Se é verdade que os últimos anos têm sido prósperos em crises, corrupção, escândalos e desvios à legalidade que quotidianamente preenchem as páginas dos periódicos nivelando por baixo os índices de optimismo dos portugueses que, em surdina, praguejam a sua desdita, não vá algum elemento da hierarquia delactar. É certo, também, que a troika trouxe a Portugal um sentimento de portugalidade pouco usual.
Factores outros, também, contribuíram para que se enchesse o peito de ar e mostrássemos ao mundo que afinal ser português não é uma arte, como afirmava Teixeira de Pascoaes, mas algo que nos é intrínseco. Não confundamos com a raça tão apregoada e comemorada em tempos de Salazar, no dez de Junho, cujo feriado não mereceu decapitação no anterior governo.
Portugal, campeão europeu de futebol. Ronaldo, melhor jogador do mundo. Mourinho um dos melhores do planeta. Durão Barroso, na União Europeia e, agora, António Guterres, Secretário Geral das Nações Unidas, na unanimidade dos votantes, depois de ter sido Alto Comissário para os Refugiados, vale a pena dizer que pedimos meças a quem nos julgar.
Portugal, país à beira-mar plantado, segundo Tomás Ribeiro, produtor de escritores, de artistas, de Literatura vasta e apetecida, de prémio Nobel que não se esquece, com Saramago a ditar novas regras à escrita, de muitos e variados poetas e prosadores a mostrar à saciedade que a arte da escrita é semente que germina há oito séculos, suscitando olhares curiosos àqueles que do livro e da leitura constroem prazer no mundo da ficção ou da realidade. Camões, Pessoa, Eça e Lobo Antunes, são alguns que à língua portuguesa emprestam o seu talento e se afirmam como baluartes de um país de história ímpar e de fronteiras centenárias.
Língua utilizada por cerca de 261 milhões de falantes, ele é a quinta mais falada a nível global e são muitos os países que reclamam a sua presença. Nas Universidades de Xangai, Oxford e Bogotá, a Literatura Portuguesa não passa ao lado dos interesses dos estudiosos. É possível ler na imprensa que, actualmente, em trinta universidades chinesas o ensino do Português é disciplina requerida pelos estudiosos. E se a Literatura se conformava com o estudo de Camões e de Pessoa, a Cátedra Saramago e a poesia trovadoresca são objecto de estudo para todos os que a Portugal dedicam as suas vontades.
País pequeno, dos mais pequenos da Europa, apresenta na exiguidade da sua superfície, uma diversidade geográfica e gastronómica, digna de adjectivação.
De clima ameno, população simpática e apetecível, é razão de ser para um turismo em crescendo. Este é o nosso Portugal muito amado, solidário quanto baste, respondendo à chamada desde os tempos gloriosos de Aristides de Sousa Mendes, da invasão da Hungria, do êxodo das gentes austríacas, até à recepção dos refugiados, sem esquecer a integração dos ex-repatriados do Ultramar. Portugal atento ao que vai pelo mundo, está na Grécia a salvar vidas e a dizer sim aos apelos, tal como se desloca para o Chile cooperando nos desastres naturais provocadores de miséria e indigência.
Neste Portugal, onde o entendimento dos políticos, dificilmente se constrói de palavras, o quotidiano vai evoluindo a muito custo. A paz edifica-se a pulso, viver, porém, não é fácil. A felicidade ganha-se a palmo. As lágrimas, também, nos ajudam a ser melhores. Aprende-se com o insucesso e a falta.
E 2017 abriu com a partida de um homem coberto de encómios. Não agradou a todos. Era lá possível! Mas não nos coibimos de ler algures “Mário Soares foi o civil mais memorável do painel que a história do seu tempo de português conseguiu”.
Pelo sonho vamos, terá afirmado Sebastião da Gama. Ousemos fazer nossa a frase e metamo-nos a caminho, desbravando uns séculos da nossa história, quantas vezes feita de sacrifícios, talento e génio por homens que com a inteligência se mediram ao lado de outros mais possantes e poderosos.
Debruçados a um mar que nem sempre era atractivo, fomos chegando mais além levados por um espírito de cruzada que marcou, afinal, o alargamento do território na Ibéria, confirmado no reinado de D. Afonso III, finalmente rei de Portugal e dos Algarves.
E o mar, além, deixou de ser uma miragem.
Esta é a Pátria que tento conquistar, conquistando-me todos os dias…
Não foi adoptado o Novo Acordo Ortográfico.