Mirandelense já deixou marca no Académico de Viseu

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Ter, 07/04/2020 - 14:38


Rui Borges já inscreveu o seu nome na história do Académico de Viseu. O técnico, de 38 anos, natural de Mirandela, treina o emblema da 2ª Liga há pouco mais de um ano e conseguiu o feito inédito de levar os “Viriatos” às meias-finais da Taça de Portugal, onde foi eliminado pelo F.C. Porto. Em entrevista ao Nordeste, Borges falou da paragem dos campeonatos e de como é treinar um plantel à distância.

 

- Rui como é que estás a lidar com esta paragem e este isolamento?

Em primeiro lugar o mais importante é estarmos bem, felizmente eu e a minha família estamos bem. Não é fácil porque houve uma mudança total das nossas rotinas. Entrámos numa clausura, digamos, mas temos que nos adaptar. Faz parte da vida sabermos adaptar-nos. Temos que criar algumas dinâmicas individuais e até colectivas para conseguirmos ultrapassar isto.

 

- Como é que tem sido orientar um plantel à distância? Há todo um trabalho que teve que ser adaptado …

É um trabalho que tem que assentar no compromisso dos próprios atletas, na capacidade deles se superarem nesta fase e acreditar naquilo que eles fazem dentro do que podemos orientar. Tem que haver uma confiança mútua. Têm um trabalho todo feito pela equipa técnica, mais orientado pelo Fernando Morato, o nosso preparador físico, que eles têm levado à risca. Só assim podemos amenizar um pouco este isolamento que não nos deixa treinar e jogar como devíamos. Temo-nos adaptado e os jogadores estão completamente focados.

 

- Quando regressar o campeonato, pois é isso que é pretendido pela Liga, vai ser necessário uma mini pré-época?

Sem dúvida. Quando voltar a competição, o mais rápido possível, a mini pré-época que toda a gente fala vai ser muito importante. Mas isso não vai fazer com que os planteis voltem ao que eram. Será muito difícil. A regressar o campeonato há a possibilidade de haver jogos de três em três dias, será um desgaste muito grande para os jogadores. Por mais que se consiga adaptar os atletas ao treino nesta fase e por mais que tenhamos essa mini pré-época será um risco enorme para os jogadores por causa das lesões. Por mais que se adaptem não é a mesma coisa. A vontade é que o campeonato seja finalizado, pois também é importante para o futebol em si.

 

“Fico feliz por, em pouco tempo, de alguma forma ficar ligado à história do clube”

 

-Olhando para o teu percurso do Académico de Viseu esta época o ponto alto foi o facto de levares a equipa às meias-finais da Taça de Portugal e de teres defrontado o FC Porto. O Sérgio Conceição, técnico do FC Porto, deu-te um forte abraço e esteve algum tempo à conversa contigo. O que te disse?

Nada de especial. Para mim foi um gosto estar ali e desfrutar daquele momento. Foi o momento mais marcante como treinador e, talvez, como jogador. Foi um momento bastante marcante para mim estar a defrontar um grande treinador que já foi campeão e um antigo jogador que foi uma referência para mim no passado. Acima de tudo deu-me os parabéns pois deixámos uma boa imagem, demonstrámos a nossa qualidade como equipa, não nos deixamos inferiorizar em momento algum, apesar de jogarmos com uma equipa com muita qualidade a nível europeu e mundial.

 

- Acabaste por entrar para a história do clube pois foi a primeira vez que o Académico de Viseu chegou às meias-finais da Taça de Portugal. Isso fez acrescer a tua responsabilidade?

A responsabilidade de um treinador é diária. Não acho que acresceu. Fico feliz por, em pouco tempo, de alguma forma ficar ligado à história do clube. Fico feliz não só por mim e equipa técnica mas pelos jogadores que saem valorizados. Para mim é um orgulho enorme. Sou um treinador jovem, estou a começar, tenho ainda muito a aprender. Há um ano e dois meses que estou no clube. Chegámos numa fase complicada do clube e conseguimos com o nosso trabalho alcançar o objectivo do clube e sair valorizados.

 

- O oitavo lugar na 2ª Liga aquando desta paragem corresponde às expectativas iniciais?

Estamos a fazer um campeonato bastante tranquilo. Em termos pessoais e de grupo fica algum sentimento amargo, pois penso que podíamos estar melhor. Já disse em outras entrevistas que se há coisa que me marcou e marca como treinador é ter equipas fortes em casa, já era assim no S.C. Mirandela e foi assim na época passada quando chegámos ao Viseu. Esta época, estamos a fugir um pouco a isso. Fora estamos a fazer um campeonato acima da média, somos das três melhores equipas a nível pontual, mas somos das piores em casa. Estamos a fazer um campeonato tranquilo, mas fica um amargo porque temos a noção que podíamos ser um pouco melhores em casa. Era merecido pelo compromisso de todos.

 

- É certo que tens contrato com o Viseu até 2021, mas todo este mediatismo por casa da Taça de Portugal e todo o trabalho que estás a realizar faz-te sonhar com algo mais? Já houve alguma abordagem?

Já houve a possibilidade de aumentar o vínculo ao Viseu, mas acabámos por ainda não o concretizar. Isto deixa-me feliz por ver que saímos valorizados e que o nosso trabalho tem dado frutos. Não sou obcecado, mas eu e a restante equipa técnica temos a ambição de chegar à 1ª Liga, mas tudo a seu tempo até porque também há a questão dos cursos de treinadores.