Simples, mas profundo, o 25 de Abril marcou a transição global da sociedade portuguesa, em termos políticos, sociais e mesmo culturais, implementando-lhe um cunho próprio, que somente pecou pela pressa que lhe estava associada. Era a pressa de vencer, de chegar ao fim ou de começar. Para trás ficava um regime ultrapassado, gasto pelo tempo, indesejável pelas pessoas e pela Europa. Depauperado pelas suas próprias premissas, o sistema caía às mãos de meia dúzia de capitães que, serenamente fizeram a mudança e escolheram os novos governantes. Não era necessário possuir qualquer arte de ictiomancia para adivinhar o que se iria seguir. Anisómera, a revolução para uns, significava nem mais um soldado para o Ultramar, para outros o fim da ditadura, para outros o caminho para a liberdade e democracia. E em vez de o galo cantar três vezes, cantou o Paulo de Carvalho, dizendo adeus. E depois cantaram outros. Uns de galo, outros nem por isso! Crucificados foram alguns, outros ficaram para mais tarde. Alguns nem crucificados foram! Uns morreram... de verdade. Outros... nem morreram. Alguns... ressuscitaram, ou... quase! As anisometrias existentes eram por demais evidentes. Valeu a aquiescência do povo que, com a sua anódina paciência, soube esperar. A sociedade portuguesa vivia momentos ímpares da sua História. Libertava-se de algumas amarras, velhas de anos e de propósitos e caminhava rapidamente para uma plataforma libertadora, ânsia de décadas, desejos de sempre. O ónus de cada revolução está no seu âmago e também no seu objectivo primário. E só o seu êxito justifica o seu aparecimento. Só a consecução de todos os planos, justificará a sua existência. Foi mais uma revolução pacífica nesta história de homens e do mundo. Algumas são tão semelhantes, que conseguimos encontrar pontos comuns e semelhanças tão fortes que nos interrogamos se não acontecerão por acaso, por vontade dos homens ou por obra divina!? Efetivamente, Abril será sempre um marco e continuamos a celebrá-lo quarenta e oito anos depois, mas o tempo vai esmorecendo o fervor de outros tempos tal como esmoreceu o 1º. de Dezembro ou o 5 de Outubro. As revoluções têm um tempo de vida e embora a memória que delas resulta permaneça, acabam por ser apenas uma memória, boa ou má, mas somente memória. A intensidade com que se vivem esmorece e ainda bem já que o tempo também traz coisas novas, momentos renovadores, novas ideias, novas políticas, novas visões da vida e do mundo. Hoje referimos historicamente revoluções que transformaram as sociedades, os países, as políticas e cada país terá as suas claramente e Portugal tem as suas. Não as pode esquecer como é evidente, mas que as adapte aos novos modos de pensar e de agir que modernize os seus contextos. A juventude de hoje, que não viveu esses momentos de transformação, não os entenderá se não forem devidamente contextualizados e comparados ao que hoje eles conseguem perceber. Mas hoje entendem a guerra porque a vivem, ela é atual e lhes causa transtorno. Por isso a detestam e criticam quem a promove. Da sua boca saem vociferações de ódio e raiva contra os causadores de tanta morte e destruição. Hoje a guerra está bem presente e entra pelas suas casas sem pedir autorização. Não é uma revolução qualquer que logo acaba e se remete a um só país ou local. É um acontecimento bem maior. Do tamanho do mundo e talvez assim eles entendam melhor as guerras mundiais anteriores. Os meses não têm interesse. Seja Abril, ou Fevereiro ou até mesmo Dezembro ou Maio. As revoluções cabem em todos eles e as guerras de igual modo. Mas no dia 1º. de Maio, dia da Mãe, elas decerto choram os filhos perdidos em qualquer desses meses, por razões que desconhecem tanto elas como eles. O que fica tem sempre um sabor amargo.