Morangos Silvestres

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Ao que li, na Terra Quente realizou-se um concurso de apuramento dos morangos mais doces daquele terrunho, sendo eleitos os de São Pedro Velho, uma aldeia que conheci há um taleigo de anos, pois ali vivia uma minha tia-avó a qual recebeu o apodo de a Tia Vaidosa, por isso mesmo, tendo saído de Lagarelhos, a fim de casar com um homem chamado Adão. Casaram, nasceram filhos, na altura os morangos seriam agres, daí terem emigrado para o Brasil em demanda de melhor vida pois, há 66 anos no Nordeste sobravam abrolhos, faltavam restolhos pejados de castanhas, nas vinhas bagos de uvas destinadas a alegrarem os palatos das e dos rebuscadores, passado o período das vindimas. Agora, realizam-se concursos a propósito de tudo e a propósito de nada, ao que relatam as gazetas televisivas há concursos eivados de maroscas e, por isso os descuidados gastam dias e fazenda nos tribunais, de vez em quando, são obrigados a levarem pijama, escova e pasta para lavarem os dentes na cela prisional. O júri, cujo palato reconheceu a essência deliciosa dos morangos daquela terra, cujo orago é o mesmo de Lagarelhos só que não tem o acrescento de Velho. O Santo guardião das portas do Céu em Portugal, até é titular do epíteto dos Sarracenos (esperemos que os polícias do politicamente correcto não interfiram), pois o da Cadeira, significa repousar ao finalizar longas pescarias de almas em vias de caírem nas profundezas do Inferno, embora os doutos do Vaticano tenham efectuado um acto administrativo eliminando- -o, porém basta pensarmos nas atrocidades cometidas na guerra (em todas as guerras) na Ucrânia. O extraordinário filme Morangos Silvestres ,do famoso realizador Ingmar Bergam, tem como personagem central um professor em viagem de combóio a fim de ser laureado, no decurso da deslocação a Consciência vai-o atormentando reavivando-lhe o passado trazendo ao de cima a dualidade contrastante, de um lado a ética e a moral, do outro a egoísmo, a ortodoxia, o cinismo expresso nas falsas virtudes envernizadas ao sabor das conjecturas interesseiras mesmo quando não aparentam. Os morangos explicam lapidarmente o triângulo alimentar do Homem primitivo antes da domesticação do fogo – cru, fermentado e podre – assim o teorizou e escreveu o sábio Claude Lévi-Strauss. Especialistas no degustar os frutos vermelhos de bico em forma de teto feminino de seivosos tamanhos, não tendo lido os conselhos do hortelão/ jardineiro de Luís XIV, formulam múltiplos enlaces mas áreas da confeitaria e pastelaria integrando os morangos nas suas criações, nada a criticar pois no referente a gostos nada é dogma, o sofisticado elitista Petrónio o provou, os curiosos leiam Satíricon, no entanto, champanhe acompanha bem melhor, porém manda o decoro político os membros da nomenclatura optarem pelos espumantes nacionais. Noblesse oblige! Agora temos morangos todo o ano, perdeu-se a sazonalidade, para nossa desventura.

Armando Fernandes