportamentos que, naturalmente, têm um ponto de partida. Foi um conjunto de coisas, mas essencialmente: contexto competitivo e caraterísticas do plantel. Quando entrámos num clube, naturalmente, trazemos uma ideia diferente, não melhor nem pior, mas diferente porque é nossa. Quando chegámos temos de ligar a nossa ideia ao contexto. Foi isso que fizemos, analisamos e identificamos aquilo que, no nosso entender, estava a falhar. Implementamos as nossas ideias, os nossos comportamentos, desde o primeiro dia. No nosso entender, são essas ideias, que já evoluíram, que podem ajudar o clube a cumprir o objetivo e tirar o melhor destes jogadores que lhe dão um cunho pessoal.

Olhando para o plantel e comparando com outros do campeonato pode-se dizer que faltaram reforços mais experientes que dessem outras garantias?

Não sei. O clube fez uma aposta forte em jovens jogadores com grande potencial, mas que são inexperientes e que estão a ser obrigados a crescer muito rápido. Temos um lateral sub-18 titular. Há sempre quatro ou cinco jogadores sub-20 no 11. Essas coisas pagam-se, precisam de tempo, mas ou apostámos ou não apostámos. As pessoas não se podem esquecer do que aconteceu. Em Julho o clube esteve a um passo de fechar portas, esta época foi planeada sobre o joelho e em contexto de pandemia. A isto tudo temos de juntar aquilo que já sabemos, estamos no top 10 das equipas com orçamento mais baixo do Campeonato de Portugal. Mas nos já sabemos tudo isto, temos de compensar com trabalho. Não me agarro a nada disto. Para mim, não há desculpas. Eu sou um treinador que se adapta à realidade e dou graças aquilo que tenho. O nosso trabalho é rentabilizar e temos de lutar com aquilo que temos. Eu agarro-me aquilo que consigo ter e não fujo das minhas responsabilidades. 

Que mensagem queres deixar ao grupo e aos adeptos nesta recta final do campeonato?

Tenho um orgulho enorme nestes jogadores. Sou mesmo feliz com eles. Uma palavra especial para a minha equipa técnica, tem sido fantástica, dois jovens com uma qualidade enorme. Sem eles e os jogadores não era nada. Aos adeptos dizer que gostava de os ter por perto, que nos têm feito muita falta, e que vamos lutar sempre pelo nosso clube. Acreditem em nós, no nosso trabalho, temos sido incansáveis na luta pelos objetivos do clube. Merecemos mesmo um final feliz.