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Prático

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As férias permitem-nos momentaneamente fazer algumas arrumações que vinham sendo adiadas ao longo dos meses, por vezes dos anos. E reconhecemos todos que os objectos têm uma relação com o tempo que nos derrota completamente. 

Compactam-no, reduzem-no, como se estivessem apressados em desaparecer. Fizemos todos, por diversas vezes, a experiência aquando duma avaria, que um produto comprado há pouco tempo (três ou quatro anos) estava bom era para deitar ao lixo. Ouvimos todos a fórmula recorrente segundo a qual isso “ ficar-lhe-á mais barato comprar um aparelho novo” em vez de substituir uma peça defeituosa, da qual, além do mais, não estamos certos de que ainda se fabrique nas fábricas da Europa Central ou da Coreia de donde eram importadas no longínquo passado de 2008 ou 2009… “ Eu, diz o empregado, no seu lugar, sei bem o que faria.”

Este desgosto comporta um nome correspondendo à vontade presumida dos fabricantes: a “obsolescência programada”. É no momento do fabrico, com efeito, que se pode melhor organizar a deficiência dos objectos, prever o que, neles, se tornará o “elo fraco” que justificará a sua substituição. Um ferro de passar cujo fio, tendo-se desfiado, se torna perigoso? “ Temos muita pena- nem olha para si - não pode ser reparado, porque esse tipo de fios já nem existe.”

Um frigorífico que, de repente, faz um barulho de malhadeira? “ Ganha mais em substitui-lo por um modelo recente, particularmente silencioso. Além disso o motor do seu já nem se encontra no mercado!” Um aspirador que entregou a alma desde a mais tenra idade (três anos)? “ Lamentamos mas a peça já não se encontra em lado nenhum. Posso mostrar-lhe modelos bem mais recentes.”

 Poder-se-iam multiplicar os exemplos destas desventuras exasperantes que vivem os consumidores, em todos os domínios, dos electrodomésticos aos automóveis. Até aos telemóveis - quantos tem espalhados pelas gavetas cada casa?- os “iFones”, a Apple não os repara quando estes já têm dois ou três anos!

Esbanjamento, lixeiras de equipamentos praticamente novos e não tendo ainda atingido o que, num ser humano, se chamaria a idade da razão.

Nostalgia, dirão alguns, dos tempos em que certos amadores podiam fazer funcionar um “404” ou um “Datsun 1200” durante dezenas de anos com a ajuda dum amigo mecânico ou da oficina mais próxima. Do tempo em que qualquer motor ou máquina podia aguentar um quarto de século. Furor de sonhar à quantidade de minerais, de terras raras, de vidro, de petróleo, de trabalho que foi necessário consagrar para produzir todas estas obsolescências programadas. Raiva perante a má-fé dos responsáveis deste desperdício que, com grande lata de “bons comunicadores”, explicam que não, nem pensar, que tudo na sua loja é feito para durar. Que voltem os tempos das reparações e dos reparadores artistas e geniais.

Adriano Valadar