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Lapardeiros

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O saudoso Dr. Carlos Silva, pedagogo de alto quilate na área das matemáticas, exímio explicador das arestas dessa disciplina, costumava apelidar de lapardeiros, truões capazes de venderem a mãe, receberem o dinheiro da transacção e não entregarem a mercadoria. O desditado Carlos morreu prematuramente vítima de maligna maleita, bem merecia e merece placa evocativa do seu fecundo magistério, os que não sabem informem-se, caso voltasse como Lázaro ressuscitou, ficaria com as entranhas revolvidas ante o bando de lapardeiros deslavados, pela ausência de um pingo de vergonha na face, ao cometerem toda a sorte de facécias no que tange a golpes no baú estatal seja de âmbito central, seja no escalão regional e/ou municipal. Se o Padre Lagosta da besta esfolada pudesse vergastar os lapardeiros actuais diria o óbvio: é um fartar vilanagem. Não falta engenho a todos quantos «esmifram» vorazes que nem tubarões, um cardume de sardinhas, os folhelhos dos orçamentos de pneus carecas derrapantes, como aconteceu nas obras do Hospital Militar ou na triste balada dos TAP, sem esquecer os nepotismos de múltiplos contornos e oportunismos. Andam lapardeiros por todos os cantos dos povoados portugueses, há uns anos ainda não procediam com o desplante dos carteiristas a operarem nos eléctricos, nestes dias de hoje sacam mais-valias a torto e a direito, a bastonária dos enfermeiros gosta de sedas, carteiras e perfumes de marcas acessíveis a herdeiras ricas ao exemplo de Paula Amorim de enorme apetite financeiro. A crise está a esmagar proventos dos de menor expressão, incluindo a classe média, a criminalidade ataca a propriedade alheia. A murmuração contra este estado de coisas principia a rugir, a continuarmos nesta senda, as instituições sofrem os efeitos perversos da degradação da espinha dorsal da Nação mais antiga da Europa que, como assinalou Arnold Toynbee pode fenecer. A PSP, prendeu para averiguações dezenas de energúmenos os quais servindo-se das claques do futebol (2) praticaram vários crimes, tendo sido apreendida uma metralhadora, trazendo à minha memória os gangues em que os chefes são glorificados, seja na Máfia, seja na América Latina. Há largos anos, o sábio Manuel Antunes deu à estampa um livro sobre o futuro de Portugal, o sociólogo transmontano António Barreto, aponta a crise no universo da justiça, como o maior problema para esse futuro provocar sossego e felicidade para os cidadãos. Bem sei, nem o sábio, nem o sociólogo entram nas bibliotecas (se as possuírem) dos ministros, ajudantes de ministros, assessores, magistrados e outros decisores, sem esquecer os deputados, muitos deles a alardearem escrófulas risíveis na sua formação educacional e cívica. Se nos dermos ao trabalho de analisar sem vesguice o panorama de convulsão permanente no sector da educação, encontramos as alavancas causadoras de muitos dos malefícios estruturantes, do caruncho silencioso da apatia das populações, fora da roda do pé na bola, coscuvilhice das redes sociais e convivialidades contra o tédio que nos assola. Vejam os indicadores culturais, por exemplo na leitura a esmagadora maioria é por razões de utilidade passageira. Caros leitores: façam o favor de desculpar uma singela catilinária de quem tenta perceber a causa das coisas.

Armando Fernandes